quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Se a paixão é por uma mulher, ela vem da admiração, da atração, da aflição para estar junto e poder tocar, ouvir, acariciar, cuidar e amar. A paixão entre duas pessoas está além da lógica, mas depende dela para começar. Interesses comuns, olhares intencionais, sorrisos marotos, jogos de cena, pele. Ingredientes do inconsciente que se misturam para temperar a paixão. De repente ela chega, se instala e aprisiona o peito e você não quer mais ser livre.
A liberdade é um valor menor diante de uma paixão verdadeira, é muito bom estar apaixonado e sentir seu peito bombardear à simples lembrança e visão daquela pessoa.
Se a paixão é por uma causa, ela surge da necessidade humana de ter missões, de se sentir útil, participante, ativo, companheiro. Precisamos estar conectados a coisas que façam sentido, que tenham valor, que não se esgotem com o fim do expediente. Causas são apaixonantes por natureza, ou não serão causas, serão apenas tarefas.
Grandes líderes que empunharam bandeiras de causas criaram legiões que se dispuseram a entregar a elas seu tempo, seu melhor e até suas vidas. É um privilégio ter uma causa, apaixonar-se por ela e por ela viver. Causas são paixões com lógica, ter pelo que lutar é preferir morrer com honra a viver no vazio da existência desapaixonada, despropositada, sem arma nem alma.
Agora, se a paixão é por um time, neste caso ela não tem mesmo explicação. E nem precisa, por isso é uma paixão maior, que existe por si mesma, como a fé, que não precisa da razão. O time não tem causas, tem metas; não quer salvar as florestas, quer fazer gol; não quer acabar com as guerras, quer ganhar o campeonato. Um time nem precisa corresponder à paixão de sua torcida, que gosta de ser testada em sua fidelidade. O time nem sempre é fiel, mas a torcida sim. E é exatamente dessa dor, dos anos sem taças, das semanas sem gols que vem a paixão que se exalta na primeira vitória, na boa fase atual, no próximo campeonato.
Ser apaixonado por seu time é como fazer valer o instinto de apaixonar-se, é como ter um motivo sem motivo, sem exigência, sem troca. Ser apaixonado por seu time é como apaixonar-se pelo divino. É permitir-se a alegria de torcer, de gritar, de rir e de chorar. De ser criança. Ter um time do coração é entregar-se ao amor pelo simples ato de amar, sem espera e sem demora. Só paixão, nada mais.

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