“Amor e Revolução” pode até ser uma tentativa bem intencionada, não duvido, mas inteiramente defasada entre a intenção e a realização. A novela prova à exaustão que, antes de esclarecer as novas gerações, é preciso antes de tudo que os autores entendam sobre aquilo que estão falando.
Izaías Almada, na Carta Maior.
A ordem veio de cima, do patrão: “Mais amor e menos revolução”. O autor da novela entendeu o recado e tascou o primeiro beijo gay da telenovela brasileira. Com o baixo índice de audiência, quem sabe assim se poderiam ganhar uns pontinhos a mais com duas mulheres se beijando... E já se anuncia também o beijo gay masculino, cenas de sexo dentro de uma igreja, fantasmas e outras armadilhas de pegar incautos para animar essa novela que já nasceu debilitada.
Ultrapassada a casa dos trinta e tais capítulos exibidos, a telenovela “Amor e Revolução”, produzida e apresentada com grande divulgação pelo SBT, trouxe consigo a expectativa de resgatar em termos dramatúrgicos um período polêmico da história política contemporânea do país e que, segundo seus próprios criadores, seria uma novela realista, baseada em extensa pesquisa e investigação sobre os anos que antecederam e precederam ao golpe civil e militar de 1964.
Uma escolha sob vários pontos de vista acertada, até porque a telenovela brasileira tem uma enorme empatia com o público, independentemente da qualidade daquilo que apresenta. E o SBT, em particular, canal que costuma ou costumava privilegiar a importação de novelas de outros países, tinha agora a oportunidade de mostrar a sua efetiva intenção de mudança, de melhorar o seu repertório nacional no gênero.
O velho e surrado adágio popular diz, no entanto, que “de boas intenções o inferno está cheio”. “Amor e Revolução” confirma o adágio: é um desastre. E sob todos os aspectos. Texto medíocre, interpretação sofrível da maioria dos atores, direção mais do que convencional, cenários alguns deles inverossímeis (a mansão do general Lobo Guerra é apenas um exemplo) se somam e se confundem num apanhado de situações muitas delas também inverossímeis, onde a política e os complexos e conflituosos caminhos que a permeiam são reduzidos a uma retórica desprovida de qualquer sentido, repleta de lugares-comuns, sendo a ação dramática conduzida por cenas grotescas de um jogo de faz de conta, onde a tortura e até uma inesperada homossexualidade feminina ilustram, no limite da ambigüidade, a escolha do título. Confusão propositada, incompetência ou desconhecimento da matéria prima?
A tal pesquisa histórica, se existiu, não ajudou lá muita coisa, pois há uma ligeira confusão cronológica em situar guerrilheiros que propugnavam pela luta armada antes mesmo de se dar o golpe em março/abril de 1964. Mas isso não é lá tão relevante assim, dirão alguns. Afinal, trata-se de um folhetim e como todo folhetim televisivo, seus ingredientes se constituem de grande carga emotiva, mas na maioria das vezes toda ela ficcional.
Como todos sabem, a ficção é o ato de fingir, de dissimular, de criar fantasias, coisas imaginárias. Como, pois, não considerar relevante uma pesquisa histórica e a realidade dela extraída? Por acaso tortura, prisões ilegais, censura à imprensa, cassação de mandatos, mortes de oposicionistas, desaparecimentos, quebra da legalidade democrática, seqüestros, exílio, tudo isso seria parte de uma ficção que o país viveu naqueles anos? Em outras palavras: mostrar esses acontecimentos, ficcionando-os indevidamente ou por falta de conhecimento do que foi de fato a ditadura brasileira de 64, absolve os autores e produtores de um confronto mais direto e verossímil com aquela realidade?
Os personagens, vindo eles não se sabe muito bem de onde, aterrissaram nas cenas como paraquedistas e começaram a discutir sobre temas delicados, polêmicos, em alguns momentos como se estivessem todos na Escolinha do Professor Raimundo. Não há qualquer preocupação em se contextualizar o momento histórico, o antes, o durante e o depois do 1º de abril de 1964, a não ser com alguns poucos e surrados lugares
Ultrapassada a casa dos trinta e tais capítulos exibidos, a telenovela “Amor e Revolução”, produzida e apresentada com grande divulgação pelo SBT, trouxe consigo a expectativa de resgatar em termos dramatúrgicos um período polêmico da história política contemporânea do país e que, segundo seus próprios criadores, seria uma novela realista, baseada em extensa pesquisa e investigação sobre os anos que antecederam e precederam ao golpe civil e militar de 1964.
