Gente diferenciada invade Higienópolis para exigir Metrô.
Era pouco mais de 14 horas deste sábado quando algumas centenas de pessoas começaram a se concentrar em frente ao shopping Pátio Higienópolis, em São Paulo. O motivo? Protestar contra a mudança da futura estação de Metrô da avenida Angélica para a avenida Pacaembu. A alteração dos planos na Linha 6 – laranja teria ocorrido após a Associação Defenda Higienópolis alegar que a obra não deveria ser feita ali porque aumentaria o "número de ocorrências indesejáveis" e a área se tornaria "um camelódromo".
Maíra Kubík Mano - Especial para Carta Maior.
– Eu não imaginava que as redes sociais pudessem mobilizar tanta gente.
– Eu fiquei um tempão na Praça Vilaboim e não tinha ninguém. Pensei que era lá. Ainda bem que quando cheguei aqui encontrei a multidão.
– Eu acho que tem pouca gente. Mais de 50 mil confirmaram pelo Facebook e não vieram. Tem pessoas que se escondem atrás do computador, fazem ativismo só online.
Divergências à parte, o churrasco da “gente diferenciada” estava cheio. Bem cheio. Era pouco mais de 14h quando cerca de mil pessoas começaram a se concentrar em frente ao shopping Pátio Higienópolis. O motivo? Protestar contra a mudança da futura estação de Metrô da av. Angélica para a av. Pacaembu. A alteração dos planos na Linha 6 – laranja teria ocorrido após a Associação Defenda Higienópolis alegar que a obra não deveria ser feita ali porque aumentaria o "número de ocorrências indesejáveis" e a área se tornaria "um camelódromo".
A avenida Higienópolis foi fechada rapidamente pela multidão. Um policial tentava negociar com um homem que segurava uma tigela com farofa: “Precisamos saber o percurso de vocês, para interromper o trânsito”. “Eu não sou líder do movimento, não tem ninguém aqui para responder por isso”, diz ele, virando as costas para a autoridade.
“Sou representante da associação de moradores do bairro”, grita um jovem. Silêncio. Todos querem ouvir o que ele tem a dizer. “Me enviaram aqui para dialogar com vocês. Nós queremos o Metrô sim. Mas ele tem que ser condizente com o nível do bairro. Portanto, exigimos uma ligação direta com Alphaville, Morumbi e Veneza, na Itália”. Gargalhadas correm soltas.
Eliná Mendonça, vizinha do shopping, gosta da piada. “Só que essa questão é muito séria”, alerta. “Não é verdade que a gente aqui não quer isso. Não queremos ser vistos como elitista”. Ao seu lado está Myrna Kovyomdjian, também moradora do bairro. “Meu apartamento é na rua Ceará e eu quero o Metrô aqui”, diz. “Somos 55 mil pessoas em Higienópolis. Não podemos deixar que um abaixo-assinado com 3 mil nomes impeça o transporte público.” As duas senhoras lembram que, quando o shopping foi construído, também houve muita oposição. “Ninguém queria e agora todo mundo frequenta. Com o Metrô vai ser a mesma coisa”, completa Myrna.
A Associação Defenda Higienópolis? Nenhuma pessoa ali havia ouvido falar antes das denúncias. “Eu tenho um escritório ao lado do Pão de Açúcar [onde seria construída a futura estação, na Avenida Angélica], e não passou abaixo-assinado algum por lá”, afirma a consultora de recursos humanos Márcia Hasche, tomando um café dentro do shopping.
André Vasquez de Abreu não é habituê do bairro. Pelo contrário: mora em Itaquera. Mas decidiu ir ao protesto, mesmo tão longe de casa. “Eu trabalho como atendente de telemarketing na Praça da República e sempre pego o Metrô”, justifica. “E falaram que os diferenciados viriam de Metrô. Isso é para eles verem que nós viemos de qualquer jeito”, declara Vitório Felipe, também da Zona Leste, com um espetinho de queijo na mão e um sorriso no rosto.
Cartazes dão tom de brincadeira ao protesto. “Só ando de metrô em Paris, Nova York e Londres” foi um dos que fez mais sucesso. Alguns integrantes do Movimento Passe Livre (MPL) queimam uma catraca e depois assam uns espetinhos nas chamas. A cena rende fotos e vídeos para todos os jornalistas presentes.
