Apesar de muita gente fazer força, Brasília não está em frangalhos. Os 52 anos decorridos desde a inauguração solidificaram seus músculos e enrijeceram sua pele. A cidade viveu momentos de euforia e momentos de tristeza. De angústia, também. Criada para ser a capital federal, transcendeu o objetivo inicial, tornando-se lar e refúgio para dois milhões de brasileiros, dos quais a maioria nasceu aqui. Criou alma, coincidentemente quando seu fundador chegou pela última vez, para ficar entre nós pela eternidade.
Brasília foi e continua sendo palco da história política do país. De Juscelino Kubitschek a Dilma Rousseff, é a casa do presidente da República. Apenas um chefe de governo nos desprezou. Quando renunciou, já na escadinha do avião que o levaria a São Paulo, Jânio Quadros virou-se para o Plano Piloto, ao longe, afirmando bem alto: “Adeus, cidade maldita! Jamais porei os pés aqui!” Só que era mentira. Queria voltar como ditador. Não conseguiu.
Brasília é sede dos três poderes da União. Mas muito mais do que dos três poderes. Abriga uma população jovem que trabalha e que não pensa exilar-se ou asilar-se. Talvez seja essa nossa maior característica, depois dos anos iniciais: quem nas ou quem chega aqui não tem a menor intenção de ir embora. Algum sociólogo ainda produzirá uma tese a esse respeito.
De início, Brasília era governada por um prefeito, nomeado pelo presidente da República. Mais tarde mudaram o nome para governador, mas escolher, o povo não escolhia. Ironia do destino, tivemos excelentes prefeitos, nem tanto quanto governadores. Claro que jamais se dirá não ter o povo o direito de escolher seus governantes. É da essência da democracia. Só que não temos dado sorte. Por isso a capital, que era para constituir-se numa cidade modelo, anda aos trancos e barrancos.
Não vamos fulanizar, nem os bons, nem os maus. Muito menos os péssimos, por sinal recentes, que acabaram transformando Brasília. Já temos, aqui, ruas tão esburacadas como Bagdá, mesmo sem bombardeios. Trânsito caótico como São Paulo. Insegurança pública como o Rio. Saúde Pública deteriorada como Recife. Metrô insuficiente como Belo Horizonte. E vai por aí.
Somos injustiçados, ainda que menos hoje do que ontem. Porque até pouco tempo atrás podíamos responder com altivez quando, lá de longe, alguns energúmenos batizavam Brasília de “cidade dos ratos”. Replicávamos que os ratos não eram daqui, pois chegavam às terças e iam embora às quintas-feiras. Hoje mudou um pouco. Há ratos brasilienses, presentes nos fins de semana, mas não se culpe as eleições pela sua existência. Talvez tenham crescido por conta do exemplo dos que vinham de fora.
De qualquer forma, apesar dos percalços, Brasília tornou-se indispensável. Aqui se tomam as grandes decisões nacionais, certas ou erradas. Aqui se constrói o futuro.
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