Por Carlos Chagas
Com a volta de Dilma Rousseff a Brasília, fenômeno singular começou a acontecer: trata-se da corrida a que se lançaram os ministros até seus gabinetes, vindos de onde estivessem, para a partir de hoje poderem receber eventuais convocações da presidente. Fora os bissextos que permaneceram na capital federal, dois ou três no máximo, os demais haviam tomado o rumo de seus estados ou de capitais onde o Carnaval ferveu. De repente, sem a tolerância de anos anteriores, quando esticavam a semana de folga até a próxima, suas Excelências entenderam por bem não facilitar. Chegaram ontem ou estão chegando hoje bem cedo, convictos de que mais do que fazer média com a chefe do governo, estão se precavendo contra possíveis estrilos por não se encontrarem em seus postos.
Convenhamos, as coisas mudaram muito. A leniente relação de outrora entre ministros e presidentes cedeu lugar a uma tensa expectativa de subordinação. A agenda de Dilma revela “despachos internos” a partir desta manhã, mas não se deve supô-los apenas circunscritos aos auxiliares com gabinete no palácio do Planalto. A referência abrange toda a Esplanada dos Ministérios.
Em resumo: a Madre Superiora chegou ao Convento e as Noviças precisam estar em suas celas...
MICHEL DEU A TÔNICA.
Em resumo: a Madre Superiora chegou ao Convento e as Noviças precisam estar em suas celas...
MICHEL DEU A TÔNICA.
Antes do Carnaval, de passagem pelo Congresso, Michel Temer surpreendeu os integrantes da comissão especial da Câmara encarregada de propor a reforma política. Disse que todos os esforços deveriam ser empreendidos, mas que se no final a tentativa fracassasse, ninguém deveria sentir-se culpado. Afinal, não decidir também é uma decisão.
O comentário do vice-presidente reflete a previsão de que tudo pode dar em nada, ao menos enquanto permanecerem as tendências conflitantes de PMDB e PT. Os companheiros exigem o voto na legenda, para deputado, ou seja, ninguém votaria mais no seu candidato personalizado, mas em listas feitas pelos partidos, ou melhor, por seus caciques. A eles ficaria também o controle dos recursos do financiamento público das campanhas.
Já o PMDB inclina-se por outra direção: rejeita o voto na legenda e pretende transformar cada estado da federação num distritão, quer dizer, seriam eleitos o candidatos que recebessem mais votos, vetadas as coligações e as transferências responsáveis pela eleição que tem teve menos votos.
Pelas aparências iniciais, o conflito parece insolúvel, explicando-se o porque do ceticismo de Michel Temer.
EMPOLGAÇÕES.
EMPOLGAÇÕES.
Na crônica política recente, poucos líderes empolgaram a opinião pública. Getúlio Vargas, cujo suicídio levou multidões às ruas, reflexo de suas leis de garantia do trabalho diante da reação das elites econômicas. Juscelino Kubitschek, delirantemente aplaudido ao deixar o poder, por conta da transformação desenvolvimentista efetuada durante seu mandato. Jânio Quadros, impulsionado por monumental histrionismo, excepcional oratória e apoiado pelas forças conservadoras infensas às conquistas sociais.
Leonel Brizola, ao levantar o Rio Grande e a nação inteira na batalha pela legalidade, o cumprimento da Constituição e a posse do vice-presidente João Goulart. Certamente Tancredo Neves, ao tornar-se a expressão da vitória nacional sobre a ditadura. E o Lula, popularíssimo por exprimir a chegada de um operário ao poder.
Sístoles e diástoles tem marcado o processo político. Seria um pouco injusto fulanizar os outros presidentes que ocuparam o governo, desde Getúlio Vargas, mas populares eles não foram, do general Eurico Dutra a Café Filho, de Nereu Ramos a João Goulart, aos generais-presidentes, José Sarney, Fernando Collor, Itamar Franco e Fernando Henrique.
A impressão é de que em seguida ao Lula, inscrito na primeira galeria acima referida, Dilma Rousseff terá poucas condições de empolgar a opinião pública. Mas poderá demonstrar qualidades iguais ou até superiores ao antecessor, na arte de administrar o país. Aguarde-se.
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