Finalmente em marcha, os manifestantes decidem subir a avenida Angélica até o local onde estava prevista a construção da estação. A bateria anima os gritos contra o governador Geraldo Alckmin e os moradores ditos “elitistas” da região. Uma churrasqueira é carregada para cima e para baixo, acesa. Em breve, todos se dispersariam no que terminou como um grande bloco de carnaval.
“Acho que o ato cumpriu seu papel”, avalia o promotor Mauricio Antonio Ribeiro Lopes, responsável por pedir esclarecimentos sobre o caso à Secretaria de Transportes Metropolitanos. Morador de Higienópolis, ele foi acompanhar de perto o protesto. Em entrevista mais cedo, Lopes havia dito à Carta Maior que iria averiguar a fundo a questão. “Quero saber porque o governo mudou de ideia em relação a onde colocar a estação. É preciso descobrir se, de fato, um grupo de 3.500 pessoas que fez o abaixo-assinado pode decidir pelas 25 mil que usariam diariamente essa estação de Metrô”. O governo tem 30 dias para responder seu pedido. Caso o promotor não fique satisfeito com a argumentação, solicitará a realização de estudos técnicos.
Em nota divulgada no final da semana, o Metrô reafirmou que a decisão de mudar a estação foi técnica e que está estudando a melhor localização para atender à FAAP (Fundação Armando Álvares Penteado), à Avenida Angélica, à Praça Vilaboim e ao estádio do Pacaembu. Entre os argumentos do governo está a proximidade com a futura estação Mackenzie – 610 metros – o que impediria os trens de adquirirem alta velocidade na linha . “Vou avaliar as distâncias entre todas as estações de São Paulo. Aquela entre a Sé e a Liberdade, na linha Vermelha, é menor ainda do que essa. Por que foi construída então?”, indaga o promotor Lopes.
Pelas andanças no bairro, apenas uma moradora se disse contrária à estação. “Já tem metro aqui perto. Santa Cecília, Barra Funda. Agora vai ter no Mackenzie. O pessoal pode caminhar, não é tão longe”, afirma Bia, que não quis revelar o sobrenome. Um de seus temores é que o bairro se desvalorize.
“Essa é a maior bobagem”, sentencia a arquiteta e urbanista Ermínia Maricato. “O Metrô valoriza os imóveis. É um serviço que todo mundo deveria querer. Isso é típico do Brasil, de uma sociedade muito desigual e preconceituosa, que não consegue conviver com a pluralidade”.
O pessoal do churrasco diferenciado bem que tentou se misturar: a cada esquina, convidavam os moradores a descer dos prédios para provar a carne.
– Eu fiquei um tempão na Praça Vilaboim e não tinha ninguém. Pensei que era lá. Ainda bem que quando cheguei aqui encontrei a multidão.
– Eu acho que tem pouca gente. Mais de 50 mil confirmaram pelo Facebook e não vieram. Tem pessoas que se escondem atrás do computador, fazem ativismo só online.
Divergências à parte, o churrasco da “gente diferenciada” estava cheio. Bem cheio. Era pouco mais de 14h quando cerca de mil pessoas começaram a se concentrar em frente ao shopping Pátio Higienópolis. O motivo? Protestar contra a mudança da futura estação de Metrô da av. Angélica para a av. Pacaembu. A alteração dos planos na Linha 6 – laranja teria ocorrido após a Associação Defenda Higienópolis alegar que a obra não deveria ser feita ali porque aumentaria o "número de ocorrências indesejáveis" e a área se tornaria "um camelódromo".
A avenida Higienópolis foi fechada rapidamente pela multidão. Um policial tentava negociar com um homem que segurava uma tigela com farofa: “Precisamos saber o percurso de vocês, para interromper o trânsito”. “Eu não sou líder do movimento, não tem ninguém aqui para responder por isso”, diz ele, virando as costas para a autoridade.
“Sou representante da associação de moradores do bairro”, grita um jovem. Silêncio. Todos querem ouvir o que ele tem a dizer. “Me enviaram aqui para dialogar com vocês. Nós queremos o Metrô sim. Mas ele tem que ser condizente com o nível do bairro. Portanto, exigimos uma ligação direta com Alphaville, Morumbi e Veneza, na Itália”. Gargalhadas correm soltas.
