quarta-feira, 18 de agosto de 2010

O peso dos fatos

Socrates
É inegável que o retorno de Ronaldo ao Corinthians rendeu muitos dividendos. E com seu carisma ele conquistou a torcida
Ronaldo não entra em campo há três meses, ainda assim, no dia a dia, se discute o quê, quando, quanto e não sei mais sobre o peso dele. Ora, gente! Chega de incomodar o nosso maior jogador das últimas décadas. Ele já não pode responder em campo a todas as expectativas criadas. Ronaldo é o grande gestor do atual Corinthians, o único criador do atual fundo corintiano, idealizador do novo Corinthians que se agigantou, se internacionalizou e faturou o que jamais pensaria.
Ronaldo é o Corinthians, todos devem respeitar essa realidade. Ainda que uns tentem se vangloriar pelas receitas atuais, Ronaldo é o maior responsável. Ronaldo é Ronaldo. Ele é o Corinthians de hoje.
Alguns reclamam de que parte dessa receita é dele. Parte, que parte? A maior e grande parte deve ser dele mesmo, pois dele dependem essas receitas. E ainda por cima exigem que ele jogue, o que se esforçou em fazer no ano passado. Com sucesso, diga-se de passagem. Nunca um time brasileiro se deu tão bem com a repatriação de um craque. Craque, aliás, que estava no estaleiro, como se diz em “futebolês”, e mais uma vez deu a volta por cima, como se diz no “socialês”. E com uma imponência de dar dó aos outros.
Se não dá dó ou só outros sentimentos menos nobres, problema nenhum. O que ninguém pode reclamar nem discutir é a realidade imposta pelos fatos. No caso, pelo retorno que esse grande jogador de extremo carisma já deu ao Timão.
Outros mais querem porque querem voltar ao País. Esperam conseguir o mesmo que Ronaldo, o que não será nada fácil. Conquistar uma torcida como a Fiel é algo que poucos conseguem em tão pouco tempo, como fez Ronaldo. Levar a sua equipe a feitos aguardados ansiosamente pela massa, também. Adquirir o respeito de todos por sua postura e colocações, mais raro ainda; o que não impede alguém de sonhar.
A cada dia, vemos dezenas de grandes jogadores que já trilharam fora do País boa parte da vida útil de atletas, retornando para casa. Fundamentalmente, devido ao exemplo de sucesso que foi o retorno de Ronaldo. Muitos, porém, não conseguirão o resultado almejado por eles e pelos clubes que os recebem. Já não possuem a força dos jovens, ainda que tenham nas costas a vasta experiência que poderá servir para prolongar suas estadas nos gramados. Ou técnica e talento suficientes para ainda encantar nosso público sedento por beleza e alegria nos gramados.
Todos esses atletas que novamente batem à porta do nosso futebol nos fazem perceber o mal que estamos fazendo a eles e ao esporte, por não tratá-los com a merecida dignidade. Há espaço e riqueza para desenvolver suas habilidades em nosso território sem a necessidade de exportá-los como mercadorias valorizadas, sim, mas com muito pouca humanidade, como se fossem cargas vivas a ser transportadas por veículos que trafegam desfilando em seus para-choques a qualificação do produto.
E também para mantê-los desfilando seus dotes em nossos campeonatos, para mostrar o que somos capazes de oferecer aos que são amantes do futebol. E aí, sim, vender a obra de nossos craques, sua produção artística como qualquer museu ou colecionador do mundo moderno faria. Isso, caso tivéssemos um pingo de consciência das suas importâncias no contexto político-social nacional.
O que nos faria também ter mais cuidado com a formação social, moral e educacional desses meninos, que poderiam transformar rapidamente a nação, como todos nós esperamos há muito, pois seriam referências, já que ídolos eles já são pelo que fazem. Por que não pelo que dizem e pensam?
Agora mesmo, quando se inicia um novo trabalho na Seleção Brasileira, que nada mais é (ou deveria ser sempre) que a extrema representatividade de nossa cultura esportiva, nós vimos esta semana muitos jovens vestindo pela primeira vez a camisa amarela e ainda jogando por equipes daqui.
Mas até quando? Seleção esta que vez ou outra é utilizada como mostruário para futuras negociações com interessados em nossas preciosidades. Será que o exemplo de Ronaldo não nos indicou a possibilidade de manter em território nacional nossos melhores jogadores com gestões apenas um pouco mais competentes que aquelas a que estamos habituados?
Sejamos menos cegos para a realidade, assim ela se tornará mais brilhante para todos os brasileiros.

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