Amorim quer restabelecer a verdade.
A colunista Eliane Cantanhede entevistou o ministro da Defesa, Embaixador Celso Amorim, para a ‘Folha’:
- O sr. é “esquerdista”?- Esses rótulos, é melhor deixar os outros colocarem. Uns dizem que fui colocado pela presidente Dilma por ser nacionalista, o que agrada aos militares. Outros, que foi porque sou esquerdista, o que não agrada a eles. Mas, no Brasil, nacionalismo não é confundido com esquerdismo?
- O sr. mantém a crítica que fez na revista “Carta Capital” ao voto favorável do governo Dilma a um relator da ONU para apurar abusos contra direitos humanos no Irã?- Hoje eu sou parte do governo e tenho de participar solidariamente das decisões do governo, e essa pasta pertence a outro ministro. Como intelectual independente, o que eu escrevi e disse claramente é que, se fosse eu, não teria tomado aquela atitude.
- Uma crítica de militares ao sr. é a ligação com o Irã.- Nós nunca ficamos amiguinhos do Irã, que não é uma prioridade da política externa. O que foi prioridade, em determinado momento, foi resolver um problema grave para o mundo: o programa nuclear do Irã.
- O sr. escreveu que não são satisfatórias as relações entre o poder civil e os militares e a responsabilidade por atos da época da ditadura. Como avançar nos dois casos?- Não me recordo das palavras exatas, mas não disse que não são satisfatórias, mas que talvez alguns não vejam como satisfatórias. Uma constatação, mais que um juízo de valor. A subordinação das Forças Armadas ao poder civil é clara.
- Por que não falou da Comissão da Verdade na posse? O sr. defende a responsabilização de militares por atos na ditadura?- O principal é o restabelecimento da verdade. Com bom senso de todos os lados e boa articulação política, que cabe ao ministro da Justiça, chegaremos a uma boa conclusão.
- O general Augusto Heleno…- A quem aprecio, pelo bom trabalho que fez no Haiti.
- … disse que o comprometimento ideológico tem repercussão altamente negativa entre os militares.- Você não pode fazer das Forças Armadas uma coisa partidária, nem para a esquerda, nem para a direita, nem para o centro. Para isso nós temos a presidente da República, que é quem escolhe e quem decide e que foi eleita pelo povo brasileiro.
- Pergunta de um oficial: e se fosse um general mandando no Itamaraty?- Diplomatas são disciplinados, e já houve ministro militar: Juracy Magalhães.
- A presidente deu sinal de que vai descontingenciar verbas?- Vou conversar com os ministros da área econômica. Qual a solução? Quando? Não sei. Vamos ver.
- E os caças?- Os caças terão que vir. Achava isso como ministro das Relações Exteriores e continuo achando como ministro da Defesa. O momento exato não dá para dizer.
- O sr. prefere os Rafale?- No governo Lula parecia que o que tinha mais condições de fazer transferência de tecnologia era o francês. Mas não acompanhei o desenrolar das discussões sobre isso e a renegociação de preços.
- Como tocar o programa nuclear da Marinha sem verba?- Vai ter recursos sim. A presidente é nacionalista, patriota e sabe da importância de proteger os nossos recursos, principalmente a camada do pré-sal.
- E o acordo com os EUA para o uso da base de Alcântara?- Foi paralisado no Congresso porque não tem cabimento brasileiros não terem acesso a certos lugares no território nacional. É uma questão de soberania inegociável, e não uma questão ideológica.
- Jobim e o sr. estabeleceram uma linha de distanciamento dos EUA, mas Patriota faz uma linha de aproximação. Onde o sr. se encaixa agora?- Jobim até patrocinou, junto conosco, um acordo militar com os EUA. Temos de ter a cabeça aberta, acabar com a mania de que o que é a favor do Brasil é contra os EUA.
- Por que defende sair do Haiti?- Dizem que democracia é quando um presidente passa o governo a outro presidente eleito. É hora de discutir uma saída organizada, inclusive com ONU. Uma possibilidade é deixar um batalhão de engenharia do Exército.
- O comandante Enzo Peri é investigado por ter assinado 27 contratos sem licitação. O sr. vai tomar providências?- Bom, o general me disse que já há investigações iniciadas por ele.
- Vai investigar ele próprio?- É preciso separar o joio do trigo. Tenho 50 anos de serviço público e conheço as pessoas pelo olho. O general Enzo me dá a impressão de uma pessoa não apenas ilibada, mas até de um asceta. O que tiver de ser investigado será.
