sábado, 25 de setembro de 2010

ALGUEM DO ALEM

O Doutor
- Doutor, que honra!
- O prazer é meu, meu caro...
- Como andam as coisas aí em cima?
- Muito trabalho, muito trabalho...
- O que o senhor faz exatamente?
- Cuido de vítimas do holocausto palestino.
- Irônico...
- Até que não. Aqui na colônia Nosso Lar não tem essa coisa de etnia, ideologia, somos todos irmãos, todos iguais.
- Deve ter sido bem difícil para o senhor encarar essa nova realidade, suponho...
- Claro, fui acostumado a exercer o poder sem limites. Realmente não foi fácil. Mas ainda tenho minhas recaídas, hehehe.
- O senhor tem passeado por aqui, na terra?
- É muito raro ter uma folga. Para dizer a verdade, só tive duas até hoje. Uma para visitar os meus filhos, numa reunião do comitê das Organizações e, mais recentemente para "inspirar" a Lili a convidar a Dilma para almoçar lá em casa.
- Ah, foi idéia sua? Foi, mas a Lili acha que foi dela, hehehe.
- Seus filhos não gostaram nada disso, sabia?
- Claro que eu sei. Na verdade, depois que parti, a coisa desandou com eles. Até reclamei para o Evandro outro dia, quando nos encontramos. Ele botou um rapaz lá que é um desastre! O sujeito não tem habilidade política, não sabe dialogar, é extremado, não acerta uma...
- Mas por que então o senhor não "inspira" seus filhos a se livrarem dele?
- Se eles não acreditam nos profetas que Nosso Senhor envia de tempos em tempos, vão acreditar numa alma penada, hehehe. E depois tem outra, espiritualidade não combina com poder econômico. Veja o Lula, por exemplo, é a reencarnação de Antonio Conselheiro...
- É mesmo? E a Dilma?
- A Dilma é a reencarnação da princesa Isabel. Ambos são gente vocacionada para lidar com os pobres, combater a fome e as desigualdades.
- E o Serra é a reencarnação de quem?
- Sobre ele não tenho autorização para falar.
- Não sei se o senhor sabe, mas a Corte fez muitos cortes de pessoal nos últimos tempos, nem sempre adotanto critérios considerados justos. Parece mais a Santa Inquisição.
- Sei de tudo e lamento profundamente. Sempre considerei os trabalhadores o motor do nosso negócio. Eles não têm visão de futuro e vão levar tudo à ruína. Estão destruindo um enorme patrimônio cultural da nação.
- Posso dizer que conversamos?
- Sim. Mas faça daquele jeito, se alguém pedir confirmação, negue. Aliás, não negue não, ninguém vai acreditar mesmo, hehehe.
- Adeus.
- Adeus

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