Por Bruno Mazzeo.
Domingo de manhã fui visitar meu pai no hospital. Como é de praxe nos encontros com meu coroa, ouvi muitas histórias. Um dos personagens do dia foi Geraldo José de Almeida, histórico narrador de futebol, de quem meu pai fora comentarista lá pelos anos 60. Claro, não o conheci, mas já sei, de tanto ouvir falar, que foi o autor do bordão "foi por pouco, pouco, muito pouco, pouco mesmo". Não sei se influenciado por isso, aproveitei o engarrafamentozinho na volta de Botafogo (o engarrafamento está no diminutivo pois era um domingo), desliguei o ipod e sintonizei na rádio AM.
Foi como uma rápida volta à infância. Eu nunca sonhei ser jogador de futebol. Mas já sonhei ser locutor de futebol.
Quando eu comecei a me viciar no violento esporte bretão, a TV quase não transmitia jogos. A Globo só passava as finais e jogos da seleção; a Bandeirantes tinha o "Show do Esporte", que tomava o domingo todo, mas se dedicava a outros esportes tipo sinuca com Rui Chapéu e boxe com o Maguila - o futebol se resumia aos amistosos da seleção de seniores, trazia Rivelino, Cafuringa, Djalma Dias, Edu.; a TVE reprisava clássicos de Campeonatos Cariocas anteriores com narração de Januário de Oliveira, comentários de Achiles Chirol e reportagens de Sergio Du Bocage; e só. Mais tarde a Manchete até começou a transmitir o Carioca, com Paulo Stein, Marcio Guedes, João Saldanha. Enfim, a rotina mesmo era no rádio. Seja com os programas noturnos que eu ouvia antes de dormir, como o "Panorama" e o "Giro Esportivo", das rádios Globo e Tupi, respectivamente, seja nas resenhas que ouvia voltando do colégio, como o "No Mundo da Bola", com Julio Cesar Santana, na Nacional.
Nos dias de jogos era obrigatório o "Enquanto a Bola Não Rola", apresentado por Kleber Leite, com um timaço formado por Washington Rodrigues, Luiz Mendes, Sergio Noronha, Loureiro Netto, Celso Garcia, Gerson Canhotinha de Ouro. e os "trepidantes" Denis Menezes, Eraldo Leite, Gilson Ricardo. Boa parte deles ainda em atividade. Meus ídolos eram os maiores locutores de rádio dos tempos modernos aqui no Rio: José Carlos Araújo e Luiz Penido, que vieram suceder os clássicos Waldir Amaral - "indivíduo competente!", Doalcei Camargo e, um pouco antes, Jorge Cury.
Tudo me fascinava nas transmissões do rádio: as vinhetas, a agilidade das informações, os apelidos/slogans tipo "Luiz Mendes, o da palavra fácil", os bordões, o "Piriri-piriri-piriri-piriri" - Loteria! - Chamou, falou! - Jogo 1, vai dando coluna do meio.
O radinho de pilha sempre foi meu fiel companheiro nas idas a São Januário ou ao Mario Filho. Como faziam quase todos os presentes, de modo que se podia ouvir os apitos sonoros e o "fiu-fiu" da Rádio Globo mesmo que o radinho não estivesse colado ao ouvido, como se a sonoplastia fizesse parte das caixas de som dos estádios. Isso quando o radinho não era atirado em direção ao campo em mais uma tentativa inútil de se acertar o juiz, quando isso não estava no Estatuto do Torcedor nem fazia seu time perder o mando de campo.
Hoje, com todos os jogos sendo transmitidos pelas TVs, eu quase não ouço mais rádio. O que é uma pena. Preciso me engarrafar mais aos domingos, nem que seja para voltar a ouvir rádio AM. Nas ondas do rádio, o futebol ainda é bem mais emocionante. E charmoso.
Por falar em charmoso, o Fluminense está tirando onda e tirou mais ainda apresentando um reforço "internacional", como Deco. Deu invejinha.
E por falar em emocionante, já estou contando os dias para o clássico de domingo. Um está invicto há mais de dez rodadas e lidera com folga; o outro está invicto há quase dez e, da zona do rebaixamento partiu para o flerte com o G4. Vou ao Maraca, fato. Mas antes, tenho que dar uma passada no camelô aqui perto para comprar um radinho de pilha. Se é pra ter emoção, quero que seja como nos velhos tempos.
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