Por Carlos Chagas.
A indagação vem de tempos imemoriais: podem as minorias prejudicar as maiorias, impondo-lhes sua vontade e seus interesses? Estes, por mais do que justos, sendo corporativos, justificam-se? A ética e a lógica respondem que não. Mesmo assim, é o que prevalece no Brasil, hoje. Aqui na capital federal, os transportes coletivos vem parando por etapas. Anuncia-se para segunda-feira a paralização geral, por iniciativa de motoristas e trocadores. Quem perde? A população, em especial a menos favorecida, sem recursos para demandar seus empregos em carros próprios ou, mesmo, impedidos de utilizar taxis e sucedâneos.
Uma lei não escrita que deveria prevalecer no mundo inteiro é de que greve se faz contra patrão. Jamais contra o povo, cabendo então ao poder público a defesa dos interesses gerais. Nesses tempos do abominável neoliberalismo onde prevalece a livre competição entre quantidades distintas, o Estado se omite. Omitindo-se, deixa a população no abandono, com ênfase para os carentes.
Nesta mesma semana, entre muitas outras categorias, entraram em greve os policiais de Brasília. É claro que tem razão em reivindicar melhores vencimentos. Arriscam a vida diariamente, desdobram-se em plantões intermináveis, obrigam-se a enfrentar tanto o crime organizado e o narcotráfico quanto em solucionar brigas de marido e mulher. Mas se paralisam suas atividades, quem lucra, a não ser os bandidos? A maioria fica ainda mais abandonada e sujeita à criminalidade.
Falamos da capital federal, mas muito pior está sendo a situação em grandes centros como São Paulo, Rio e outras capitais. Continuando as coisas como vão, logo a nação perguntará se vale á pena manter um Estado omisso e indolente como o nosso, e que custa cada vez mais caro. No século XIX os ventos do anarquismo varreram a Europa, fazendo drapejar as bandeiras negras. Sustentavam o não-Estado, uma utopia complicada e inexequível, mas o risco que corremos é parecido. O princípio vale para a economia, onde se sustenta que o poder público não deve intervir nas atividades privadas. Na prática, prevalece nas políticas públicas.
É esse o Estado que desejamos? Para ele a população se sacrifica, além de pagar impostos aos montes, saindo de casa para votar naqueles que vão geri-lo. Vale à pena?
A HORA DE OS SOLDADOS VOLTAREM.
Por melhores que sejam as intenções e as iniciativas internacionais, um soldado estrangeiro armado transitando em terra estranha será sempre considerado inimigo pelas populações locais. Esse é o obstáculo intransponível às chamadas Forças de Paz, de Guerra ou sucedâneos. Não haverá paz enquanto tropas americanas continuarem no Iraque, no Afeganistão e alhures.
Por melhores que sejam as intenções e as iniciativas internacionais, um soldado estrangeiro armado transitando em terra estranha será sempre considerado inimigo pelas populações locais. Esse é o obstáculo intransponível às chamadas Forças de Paz, de Guerra ou sucedâneos. Não haverá paz enquanto tropas americanas continuarem no Iraque, no Afeganistão e alhures.
Vale o mesmo para a presença brasileira no Haiti. Até nossa seleção de futebol foi jogar lá, para agradar a população e demonstrar que somos amigos. Não adiantou nada. Fica indignado cada haitiano que vê passar um carro de combate cheio de soldados brasileiros, mesmo que estejam indo apaziguar uma briga interna ou até distribuir água ou comida.
Está na hora de o governo brasileiro repensar nossa presença naquele infeliz país. Somos invasores, quaisquer que pareçam os bons propósitos de impedir o caos e tentar levar a tranquilidade a uma sociedade posta em frangalhos. E de ajudar em sua pior hora, quando do terremoto. Nossos contingentes não são tidos como libertadores, mas como intrusos.
Há anos suportamos o ônus de cumprir determinações das Nações Unidas. Está na hora de nossos soldados voltarem.
HORA E VEZ DE TANCREDO.
Silvio Tendler, cineasta empenhado em recuperar a memória nacional, já nos deu monumentais documentários sobre João Goulart e Juscelino Kubitschek. Resgatou a trajetória dos dois ex-presidentes e agora dedica-se a um terceiro, Tancredo Neves. Ajudado pelo jornalista José Augusto Ribeiro, logo estará nas telas e telinhas material de primeira qualidade, destinado a se constituir em contribuição fundamental para o historiador do futuro. E para todos nós, do presente, os que conheceram e os que não conheceram a saudosa raposa política mineira.
Silvio Tendler, cineasta empenhado em recuperar a memória nacional, já nos deu monumentais documentários sobre João Goulart e Juscelino Kubitschek. Resgatou a trajetória dos dois ex-presidentes e agora dedica-se a um terceiro, Tancredo Neves. Ajudado pelo jornalista José Augusto Ribeiro, logo estará nas telas e telinhas material de primeira qualidade, destinado a se constituir em contribuição fundamental para o historiador do futuro. E para todos nós, do presente, os que conheceram e os que não conheceram a saudosa raposa política mineira.
Entre mil episódios da vida de Tancredo, vale pinçar um dos que estão sendo preparados por Silvio Tendler:
Tancredo iniciava sua campanha para a presidência da República e conversava, como quase todas as manhãs, com José Hugo Castelo Branco, Francisco Dornelles, Hélio Garcia, Mauro Salles e outros. Estava sendo um massacre, pois cada um dos interlocutores criticava o candidato, fosse por suas abordagens a respeito de temas político-institucionais, fosse por sua postura nos palanques ou até por conta das regiões que precisava e ainda não tinha visitado.
De repente Tancredo levanta-se, dedo em riste e manda que todos se dirijam porta a fora. Dispensava-os todos, com rispidez. Um deles voltou-se e perguntou: “para onde nós iremos, dr. Tancredo?”
Resposta sutil, à qual seguiu-se uma malicioso toque de humor: “ora, vão para a campanha do Maluf, que é o lugar de vocês...”
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