quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

A MODA DA PERSEGUIÇÃO AO FUNCIONALISMO

Por Carlos Chagas
Nos tempos modernos, a moda começou com Jânio Quadros. Depois, contagiou  Ernesto Geisel, Fernando  Collor, Fernando Henrique e agora aguarda na ante-sala de Dilma Rousseff, sem saber se será convidada a entrar ou a escafeder-se. Fala-se da perseguição  aos funcionários públicos, há muito injustamente  considerados exploradores, sanguessugas, inoperantes e supérfluos.
Jânio, além de proibir brigas de galo e desfiles de biquíni, inventou a dupla jornada para o funcionalismo, obrigado a trabalhar pela manhã, ir para casa almoçar e voltar à tarde. A produtividade começou  a cair e ele cedeu parcialmente: no Rio, trabalhariam em dois expedientes os funcionários que morassem até Cascadura, Madureira e subúrbios afins. Do outro lado da rua, mantinham o horário corrido...
Geisel era tido como ministro de todas as pastas, diretor de todos os departamentos e chefe de todas as seções do serviço público. Assim, vigiava até o horário dos garçons que serviam cafezinho no Planalto. Apesar da inflação, negou reajustes aos servidores e inaugurou a deletéria prática da terceirização.
Fernando Collor chegou vestindo o terno da modernidade, para ele a transformação dos funcionários públicos em empregados de empresas privadas, isto é, sem regalias de espécie alguma. Suprimiu os  ônibus que os  conduziam  às repartições aqui em Brasília, cidade das longas distâncias e da ausência de transportes públicos. Também extinguiu uma série de estabelecimentos públicos, da Embrapa à Portobrás.
Fernando Henrique sublimou, chamando os servidores do estado de vagabundos,  em  meio à febre privatizante responsável pela demissão de montes de funcionários. Impôs reformas na Constituição para  retirar direitos adquiridos da categoria e colaborou para a queda do nível e da performance do serviço público, precisamente o que desejava.
Acaba de assumir Dilma Rousseff, depois do interregno de oito anos do Lula,  onde as  maldades, pelo menos, foram interrompidas. Em seus primeiros atos, no bojo do  anúncio do corte de gastos, a presidente da República congelou não apenas os concursos para o serviço público, mas até a posse dos concursados já aprovados. Também mandou seu ministro da Fazenda divulgar que este ano não haverá reajuste de espécie alguma para os servidores. É cedo para saber se seguirá o curso dos antecessores acima referidos, mas as primeiras iniciativas levaram a moda da perseguição ao funcionalismo  a acampar na porta de seu gabinete. Será que vai entrar?
TOLERÂNCIA DESMEDIDA
De repente, os Estados Unidos  resolveram fazer exame de consciência e reconhecer terem sido tolerantes durante décadas com os ditadores do Oriente Médio e adjacências.  Indagam-se, contritos, como foi possível tanta complacência? Por décadas aceitaram Mubarak, Kadafi e quantos outros sheiks de nomes impronunciáveis, sem esquecer no passado  o Xá da Pérsia e  Saddam Hussein, enquanto  aliado.
Trata-se de puro farisaísmo, porque   esses montes de ditadores fizeram o jogo econômico e político dos americanos,  sendo não apenas tolerados, mas cortejados e estimulados. Mais ou menos como aconteceu na América do Sul e  na América Central no tempo  dos generais-presidentes.
Se é para valer esse arrependimento, então torna-se preciso que  sigam adiante, se  tiverem coragem, que   não tem sempre que estão em jogo seus interesses.  O que é a China, senão uma ditadura, em certos aspectos até mais dura do  que nas areias do deserto? A própria  Rússia, onde Wladimir Putin age como csar, ora presidente, ora primeiro-ministro. O Paquistão é aliado? Então o seu general deve permanecer  em Karachi.
Convenhamos, não há meio arrependimento, como não há  meia gravidez.
POR QUE NÃO FORAM?
Na celebração  dos 90 anos da “Folha de S. Paulo”, além da presidente Dilma Rousseff,  compareceram  os ex-presidentes José Sarney, Fernando Collor e Fernando Henrique Cardoso. Faltaram dois: Itamar Franco e  o  Lula. Teriam sido convidados? Nesse caso,  por que não foram?

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