Marcos Coimbra, sociólogo, preside o Instituto Vox Populi.
Os partidos tendem a olhar apenas para dentro de si mesmos. Parece que seus dirigentes e quadros só se interessam pela vida interior, nas brigas pelo poder e o controle de recursos que ele enseja.
Ao contrário do que muita gente pensa, a proporção de eleitores brasileiros que se identificam com algum partido pode ser considerada elevada. Já foi o tempo em que era avassaladora a maioria dos que não tinham afinidade com nenhum.
Comparações internacionais relevantes são difíceis. Cada país tem sua história, seus partidos e seu tipo de participação política. Fundamental, por exemplo, é a distinção entre aqueles onde o voto é universal e obrigatório, como o Brasil, e aqueles onde é facultativo, como na maior parte dos desenvolvidos.
Melhor é comparar nossa situação de agora com a do passado. Fazendo isso, podemos ver com mais clareza como e em que estamos mudando.
No começo do século passado, éramos um sistema político tão limitado e restritivo que nem fazia sentido a pergunta a respeito de identidades partidárias.
Os partidos que tínhamos pouco mais eram que grupos regionais de interesse, dos quais
participavam algumas centenas de indivíduos, quase todos recrutados nas oligarquias econômicas locais e em setores satélites (profissionais liberais, burocratas, intelectuais, magistrados, juristas).
As diferenças sociais e programáticas entre, por exemplo, os diversos Partidos Republicanos (Paulista, Mineiro, etc.), eram irrelevantes. No sentido mais literal, eram todos farinha do mesmo saco, em suas bases, quadros, ideias, discurso e propostas.
Há 100 anos, Hermes da Fonseca (gaúcho, concorrendo pelo Partido Republicano Mineiro) venceu a eleição presidencial com 400 mil votos, ficando Ruy Barbosa (baiano, candidato do Partido Republicano Paulista) em segundo, com 220 mil.
Apenas Hermes obteve os votos hoje necessários para garantir a eleição de um deputado federal em São Paulo. Com os seus, Ruy conseguiria ser deputado em Minas e no Rio (por pouco).
Cinquenta anos depois, no apagar das luzes da República de 1945 — o mais celebrado período democrático de nossa história —, Jânio Quadros se saiu vitorioso na eleição presidencial de 1960 com 5,6 milhões de votos, acima dos 3,8 milhões de Lott e dos 2,1 milhões de Adhemar. Juntos, receberam 11,5 milhões
de votos. Menos que aqueles que Geraldo Alckmin obteve ano passado, quando ganhou as eleições para governador. Com a votação que alcançou no país inteiro, Jânio não derrotaria Antonio Anastasia em Minas Gerais. Se o universo de votantes era tão menor, o que dizer das identidades partidárias.
Por ma is festejados que ainda sejam partidos como PSD, UDN e PTB, seriam pequenos, se comparados aos de agora. Nosso sistema político e partidário cresceu tanto, em termos quantitativos, que mudou qualitativamente.
As pesquisas de opinião chegam a resultados diferentes na aferição do fenômeno, pela simples razão de que fazem perguntas diferentes. Uma coisa é simpatia, outra identificação, ainda outra afinidade.
Em uma recente pesquisa nacional da Vox Populi, que quis saber a simpatia, 56% dos entrevistados disseram, espontaneamente, o nome de um partido. Em outras palavras, menos da metade dos eleitores não simpatizaria com, pelo menos, um dos existentes.
De longe, o PT é o maior: 32% dos pesquisados afirmaram simpatizar com ele. Se pensássemos no conjunto do eleitorado, isso equivaleria a mais de 43 milhões de pessoas. Um contingente respeitável. No primeiro turno, Dilma teve 47,6 milhões de votos, apenas 10% a mais que os simpatizantes de seu partido. No segundo, foi a 55 milhões, ainda perto do que seria a base partidária de sua candidatura.
Com 10% de eleitores que com ele simpatizam, a base do PMDB seria de cerca de 13 milhões de pessoas. O PSDB vem a seguir, com 6%, ou seja, 8 milhões. Nada irrelevante, o PV está em quarto (com 2,5% do eleitorado, o que equivale a quase 4 milhões de simpatizantes), muito em função do desempenho de Marina nas últimas eleições.
Olhando números como esses, é difícil entender o pequeno esforço mobilizador que nossos partidos fazem, à exceção do PT (que, mesmo no seu caso, poderia ser maior). Salvo uma ou outra manifestação retórica e as costumeiras conclamações à filiação sem consequências práticas, eles tendem a olhar apenas para dentro de si mesmos. Parece que seus dirigentes e quadros só se interessam pela vida interior, nas brigas pelo poder e o controle de recursos que ele enseja.
