O CARDÁPIO É MAIS AMPLO - A polêmica em torno da estação do metrô de Higienópolis -que uma parte da elite do bairro rejeita para evitar um canal de contaminação com a 'gente diferenciada' das periferias-- antecipa o debate eleitoral de 2012 ao dar vertiginosa transparência a uma questão rebaixada pelo noticiário: quem decide São Paulo? Quem discute e opina sobre as políticas urbanas na maior cidade do país? Por que questões importantes como o traçado do metrô, a ampliação das marginas imposta por Serra como artefato eleitoral em 2010, a limpeza do rio Tietê e o que se quer com ele nas próximas décadas, assim como os malabarismos do alcaide serrista Gilberto Kassab em torno do Plano Diretor não são debatidas em audiências públicas de verdade? Amplas e com cobertura adequada e abrangente da mídia? O tucanato que manda no Estado há 17 anos e a mídia que o apóia cobram, com razão, assembléias e debates amplos para as obras federais do PAC, mas resolvem en petit comite as questões cruciais que vão condicionar o futuro da metrópole e dos seus habitantes. São Paulo não está sucateada apenas do ponto de vista urbanístico. Os mecanismos de discussão da cidade colapsaram; são mais estreitos e anacrônicos que as galerias pluviais remanescentes dos anos 50. O que se espera dos movimentos sociais e da esquerda em geral é que o churrasco da 'gente diferenciada' seja apenas o prato de entrada de um cardápio mais amplo decidido a propor métodos e políticas que devolvam o destino da cidade aos seus cidadãos. O apartheid higienista é uma realidade estruturante na reprodução da cidade. O episódio da estação do metrô evidenciou uma trinca que rechaça até remendos subterrâneos. Quais são as propostas da esquerda para reverter esse higienismo social em uma cidade funcional, republicana e democrática do século 21? (Carta Maior; 2º feira, 16/05/ 2011)
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