Eliná Mendonça, vizinha do shopping, gosta da piada. “Só que essa questão é muito séria”, alerta. “Não é verdade que a gente aqui não quer isso. Não queremos ser vistos como elitista”. Ao seu lado está Myrna Kovyomdjian, também moradora do bairro. “Meu apartamento é na rua Ceará e eu quero o Metrô aqui”, diz. “Somos 55 mil pessoas em Higienópolis. Não podemos deixar que um abaixo-assinado com 3 mil nomes impeça o transporte público.” As duas senhoras lembram que, quando o shopping foi construído, também houve muita oposição. “Ninguém queria e agora todo mundo frequenta. Com o Metrô vai ser a mesma coisa”, completa Myrna.
A Associação Defenda Higienópolis? Nenhuma pessoa ali havia ouvido falar antes das denúncias. “Eu tenho um escritório ao lado do Pão de Açúcar [onde seria construída a futura estação, na Avenida Angélica], e não passou abaixo-assinado algum por lá”, afirma a consultora de recursos humanos Márcia Hasche, tomando um café dentro do shopping.
André Vasquez de Abreu não é habituê do bairro. Pelo contrário: mora em Itaquera. Mas decidiu ir ao protesto, mesmo tão longe de casa. “Eu trabalho como atendente de telemarketing na Praça da República e sempre pego o Metrô”, justifica. “E falaram que os diferenciados viriam de Metrô. Isso é para eles verem que nós viemos de qualquer jeito”, declara Vitório Felipe, também da Zona Leste, com um espetinho de queijo na mão e um sorriso no rosto.
Cartazes dão tom de brincadeira ao protesto. “Só ando de metrô em Paris, Nova York e Londres” foi um dos que fez mais sucesso. Alguns integrantes do Movimento Passe Livre (MPL) queimam uma catraca e depois assam uns espetinhos nas chamas. A cena rende fotos e vídeos para todos os jornalistas presentes.
Finalmente em marcha, os manifestantes decidem subir a avenida Angélica até o local onde estava prevista a construção da estação. A bateria anima os gritos contra o governador Geraldo Alckmin e os moradores ditos “elitistas” da região. Uma churrasqueira é carregada para cima e para baixo, acesa. Em breve, todos se dispersariam no que terminou como um grande bloco de carnaval.
“Acho que o ato cumpriu seu papel”, avalia o promotor Mauricio Antonio Ribeiro Lopes, responsável por pedir esclarecimentos sobre o caso à Secretaria de Transportes Metropolitanos. Morador de Higienópolis, ele foi acompanhar de perto o protesto. Em entrevista mais cedo, Lopes havia dito à Carta Maior que iria averiguar a fundo a questão. “Quero saber porque o governo mudou de ideia em relação a onde colocar a estação. É preciso descobrir se, de fato, um grupo de 3.500 pessoas que fez o abaixo-assinado pode decidir pelas 25 mil que usariam diariamente essa estação de Metrô”. O governo tem 30 dias para responder seu pedido. Caso o promotor não fique satisfeito com a argumentação, solicitará a realização de estudos técnicos.
Em nota divulgada no final da semana, o Metrô reafirmou que a decisão de mudar a estação foi técnica e que está estudando a melhor localização para atender à FAAP (Fundação Armando Álvares Penteado), à Avenida Angélica, à Praça Vilaboim e ao estádio do Pacaembu. Entre os argumentos do governo está a proximidade com a futura estação Mackenzie – 610 metros – o que impediria os trens de adquirirem alta velocidade na linha . “Vou avaliar as distâncias entre todas as estações de São Paulo. Aquela entre a Sé e a Liberdade, na linha Vermelha, é menor ainda do que essa. Por que foi construída então?”, indaga o promotor Lopes.
Pelas andanças no bairro, apenas uma moradora se disse contrária à estação. “Já tem metro aqui perto. Santa Cecília, Barra Funda. Agora vai ter no Mackenzie. O pessoal pode caminhar, não é tão longe”, afirma Bia, que não quis revelar o sobrenome. Um de seus temores é que o bairro se desvalorize.
“Essa é a maior bobagem”, sentencia a arquiteta e urbanista Ermínia Maricato. “O Metrô valoriza os imóveis. É um serviço que todo mundo deveria querer. Isso é típico do Brasil, de uma sociedade muito desigual e preconceituosa, que não consegue conviver com a pluralidade”.
O pessoal do churrasco diferenciado bem que tentou se misturar: a cada esquina, convidavam os moradores a descer dos prédios para provar a carne.
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