quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

ENCENAÇÕES E INVERSÕES DE PAPÉIS

Por Valdo Cruz, da Folha de São Paulo.
A votação do salário mínimo no Senado foi um jogo que começou com o placar final já definido. Nem a oposição, que ocupou a tribuna do Senado para defender um salário mínimo maior, queria de fato ganhar a disputa contra o governo Dilma Rousseff.
Nas conversas reservadas no espaço reservado ao cafezinho, salão contíguo ao plenário, alguns senadores tucanos e democratas chegavam a dizer que compreendiam a decisão do governo de transformar a votação do mínimo num sinal de austeridade.
Alguns criticavam, por sinal, a indexação do reajuste do mínimo ao crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), que, nas palavras de alguns, pode virar uma bomba relógio, principalmente se a economia entrar em crise.
Houve até senador da oposição que decidiu se manifestar publicamente a favor do salário de R$ 545 por conta da ameaça inflacionária que ronda a economia brasileira neste início de ano. Kátia Abreu (DEM-TO) subiu à tribuna para dizer que o mínimo mais magro é responsabilidade do ex-presidente Lula e sua gastança no ano passado, combustível para a alta de preços que forçará o Banco Central a subir os juros mais uma vez na próxima semana.
Restou ao senador Itamar Franco (PPS-MG) e aos senadores do PSOL os discursos mais aguerridos contra o governo, destacando a inversão de papéis dentro do Senado. Os que antes criticavam o discurso de que um mínimo elevado quebrava a Previdência, agora se agarram a esse argumento para defender a proposta do Palácio do Planalto petista.
Inversão de papéis bem representada pelo senador Paulo Paim (PT-RS), identificado desde sempre com aumentos reais elevados do salário mínimo, causando inclusive muita dor de cabeça ao governo Lula.
Ontem, depois de estar com a presidente Dilma, Paim se mostrou pragmático e anunciou o voto a favor do governo. Sinal dos novos tempos petistas, em que o PT adota um papel que durante o período lulista se recusava a assumir: o de colocar o controle da inflação acima de suas bandeiras.

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