No fim das contas, não é porque a população os rejeita que nossos partidos são pouco enraizados. Eles é que nada fazem para transformar simpatias em afinidades mais sólidas.
Ao contrário do que muita gente pensa, a proporção de eleitores brasileiros que se identificam com algum partido pode ser considerada elevada. Já foi o tempo em que era avassaladora a maioria dos que não tinham afinidade com nenhum.
Comparações internacionais relevantes são difíceis. Cada país tem sua história, seus partidos e seu tipo de participação política. Fundamental, por exemplo, é a distinção entre aqueles onde o voto é universal e obrigatório, como o Brasil, e aqueles onde é facultativo, como na maior parte dos desenvolvidos.
Melhor é comparar nossa situação de agora com a do passado. Fazendo isso, podemos ver com mais clareza como e em que estamos mudando.
No começo do século passado, éramos um sistema político tão limitado e restritivo que nem fazia sentido a pergunta a respeito de identidades partidárias.
Os partidos que tínhamos pouco mais eram que grupos regionais de interesse, dos quais
participavam algumas centenas de indivíduos, quase todos recrutados nas oligarquias econômicas locais e em setores satélites (profissionais liberais, burocratas, intelectuais, magistrados, juristas).
As diferenças sociais e programáticas entre, por exemplo, os diversos Partidos Republicanos (Paulista, Mineiro, etc.), eram irrelevantes. No sentido mais literal, eram todos farinha do mesmo saco, em suas bases, quadros, ideias, discurso e propostas.
Há 100 anos, Hermes da Fonseca (gaúcho, concorrendo pelo Partido Republicano Mineiro) venceu a eleição presidencial com 400 mil votos, ficando Ruy Barbosa (baiano, candidato do Partido Republicano Paulista) em segundo, com 220 mil.
Apenas Hermes obteve os votos hoje necessários para garantir a eleição de um deputado federal em São Paulo. Com os seus, Ruy conseguiria ser deputado em Minas e no Rio (por pouco).
Cinquenta anos depois, no apagar das luzes da República de 1945 — o mais celebrado período democrático de nossa história —, Jânio Quadros se saiu vitorioso na eleição presidencial de 1960 com 5,6 milhões de votos, acima dos 3,8 milhões de Lott e dos 2,1 milhões de Adhemar. Juntos, receberam 11,5 milhões
de votos. Menos que aqueles que Geraldo Alckmin obteve ano passado, quando ganhou as eleições para governador. Com a votação que alcançou no país inteiro, Jânio não derrotaria Antonio Anastasia em Minas Gerais. Se o universo de votantes era tão menor, o que dizer das identidades partidárias.
Por ma is festejados que ainda sejam partidos como PSD, UDN e PTB, seriam pequenos, se comparados aos de agora. Nosso sistema político e partidário cresceu tanto, em termos quantitativos, que mudou qualitativamente.
As pesquisas de opinião chegam a resultados diferentes na aferição do fenômeno, pela simples razão de que fazem perguntas diferentes. Uma coisa é simpatia, outra identificação, ainda outra afinidade.
Em uma recente pesquisa nacional da Vox Populi, que quis saber a simpatia, 56% dos entrevistados disseram, espontaneamente, o nome de um partido. Em outras palavras, menos da metade dos eleitores não simpatizaria com, pelo menos, um dos existentes.
De longe, o PT é o maior: 32% dos pesquisados afirmaram simpatizar com ele. Se pensássemos no conjunto do eleitorado, isso equivaleria a mais de 43 milhões de pessoas. Um contingente respeitável. No primeiro turno, Dilma teve 47,6 milhões de votos, apenas 10% a mais que os simpatizantes de seu partido. No segundo, foi a 55 milhões, ainda perto do que seria a base partidária de sua candidatura.
Com 10% de eleitores que com ele simpatizam, a base do PMDB seria de cerca de 13 milhões de pessoas. O PSDB vem a seguir, com 6%, ou seja, 8 milhões. Nada irrelevante, o PV está em quarto (com 2,5% do eleitorado, o que equivale a quase 4 milhões de simpatizantes), muito em função do desempenho de Marina nas últimas eleições.
Olhando números como esses, é difícil entender o pequeno esforço mobilizador que nossos partidos fazem, à exceção do PT (que, mesmo no seu caso, poderia ser maior). Salvo uma ou outra manifestação retórica e as costumeiras conclamações à filiação sem consequências práticas, eles tendem a olhar apenas para dentro de si mesmos. Parece que seus dirigentes e quadros só se interessam pela vida interior, nas brigas pelo poder e o controle de recursos que ele enseja.
No fim das contas, não é porque a população os rejeita que nossos partidos são pouco enraizados. Eles é que nada fazem para transformar simpatias em afinidades mais sólidas.
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