Raymundo Costa – Valor
PSDB precisa falar com eleitor de Lula, sem preconceitos.
A vantagem de Dilma Rousseff sobre José Serra, em São Paulo, é a grande novidade desta eleição e deixa claro a extensão do desafio da oposição, a partir de 1º de janeiro de 2011. De imediato, deixa de ser óbvio, de antemão, que São Paulo é uma cidadela do PSDB. Geraldo Alckmin é o favorito, talvez tenha que enfrentar um segundo turno contra Aloizio Mercadante (PT), mas dificilmente será uma alternativa nacional para 2014.
A campanha de Serra trabalhava com a hipótese de ganhar em São Paulo por uma diferença entre 4 e 6 milhões de votos. A lógica era a vitória de Alckmin sobre Lula no primeiro turno das eleições de 2006, quando o “Chuchu” impôs uma vantagem de 3,8 milhões de votos sobre um presidente da República abalado pelo episódio dos “aloprados”, mas ainda assim favorito para vencer no primeiro turno.
Nos cálculos tucanos, uma vitória por 5 milhões de votos seria o suficiente para compensar a soma da eventual diferença em favor de Dilma no Rio de Janeiro e em Minas Gerais. Já no comitê de Dilma considerava-se uma vitória, se o PSDB vencesse por uma diferença de até 2, 2,5 milhões e meio de votos. Hoje as pesquisas desenham um quadro com uma diferença que caminha para os dois milhões de votos em favor de Dilma.
O que resta da zona de influência do tucanato paulista, de acordo com as pesquisas registradas até o momento, é um pouco de Mato Grosso do Sul, Paraná e Santa Catarina. O poderoso PSDB de São Paulo está saindo isolado do processo eleitoral. Inquilino do Palácio dos Bandeirantes é sempre candidato forte ao
Palácio do Planalto, mas a vez no PSDB, em 2014, é Aécio Neves. Alckmin possivelmente vai disputar a reeleição ao governo.
Naturalmente, o ex-governador e provável senador por Minas Gerais, Aécio Neves, será o principal nome da oposição. O desafio que Aécio tem pela frente é encontrar um discurso para um eleitor de Lula que quase foi seduzido por Alckmin, em 2006, quando o candidato perdeu votos entre o primeiro e o segundo turno, e nem parece receptivo ao discurso ético do atual candidato do PSDB. É encontrar canais de diálogo, em vez de desqualificar o eleitor lulista. Sem preconceitos, ir onde o povo está.
A exemplo Alckmin, em 2006, Serra também começou a campanha distante do discurso das alas mais radicais do PSDB e do Democratas. Mas cedeu a elas, assim como Alckmin se submeteu há quatro anos. A avaliação feita então é que o tucano crescera no final por haver endurecido o discurso, mas o que aconteceu no segundo turno é que Alckmin despencou e perdeu votos que teve na primeira rodada. Entre outras coisas por não ter encontrado uma saída à armadilha antiprivatista em que o governo lhe colocou, mas também porque mudou o tom, já não era o “Geraldinho” conhecido dos paulistas.
Retrospectivamente, conselheiros da campanha de Dilma observam hoje que a mudança de Alckmin foi saudada como se a oposição houvesse encontrado o bom caminho, quando na realidade achou o caminho da derrota no segundo turno. A “oposição raivosa”, como se diz no Palácio do Planalto, se manteve até agora, véspera das eleições, quando muitos de seus integrantes viram ameaçada a própria sorte nas urnas, porque a realidade é que enfrenta um governo que tem aprovação ampla na sociedade, fruto do fato de que a vida das pessoas melhorou. Simples assim.
O desafio que Aécio tem pela frente é que não basta ser jeitoso, uma qualidade reconhecida do ex-governador mineiro. Ele certamente terá de trombar com uma ala de seu eleitorado, aquela que hoje impede tucanos (muitos) e demistas (raros) de pescar entre os eleitores de Lula. Não se trata de uma opção fácil, mas como prova a trajetória rumo ao Palácio do Planalto do próprio PT, em algum momento ela deverá ser feita.
É uma opção que significa tomar distância de uma certa fatia de seu próprio eleitorado. O PT fez isso quando divulgou a Carta ao Povo Brasileiro, pela qual Lula enviou sua mensagem aos mercados na eleição de 2002, mas avisou também para seu eleitorado mais radical que estava mudando de posição. Era como se dissesse: se vocês quiserem, venham comigo, mas eu não sou mais o radical que vocês querem que eu seja.
Funcionou no que se refere aos mercados, que não tardaram a entender e assimilar a mensagem, mas a esquerda do PT deu muito trabalho, até sair do partido – a diáspora se deu na esteira da reforma da Previdência e terminou na fundação do PSOL.
Aécio, segundo se acredita no governo e parte da oposição, terá que estender pontes, conversar e aprovar projetos comuns. Jogar um jogo diferente no Legislativo, porque o que foi jogado até agora não deu certo. E também tornar-se um nome efetivamente nacional, porque, a rigor, ainda é um político de província.
A mudança de guarda entre a atual oposição, que está em vias de perder a terceira eleição consecutiva para Lula, e a nova oposição exigirá muita competência de seu arquiteto e construtor. Isso implica que Aécio, o nome que emerge da oposição nas atuais eleições, seja um estadista, um político nacional, porque Minas Gerais é apenas a base para o grande salto aecista. Ele que, ao contrário de Serra, é visto como predestinado à Presidência.
Não é fácil. Quem votar na oposição, nas eleições de 3 de outubro, estará votando no discurso demo-tucano que tomou conta da campanha de José Serra, que parece exaurido como demonstra não só o avanço de Dilma, apesar das sucessivas ondas de denúncias contra a candidata do PT, mas também as fissuras nas muralhas de fortalezas do PSDB, como é o caso de São Paulo. É um eleitorado que continuará exigindo uma oposição mais contundente.
Além disso, resta saber como Aécio chegará a Brasília. Ele terá um peso, se eleger Antonio Anastasia governador e Itamar Franco, senador; outro, se PT e PMDB elegerem Hélio Costa governador, para citar apenas duas das principais variáveis. De certo só que o PSDB não terá número para reivindicar a presidência do Senado, e que as portas do PMDB já não estão escancaradas a ele como já estiveram no passado.
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