Por Carlos Chagas.
Ultrapassou a presidente Dilma o obstáculo inicial no primeiro teste de combate à corrupção em seu governo. O episódio Antônio Palocci não valeu, pois as lambanças praticadas pelo ex-chefe da Casa Civil aconteceram antes da posse, mesmo revelados depois. Ainda assim, a presidente afastou o auxiliar.
Agora, caracterizou-se a roubalheira explícita no ministério dos Transportes e desde logo Dilma convocou os responsáveis, ainda que Alfredo Nascimento não comparecesse, saltando de banda. Olho no olho ela identificou as falcatruas e exigiu o afastamento de quatro integrantes da quadrilha. Ontem, durante o dia, faltava apenas a defenestração do ministro dos Transportes, já com a cabeça no cepo.
Fica para a Polícia Federal o levantamento do montante de recursos superfaturados, seu destino e a apuração de outros envolvidos, inclusive os empreiteiros, mas a pergunta que se faz é que estruturas Dilma Rousseff irá erigir sobre os escombros do PR. Se pretender manter o singular e diminuto partido em sua base de apoio, procurando bem encontrará gente honesta, em seus quadros. Mas se preferir desinfetar o ministério, que forças convocará? Por certo que PT e PMDB estão de olhos e goelas bem abertas para abocanhar mais essa fatia do poder, mas parece pouco provável que o ministério dos Transportes lhes venha a ser oferecido. O mais provável será uma solução parecida com a que ainda agora serviu para preencher a Casa Civil e o ministério das Relações Institucionais: pessoas da inteira confiança da presidente, com vinculação partidária mas muito mais ligadas a ela do que às legendas onde se integram, como Gleise Hoffmann e Ideli Salvatti.
De qualquer forma, foi pronta a reação à primeira bandalheira descoberta, ao menos conforme as iniciativas adotadas. Dilma não esperou nem contemporizou, como fizeram Fernando Henrique e o Lula em diversas oportunidades. Optou pela fórmula Itamar Franco...
NÃO MEXAM COM A BAHIA.
A frase preferida do falecido senador Antônio Carlos Magalhães era “não mexam com a Bahia”. Diversas vezes ele se insurgiu contra governos e governantes empenhados em prejudicar seu estado natal, até mesmo exagerando no episódio do Banco Econômico, que defendeu com unhas e dentes.
Estivesse entre nós o ACM estaria distribuindo ponta-pés e caneladas em quantos tentam reavivar a proposta da divisão da Bahia em dois estados, criando-se um novo na região do outro lado do rio São Francisco. A História, a tradição e a política devem ficar acima da geografia, para os baianos da mesma cepa de seu três vezes governador.
Se o mesmo raciocínio valer para o Pará, o resultado do plebiscito previsto para dezembro revelará o sentimento de unidade da maioria dos paraenses. Até porque, são alienígenas os defensores da formação dos estados do Tapajós e do Carajás. Bem como seus interesses.
NEM SÓ DE CRIMES DEVEM VIVER AS TELINHAS.
A moda vem de longe, mas nos últimos meses acentuou-se fenômeno digno de ampla reflexão. Cada vez mais os telenoticiários especializam-se em divulgar crimes, violência e barbaridades verificadas no país e no estrangeiro. Não que devessem omitir essas desgraças, pretendendo sua inexistência. O problema é que para os responsáveis pela programação informativa parece existir apenas esse tipo de notícia. Até telejornais normalmente permeáveis a outros acontecimentos do dia-a-dia, como política, economia, esportes e entretenimento vão abrindo espaços para a desgraça alheia. Retrucam ser isso o que o povo quer, ou seja, os índices de audiência aumentam, e o faturamento também, na medida em que se divulgam e esmiúçam assaltos, seqüestros, estupros, latrocínios, tiroteios, corrupção, enchentes e terremotos. Convenhamos, importa menos saber quem nasceu primeiro, se o ovo ou a galinha, ou seja, se o telespectador dá preferência a esse tipo de noticiário ou se esse tipo de noticiário não dá outra opção ao telespectador. Seria bom pensar grande, mesmo mantendo os parâmetros do sistema capitalista e evitando qualquer tipo de controle do conteúdo da informação.
AINDA ITAMAR.
No auge da ditadura Geisel, quando da divulgação da “Lei Falcão”, em 1976, poucos reagiram como Itamar Franco diante da proibição de candidatos fazerem campanha pelo rádio e a televisão, nos períodos de propaganda eleitoral. Só era permitido apresentar, nas telinhas, uma foto do candidato, seu nome, número e profissão, proibindo-se debates e até cartazes nos muros e postes. O senador mineiro foi à tribuna e sugeriu que o governo militar baixasse uma lei mais simples: “é proibido ao eleitorado saber o que pensam os candidatos”.
Naqueles idos vigia o Ato Institucional numero 5, atingindo inúmeros parlamentares do então MDB. Especulações sobre novas listas de cassados eram feitas todos os dias, e Itamar freqüentava todas. Aos jornalistas ele dizia não estar preocupado, porque assim teria oportunidade de voltar a exercer a profissão à qual jamais pode dedicar-se, a engenharia.
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