- Genoino vai ficar na Defesa?- Vai. E pode botar um ponto de exclamação.
- O sr. é “esquerdista”?- Esses rótulos, é melhor deixar os outros colocarem. Uns dizem que fui colocado pela presidente Dilma por ser nacionalista, o que agrada aos militares. Outros, que foi porque sou esquerdista, o que não agrada a eles. Mas, no Brasil, nacionalismo não é confundido com esquerdismo?
- O sr. mantém a crítica que fez na revista “Carta Capital” ao voto favorável do governo Dilma a um relator da ONU para apurar abusos contra direitos humanos no Irã?- Hoje eu sou parte do governo e tenho de participar solidariamente das decisões do governo, e essa pasta pertence a outro ministro. Como intelectual independente, o que eu escrevi e disse claramente é que, se fosse eu, não teria tomado aquela atitude.
- Uma crítica de militares ao sr. é a ligação com o Irã.- Nós nunca ficamos amiguinhos do Irã, que não é uma prioridade da política externa. O que foi prioridade, em determinado momento, foi resolver um problema grave para o mundo: o programa nuclear do Irã.
- O sr. escreveu que não são satisfatórias as relações entre o poder civil e os militares e a responsabilidade por atos da época da ditadura. Como avançar nos dois casos?- Não me recordo das palavras exatas, mas não disse que não são satisfatórias, mas que talvez alguns não vejam como satisfatórias. Uma constatação, mais que um juízo de valor. A subordinação das Forças Armadas ao poder civil é clara.
- Por que não falou da Comissão da Verdade na posse? O sr. defende a responsabilização de militares por atos na ditadura?- O principal é o restabelecimento da verdade. Com bom senso de todos os lados e boa articulação política, que cabe ao ministro da Justiça, chegaremos a uma boa conclusão.
- O general Augusto Heleno…- A quem aprecio, pelo bom trabalho que fez no Haiti.
- … disse que o comprometimento ideológico tem repercussão altamente negativa entre os militares.- Você não pode fazer das Forças Armadas uma coisa partidária, nem para a esquerda, nem para a direita, nem para o centro. Para isso nós temos a presidente da República, que é quem escolhe e quem decide e que foi eleita pelo povo brasileiro.
- Pergunta de um oficial: e se fosse um general mandando no Itamaraty?- Diplomatas são disciplinados, e já houve ministro militar: Juracy Magalhães.
- A presidente deu sinal de que vai descontingenciar verbas?- Vou conversar com os ministros da área econômica. Qual a solução? Quando? Não sei. Vamos ver.
- E os caças?- Os caças terão que vir. Achava isso como ministro das Relações Exteriores e continuo achando como ministro da Defesa. O momento exato não dá para dizer.
- O sr. prefere os Rafale?- No governo Lula parecia que o que tinha mais condições de fazer transferência de tecnologia era o francês. Mas não acompanhei o desenrolar das discussões sobre isso e a renegociação de preços.
- Como tocar o programa nuclear da Marinha sem verba?- Vai ter recursos sim. A presidente é nacionalista, patriota e sabe da importância de proteger os nossos recursos, principalmente a camada do pré-sal.
- E o acordo com os EUA para o uso da base de Alcântara?- Foi paralisado no Congresso porque não tem cabimento brasileiros não terem acesso a certos lugares no território nacional. É uma questão de soberania inegociável, e não uma questão ideológica.
- Jobim e o sr. estabeleceram uma linha de distanciamento dos EUA, mas Patriota faz uma linha de aproximação. Onde o sr. se encaixa agora?- Jobim até patrocinou, junto conosco, um acordo militar com os EUA. Temos de ter a cabeça aberta, acabar com a mania de que o que é a favor do Brasil é contra os EUA.
- Por que defende sair do Haiti?- Dizem que democracia é quando um presidente passa o governo a outro presidente eleito. É hora de discutir uma saída organizada, inclusive com ONU. Uma possibilidade é deixar um batalhão de engenharia do Exército.
- O comandante Enzo Peri é investigado por ter assinado 27 contratos sem licitação. O sr. vai tomar providências?- Bom, o general me disse que já há investigações iniciadas por ele.
- Vai investigar ele próprio?- É preciso separar o joio do trigo. Tenho 50 anos de serviço público e conheço as pessoas pelo olho. O general Enzo me dá a impressão de uma pessoa não apenas ilibada, mas até de um asceta. O que tiver de ser investigado será.
- Genoino vai ficar na Defesa?- Vai. E pode botar um ponto de exclamação.
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