domingo, 29 de agosto de 2010

POSTE

Nassif: Os erros fatais da aposta na teoria do "poste"
Mais sábio dos estrategistas do DEM, no segundo semestre do ano passado o ex-deputado Saulo Queiroz confidenciava a jornalistas: quando Dilma começar a aparecer na campanha, estaremos perdidos. Saulo estava empenhado em demonstrar ao partido que Aécio Neves seria o único candidato competitivo. Mas pegara a fantasia da mídia de que o "poste" Dilma Rousseff jamais decolaria.
Por Luís Nassif, em seu blog
O desesperado Saulo tentava desviar o Titanic do iceberg que se avizinhava. Fazendo tratamento quimioterápico, com peruca para esconder a perda de cabelos, Dilma já estava saindo da toca. Imagine quando tiver os cabelos de volta, todo arrumadinhos e começar a soltar a prosa mineira com naturalidade, insistia ele, em pânico porque, na outra ponta, o que se tinha a oferecer era José Serra.
Em vão! Assim como acreditou nos analistas econômicos em 1998, e não se preveniu para a maxidesvalorização, agora a mídia acreditava cegamente nos analistas políticos e a oposição acreditava cegamente na mídia - e insistia que bastaria o "poste" ser exposto à luz da campanha para desaparecer.
Até duas semanas atrás, dia sim, dia não, os gênios da análise política diziam - e Serra repetia - que a campanha estava escondendo Dilma. A candidata saía de um tiroteio na CBN. E era acusada de estar sendo escondida. Enfrentava o Roda Viva, e a acusação persistia.
Diziam isso ao mesmo tempo em que acusavam Lula de dar super-exposição a Dilma.
Agora, Dilma aparece... para eles. Conclusão: pegou a herança de votos de Lula e começa a ampliar com seus próprios votos. Em São Paulo, Lula atrai o voto petista; Dilma está avançando nos votos tucanos.
E está a inspirar os analistas póstumos do jornal que, ironicamente, falam em "modas impulsionadas pelo marketing".
Da Folha: Imagem de Dilma perante o eleitor mostra avanço além da tutela de Lula
Mauro Paulino
Diretor-geral do Datafolha
Alessandro Janoni
Diretor de Pesquisas do Datafolha
Na última pesquisa Datafolha, Dilma Rousseff (PT) abriu 20 pontos de vantagem sobre José Serra (PSDB) na disputa pela Presidência. Ela ampliou seu alcance a todos os segmentos sociais, tornou-se mais conhecida, cristalizou o vínculo com Lula e começa a transmitir, de acordo com os dados publicados hoje, que tem luz própria.
A simpatia pela candidatura petista espraiou-se inclusive em redutos sagrados do tucanato, como o
Estado de São Paulo, sua capital e os segmentos mais elitizados do eleitorado. E essa evolução, principalmente em território inimigo, dá-se mais pela imagem da criatura do que pela tutela de seu criador.
O grupo de eleitores que quer votar na candidata de Lula, mas não o faz por desconhecer Dilma, é hoje residual. Dos oito pontos que a ex-ministra ganhou no último mês, apenas três vieram do estrato fiel ao presidente. A maior parte chegou de subconjuntos que não são totalmente favoráveis a Lula.
A petista conseguiu, nesse espaço de tempo, comunicar a segurança da continuidade e associar sua imagem à capacidade técnica necessária para assumir o cargo que pleiteia, sem o contraponto de uma oposição clara e contundente a essas mensagens.
Sem considerar a cobertura jornalística, com entrevistas e agenda em horário nobre, e projetando-se apenas os 35% de brasileiros que dizem ter visto a propaganda petista na TV, tem-se cerca de 47 milhões de eleitores.
Eles viram a petista em seu momento mais confortável, sem o ruído negativo de, por exemplo, alguma pergunta incômoda. E para a maioria, segundo o Datafolha, Dilma é a candidata com melhor desempenho na TV.
O saldo é a percepção predominante, neste momento, de que a petista é a mais preparada para manter a estabilidade econômica, defender os pobres, combater a violência, cuidar da educação, combater o desemprego e até a mais simpática.
Sobraram a Serra, até aqui, o alento de sua experiência política, o recall da área da saúde e a pecha de defensor dos ricos.
Dizer que Dilma não é Lula é insuficiente. Neste momento, pode até ser positivo para a petista. A Dilma, por outro lado, basta manter a aura conquistada. A ex-ministra deve provar que não é efêmera, como qualquer moda impulsionada pelo marketing.

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