domingo, 24 de outubro de 2010

Lamentável a declaração da senadora Marina Silva de que não assume posição no segundo turno porque , nas suas palavras, “não acredita em voto de manada.”
Senadora, os eleitores, muito menos os seus, não são manada. Têm opinião própria. Mas quando se referenciam numa liderança, estabelecem com ela uma relação de confiança e troca.
Não me ocorreu que Marina pudesse considerar um “voto de manada” o crescimento de sua candidatura na reta final do primeiro turno. Se ela diz que a “onda verde” que fez crescer sua candidatura, como ela diz, “o voto democrático do cidadão que acreditou na sua plataforma, discurso, postura e trajetória”, deve achar que as pessoas a seguiram por serem livres para escolher, não porque sejam uma “manada”. Aliás, a propaganda de Marina foi recheada de declarações de voto de celebridades e pastores e nem por isso eles trataram os eleitores como “manada”. Ou trataram?
Portanto, embora tenha o direito de não declarar o voto, Marina não tem o direito de dizer que aqueles que recomendam o voto tratam o eleitor como manada.
Aliás, pessoas que, no mundo inteiro, se preocupam com a questão ecológica está muito mais associada a uma candidatura do campo popular que à velha direita que construiu um modelo mundial de devastação. Tanto que os líderes históriocos do movimento verde na Europa, manifestaram, em carta, seu que, em carta, declararam apoio a Dilma, como informa o Opera Mundi.
“A manutenção da esquerda no poder é a única possibilidade real de fazer avançar a causa ecológica no país”, diz a carta. “A vitória da direita representaria o triunfo do complexo agro-industrial e dos céticos em matéria de aquecimento global”, enfatiza o documento, ressaltando conquistas como o estatuto da floresta, “que começou a limitar a devastação na Amazônia e no Mato Grosso”, e a demarcação de terras indígenas, como Raposa Serra do Sol.
Os verdes europeus não se limitam apenas às questões ambientais, destacando também que no plano internacional, “os aspectos mais inovadores da política Sul-Sul de Lula (certamente pelo fato de seu apoio a Ahamdinejad), seriam condenados ao ostracismo com um realinhamento com os Estados Unidos”.
A carta dos verdes europeus faz um alerta sobre José Serra, a quem não consideram sequer um social democrata de centro. “Por trás dele, a direita brasileira vem mobilizando tudo o que há de pior em nossas sociedades: preconceitos sexistas, machistas e homofóbicos, junto com interesses econômicos os mais escusos e míopes. A direita sai do porão”, afirma a carta.
Os verdes elogiam Gilberto Gil, por conclamar o voto em Dilma “sem ambiguidade”, e manifestam compreensão pelo não posicionamento de Marina sob o argumento de que seria difícil um alinhamento imediato com quem ela entrou em conflito quando estava no governo. “Mas nossa experiência como força política e de oposição e governo na Europa nos permite afirmar a nossos companheiros brasileiros que, nas atuais circunstâncias do Brasil, a ancoragem na esquerda é a única possibilidade real de fazer avançar a causa ecológica.”
A carta é assinada por Dany Cohn Bendit (Alemanha), co-presidente do grupo de deputados do Partido Verde no Parlamento europeu; Monica Frassoni (Itália), co-presidente do Partido Verde europeu; Philippe Lamberts (Bélgica), co-presidente do Partido Verde europeu , e os franceses Dominique Voynet, senadora, prefeita da Cidade de Montreuil e ex-Ministra do Meio Ambiente; Yves Cochet, deputado nacional e também ex-MInistro do Meio Ambiente; Noël Mamère, deputado Nacional e prefeito de Bègles; José Bové, deputado europeu; Alain Lipietz, dirigente dos Verdes e ex-deputado europeu; Jérôme Gleizes, dirigente da comissão internacional dos Verdes, e Yann Moulier Boutang, co-diretor da Revista Multitudes (Paris).
Uma pena que Marina, a quem a história deu a oportunidade de ser a grande líder da causa ambiental no Brasil, preferindo a omissão pessoal. O líder, quando é mesmo líder de uma causa e não de um projeto pessoal, não se omite. Escolhe um campo e enfrenta as batalhas decisivas.

Nenhum comentário: