domingo, 15 de maio de 2011

EFEITOS DA SEMANA DE DOIS DIAS

Por Carlos Chagas.
Depois  da lambança verificada  no plenário da  Câmara na noite  de quarta-feira, seguiu-se espetáculo menos explosivo mas igualmente lamentável: retiraram-se  os deputados para só voltarem terça-feira da próxima semana,  quando será retomado o processo de votação  do Código Florestal. Apesar de há décadas o Congresso paralisar suas atividades cinco dias por semana, das quintas às terças, a indignação cresce mais quando se assiste  os parlamentares deixarem  para depois decisões essenciais à sua própria razão de ser. Mais ou menos como uma equipe médica estar operando o coração de um paciente e, diante de uma obstrução inesperada, abandonar  o infeliz na maca e só retornar dias depois. O risco é de encontrar um defunto.
Foi do PT a decisão de abortar a sessão   diante da derrota iminente de seus pontos de vista. O governo estava perto de ver a bancada ruralista sair vitoriosa,  ironicamente respaldada pelo relator do projeto, Aldo Rebelo, do PC do B. Os ambientalistas iam perdendo a votação,  mas antes  perderam a compostura.  Agrediram  o deputado com acusações de “canalha!” e “traidor!” Não aceitaram a isenção para reflorestamento de pequenas  propriedades. Até o marido da ex-senadora Marina Silva foi chamado de contrabandista de madeira.
De repente, como se nada tivesse acontecido, foram todos jantar. Numa época em que se discute a reforma política, seria bom que alguém apresentasse proposta pelo funcionamento deliberativo de Câmara e Senado durante a semana inteira, exceto aos domingos.  Com desconto em folha dos faltosos e até cassação do mandato para os recalcitrantes.
PAíS RICO É ASSIM MESMOSob poucos protestos, o Senado aprovou a revisão das notas reversais com o Paraguai,   a  respeito da decisão do governo de pagar ao governo daquele país três vezes mais do que recebe pela compra da energia de Itaipu que não usam. De 120 milhões de dólares por ano, canalizaremos agora 360 milhões para Assunção.
A vitória ampla do palácio do Planalto,  seguindo as determinações do ex-presidente Lula, não impediu que senadores como Itamar Franco, Demóstenes Torres e Jarbas Vasconcelos botassem a boca no trombone, acusando a decisão da maioria de subserviente e irresponsável. Além de ter sido política, jamais técnica,  destinada a inflar o balão do presidente Lugo.
Itamar indagou  sobre quem fiscaliza as contas de Itaipu,  concluindo não ser o Senado e muito menos o Tribunal de Contas da União. A empresa binacional, para ele, é uma caixa-preta, aparentemente controlada pela Eletrobrás, hoje uma empresa de capital aberto com ações na bolsa de Nova York. Pagar mais aos paraguaios que não investiram um centavo  na implantação  e na manutenção da usina pode constituir-se numa temeridade.
Demóstenes provou que o aumento cairá sobre os ombros do contribuinte, lamentando a instabilidade da situação dos brasileiros que trabalham  e residem no Paraguai, os “brasilguaios”, desprotegidos e até  perseguidos. Pelo menos, deveríamos exigir compensações por mais essa benesse praticada em favor de nossos vizinhos.
Jarbas bateu firme no governo, lembrando que o Senado apenas  referendava uma decisão tomada  previamente pelo  Executivo.  Os recursos desviados para o Paraguai serviriam para incrementar obras e planos sociais no  Brasil.
VÃO EXIGIR MAISEngana-se quem supuser  a presidente Dilma  entusiasticamente aplaudida pela multidão,  domingo, em sua viagem meteórica ao Paraguai.  Anunciará a elevação dos recursos pagos àquele  país pela compra fictícia da energia  produzida por nós, mas receberá novas exigências do presidente Lugo. Uma delas a de limitar o número de cidadãos brasileiros que demandam aquele país,  levando capital e disposição para trabalhar. Também deverá protestar por antecipação diante das novas medidas que o Brasil adotará nas fronteiras, para cercear a ação de contrabandistas. Tomara que a chefe do governo  fale duro, lá, como tem falado  aqui, diante de seus ministros.
PROJEÇÕES FUTURASCaso a presidente Dilma venha a candidatar-se a um segundo mandato, no longínquo 2014, o PMDB reivindicará a  manutenção da chapa  vitoriosa  ano passado, quer dizer, Michel Temer indicado para a vice-presidência. Na hipótese de o candidato do PT vir a ser o Lula, da mesma forma os peemedebistas pleitearão o cargo, com o mesmo Michel Temer. Dessa forma, nos próximos doze ou dezesseis anos, o partido do dr. Ulysses permanecerá a reboque. A pergunta que se faz é se aguentará como força política de vulto, já que desde o ano passado suas bancadas na Câmara começaram a minguar. Mais duas ou três eleições parlamentares, reunidas às de governador, e a perspectiva  parece sombria.  Será por isso que o presidente interino do PMDB, Waldir Raupp, interrompeu a sessão de votação  do projeto das medidas provisórias, no Senado, para saudar o ingresso de Paulo Sckaff em suas fileiras?  Em vez de partido das massas, vai virar o partido dos empresários?

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