Marcos Coimbra é sociólogo, preside o Instituto Vox Populi e escreve para o Correio Braziliense.
Nestes tempos em que a reforma política está no centro das atenções, é bom considerar o que pensa a opinião pública. Não que as pessoas comuns reflitam com frequência ou tenham muita informação a respeito. Ainda assim, na democracia, é sempre necessário conhecer os sentimentos e percepções dos cidadãos. Afinal, são eles que pagam a conta.
O início dos trabalhos da comissão do Senado e a disposição da Câmara de criar outra em seu âmbito são sinais de que a reforma política deverá andar em ritmo veloz no Legislativo. O Executivo já deixou claro que tem interesse no seu rápido trâmite, até porque Dilma se comprometeu com ela durante a campanha eleitoral e em pronunciamentos recentes. Resta o Judiciário, que a defende há muito, até para se livrar das acusações de judicialização da política que volta e meia recebe.
Se os Três Poderes a desejam, se a hora é boa (pois a experiência recomenda tratar de coisas como essa quando começam o governo e a legislatura), só falta à reforma política contar com o apoio da sociedade. Que nunca o negou, pois faz tempo que a opinião pública e seus formadores se convenceram de sua conveniência.
Aprovar a ideia não quer dizer, no entanto, subscrever as diferentes propostas que circulam no meio político e na imprensa. O que significa que a reforma, nos termos em que está sendo concebida, deverá enfrentar dificuldades junto à população.
Já foram feitas, nos últimos anos, algumas pesquisas sobre o tema. Em geral, com resultados parecidos.
Em uma recente pesquisa da Vox Populi, a primeira pergunta foi sobre qual seria a reforma “mais prioritária” entre quatro: política, tributária, previdenciária e sindical. Em primeiro lugar, ficou a política, com 35% das respostas, seguida da previdenciária, com 33%. A tributária foi escolhida por 17% dos entrevistados e a sindical, por 4%. Os 11% restantes disseram não saber.
Quanto à reforma política, foi perguntado se o respondente a considerava “necessária e urgente”, “necessária, mas não urgente” ou “nem necessária, nem urgente”. Quase dois terços dos entrevistados, 64%, optaram pela primeira resposta, 16%, pela segunda e apenas 7% foram de opinião de que ela não era nem uma coisa, nem outra.
Ou seja, é grande e expressiva a maioria que considera que a reforma política é uma necessidade para o país e que ela deve ser feita logo. De todas as reformas, seria a mais importante, dividindo o posto com a reforma da previdência social.
As principais medidas atualmente em discussão são, no entanto, vistas negativamente ou com ceticismo. É claro que ainda falta informação à opinião pública para tomar posição sobre a maioria dos temas, mas o ponto de partida é desfavorável.
O item que a população mais reprovou na pesquisa foi aquele que mais simpatia tem no meio político: o financiamento público das campanhas. Perguntados sobre se eram a favor ou contra sua adoção, 62% dos entrevistados disseram reprovar a ideia, com 19% de aprovação e 19% de indecisão.
Outra vedete nas discussões políticas, o voto em lista fechada foi reprovado por 51% e aprovado por 27% dos ouvidos, com 22% de indecisão — a pesquisa forneceu a informação de que ele implicaria em votar em lista elaborada pelos partidos, e não nos candidatos individualmente.
A população tende a aprovar coisas que os políticos dizem defender, mas que, raramente, praticam. É o caso da fidelidade partidária, definida na pesquisa como a necessidade de o eleito “obedecer às decisões dos partidos na hora de votar” e “não poder mudar do partido (pelo qual se elegeu)”: 62% dos entrevistados concordaram com a ideia, contra 24% que não.
Outra regra com a qual a maioria está de acordo é a reeleição, incluída na pauta da comissão do Senado apenas porque alguns de seus membros implicam com ela. Mais de dois terços (67%) são a favor de sua permanência e 28%, contrários.
De todos, o tema que mais dividiu os entrevistados foi a obrigatoriedade do voto. São praticamente iguais as proporções dos que querem que seja mantida e dos que gostariam que acabasse. Apesar disso, em outra pesquisa da Vox, feita nas vésperas da eleição do ano passado, 74% dos entrevistados disseram que votariam ainda que o voto fosse facultativo.
Enfim, esse é um retrato da reforma vista pelo eleitorado. Se quiserem, os membros das comissões das duas Casas podem levá-lo em conta (ou não).
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