Por Carlos Chagas
Dá um frio na espinha quando a gente ouve um governante dizer que vai cuidar do seu povo. A intenção pode ter sido justificada na voz de D. Pedro I ou de Antônio Conselheiro, mas feita pelo presidente Lula acende o sinal amarelo no semáforo das apreensões nacionais. Em especial quando o companheiro acrescenta que cuidará do povo brasileiro como uma mãe cuida de seu filho. Ao longo dos séculos adquirimos nossa maioridade e não devemos ser tratados como crianças. Afinal, fomos nós (licenciosidade poética) que escolhemos o Lula, não ele a nós. Falta-lhe o direito de assumir a tutela, por mais popular que seja.
O singular nessa recente manifestação é que o presidente até agora vinha jurando que, deixando o poder, não daria palpite no governo de quem o sucedesse. Nem mesmo Dilma Rousseff. Iria para casa. Agora mudou. Anuncia a disposição de percorrer o país e “telefonar para a presidenta” sempre que verificar alguma coisa errada.
Não viajar para Paris ou para Harvard constitui-se numa decisão pessoal, até sábia, mas de forma explícita dar palpite no futuro governo constituirá um perigo e uma provocação. No caso da eleição de Dilma, ainda mais conhecendo-se a personalidade dela, quem garante que não reagirá?
No PT, interpreta-se essa nova reviravolta do presidente como tática eleitoral destinada a selar em definitivo o resultado das urnas. Sabendo que o Lula estará vigilante, uma voz atrás do trono, os indecisos logo se decidirão pela candidata. Trata-se da perspectiva de vitória ainda no primeiro turno. Mas que é um perigo, ninguém duvida.
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