Editorial, Jornal do Brasil
A notícia publicada na edição de ontem deste JB, sobre mais uma Operação Choque de Ordem, permite uma boa reflexão sobre como a prefeitura deve ser enérgica e insistente na repressão à desordem urbana. A ação foi no costão da Avenida Niemeyer, ao lado do Morro do Vidigal, e de lá retirou nove construções que estavam em área de proteção ambiental. Mais grave: pelo menos em termos do local, havia reincidência. Há um ano tinham sido removidas do mesmo lugar outras construções irregulares.
A psicologia – e, de resto, o senso comum – nos ensina que as crianças testam os adultos até saberem aonde podem ir, só parando com uma determinada ação quando recebe uma forte sinalização de que aquilo não será mais tolerado. A lógica dos adultos infratores, ou que cometem crimes, é rigorosamente a mesma. Eles testam o poder público e, enquanto não houver uma resistência muito efetiva, vão continuar a transgredir. Infelizmente, há pessoas que só se enquadram com exemplos fortes, ou na base do medo.
Na operação da Secretaria Especial de Ordem Pública (Seop) estavam presentes policiais militares, que atestaram o fato de que alguns casebres erguidos no meio da mata serviam como rota de fuga, além de base de vigilância, para criminosos. Não surpreende. Normalmente, as transgressões públicas sempre têm algum tipo de crime a elas relacionado.
Tampouco é de se estranhar o depoimento dado ao JB por um morador de uma das construções irregulares. Disse ele que voltou para o local de onde havia sido retirado porque não quer sair dali. E acrescentou que não tem medo de que a casa seja atingida pela chuva e por deslizamentos.
Felizmente, a prefeitura cumpriu sua função, voltou ao local e retirou os infratores. Há quem diga que o trabalho da Seop com o Choque de Ordem equivale a enxugar gelo – este mesmo jornal usou o termo não como crítica ao poder público mas para apontar a insistência e teimosia dos que não conseguem aceitar as regras de segurança e civilidade.
Enxugar gelo, como se sabe, é inútil. A ação da Seop deve objetivar vencer pelo cansaço. Ela deve continuar dando exemplo de que combaterá incessantemente quem se estabelecer irregularmente no Rio, seja para moradia ou para trabalho. Se tiver de voltar mil vezes a um local para acabar com irregularidade, mil são as vezes que deve fazê-lo, até que as pessoas se desestimulem a transgredir.
A prefeitura do Rio não pode recuar na ação de ordenação urbana, ainda que para isso tenha de dotar a Seop de mais recursos financeiros e humanos. Não basta haver ordem, é preciso também difundir entre a população o sentimento de que há ordem, de que há alguém no comando, e que não são os criminosos, contraventores e infratores. Que se enxugue tanto gelo quanto for necessário para isso.
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