Por Carlos Chagas
O Prêmio Pinóquio deste fim de semana foi para Michel Temer. Em palestra na Federação das Indústrias de São Paulo, o vice-presidente da República negou estar ligada aos interesses de seus deputados por cargos no segundo escalão a unidade do PMDB, expressa na votação dos 545 reais de salário mínimo. Acrescentou que os 77 representantes do partido na Câmara votaram em uníssono porque são governo...
A bancada peemedebista passou da revolta ao desprendimento durante as horas de votação do projeto de reajuste do salário mínimo? “Me engana que eu gosto” parece o refrão de quantos tem assistido as pressões do líder Henrique Eduardo Alves por diretorias e presidências variadas de empresas estatais, sem falar na administração direta. Por coincidência, onde as verbas orçamentárias são maiores para obras e serviços públicos.
De repente, teria saído pelo ralo a compulsão fisiológica do PMDB, substituída pelo elevado espírito de solidariedade para com o governo?
Bem que a presidente Dilma Rousseff poderia pegar Michel Temer na palavra. Já que abriu mão de seu interesse por cargos, o partido não deveria mais incomodar. Pode muito bem deixar o palácio do Planalto preencher as vagas de acordo com critérios técnicos, de competência e probidade. Para que indicações políticas e feudais se os companheiros do PMDB demonstram tanto patriotismo e amor à causa pública, a ponto de marcharem unidos em favor dos interesses da presidente?
AGORA NO SENADO
Quanto menor o universo, maiores as atenções para o que nele se desenvolve. Na Câmara, entre 513 deputados, o governo venceu por maioria absoluta, com 388 votos favoráveis ao menor reajuste do salário mínimo dos últimos anos. Quarta-feira, no Senado, com 81 representantes dos estados, qualquer defecção na base oficial assumirá proporções maiores. Talvez por isso o líder e relator do projeto, Romero Jucá, tenha passado o fim de semana em Brasília, sondando, consultando e tentando convencer possíveis dissidentes do PMDB, PT e outros partidos governistas a ensarilhar armas e integrar-se ao batalhão de Dilma Rousseff.
Fácil não parece, por exemplo, convencer Roberto Requião, Pedro Simon, Luís Henrique e Jarbas Vasconcelos, do PMDB, a votar os 545 reais de salário mínimo. Talvez nem Paulo Paim, do PT. E outros que permanecem na moita.
Salvo engano, a vitória do governo está garantida, mas cada voto contra em suas próprias bancadas será multiplicado, em comparação com as dissidências na Câmara. O risco lembra o acontecido em 1940, nas praias de Dunquerque: franceses e ingleses levaram a maior surra de todos os tempos, diante das tropas alemãs, mas o episódio ainda hoje é tido como vitória fabulosa dos aliados, que conseguiram evacuar para a Inglaterra a maioria de seus soldados. Se na contagem final do voto dos senadores o projeto for aprovado, nem por isso deixará de ser considerada a resistência dos dissidentes...
MINISTROS, APAREÇAM!
Continua sendo registrado o estranho fenômeno do desaparecimento dos ministros de Dilma Rousseff. Fora as exceções obrigatórias de Antônio Palocci, Guido Mantega, Gilberto Carvalho e mais dois ou três cujas funções obrigam a anunciar decisões e ações de governo, mais de trinta mantém-se à sombra, empenhados em não aparecer, nada anunciar e até esconder o que certamente vem realizando, porque inoperantes não são. Pelo menos nem todos.
Há uma razão maior para esse comportamento: não sabendo se vão agradar e para evitar reprimendas e desmentidos públicos da presidente, ocultam-se. Nem sequer suas agendas de trabalho são divulgadas. Em muitos casos até seus auxiliares ignoram se os chefes estão em Brasília. Melhor não fazer onda se o mar quase não dá pé.
Será injustiça fulanizar apenas alguns dos desaparecidos, quando são quase todos, mas a tentação é grande. O ministro do Turismo, por onde anda e que medidas estará adotando para incrementar essa indústria? A ministra da Pesca, já aprendeu a manejar um anzol? No setor do Desenvolvimento Social, do Desenvolvimento Industrial, dos Direitos da Mulher, dos Transportes, da Agricultura e quantos outros ramos da atividade governamental, estão produzindo que resultados?
O ministério mais parece um convento de freiras onde as irmãzinhas se escondem na capela para não ser notadas pela Madre Superiora.
Nenhum comentário:
Postar um comentário