Uma escolha sob vários pontos de vista acertada, até porque a telenovela brasileira tem uma enorme empatia com o público, independentemente da qualidade daquilo que apresenta. E o SBT, em particular, canal que costuma ou costumava privilegiar a importação de novelas de outros países, tinha agora a oportunidade de mostrar a sua efetiva intenção de mudança, de melhorar o seu repertório nacional no gênero.
O velho e surrado adágio popular diz, no entanto, que “de boas intenções o inferno está cheio”. “Amor e Revolução” confirma o adágio: é um desastre. E sob todos os aspectos. Texto medíocre, interpretação sofrível da maioria dos atores, direção mais do que convencional, cenários alguns deles inverossímeis (a mansão do general Lobo Guerra é apenas um exemplo) se somam e se confundem num apanhado de situações muitas delas também inverossímeis, onde a política e os complexos e conflituosos caminhos que a permeiam são reduzidos a uma retórica desprovida de qualquer sentido, repleta de lugares-comuns, sendo a ação dramática conduzida por cenas grotescas de um jogo de faz de conta, onde a tortura e até uma inesperada homossexualidade feminina ilustram, no limite da ambigüidade, a escolha do título. Confusão propositada, incompetência ou desconhecimento da matéria prima?
A tal pesquisa histórica, se existiu, não ajudou lá muita coisa, pois há uma ligeira confusão cronológica em situar guerrilheiros que propugnavam pela luta armada antes mesmo de se dar o golpe em março/abril de 1964. Mas isso não é lá tão relevante assim, dirão alguns. Afinal, trata-se de um folhetim e como todo folhetim televisivo, seus ingredientes se constituem de grande carga emotiva, mas na maioria das vezes toda ela ficcional.
Como todos sabem, a ficção é o ato de fingir, de dissimular, de criar fantasias, coisas imaginárias. Como, pois, não considerar relevante uma pesquisa histórica e a realidade dela extraída? Por acaso tortura, prisões ilegais, censura à imprensa, cassação de mandatos, mortes de oposicionistas, desaparecimentos, quebra da legalidade democrática, seqüestros, exílio, tudo isso seria parte de uma ficção que o país viveu naqueles anos? Em outras palavras: mostrar esses acontecimentos, ficcionando-os indevidamente ou por falta de conhecimento do que foi de fato a ditadura brasileira de 64, absolve os autores e produtores de um confronto mais direto e verossímil com aquela realidade?
Os personagens, vindo eles não se sabe muito bem de onde, aterrissaram nas cenas como paraquedistas e começaram a discutir sobre temas delicados, polêmicos, em alguns momentos como se estivessem todos na Escolinha do Professor Raimundo. Não há qualquer preocupação em se contextualizar o momento histórico, o antes, o durante e o depois do 1º de abril de 1964, a não ser com alguns poucos e surrados lugares
comuns usados na época, sejam eles contra ou a favor do golpe de estado.
A preocupação com os fatos e situações apresentadas, pois não se trata aqui de pura ficção e sim de trabalhar em cima de uma realidade histórica contemporânea, em si mesmo complexa, confere a boa parte dos diálogos um didatismo primário, onde a ação é substituída e explicada pela fala, num erro dramatúrgico, no caso de cinema e televisão, dos mais primários. Dou um exemplo simplista: na redação do jornal, uma senhora vestida mais à maneira dos anos 50 diz para a proprietária, qualquer coisa como: “Hoje, dia primeiro de abril começou o golpe militar no Brasil”. Como a ação, a narrativa dramática e seus conflitos, sequer mostraram uma cena que ilustrasse o golpe de estado, como a presença de tropas nas ruas, por exemplo, ou coisa parecida, optou-se por uma personagem que falasse (anunciasse) a outra a barbaridade acima. Tosco... Os letreiros do cinema mudo eram mais eficientes.
Contudo, tive a oportunidade de ouvir e mesmo de ler, apesar da fraca qualidade da novela e de seus erros primários, que ainda assim era louvável a sua presença na televisão, pois mostraria às novas gerações uma fase da história brasileira que elas desconhecem. Bobagem. Do jeito como é apresentada a novela, as novas gerações continuarão desconhecendo essa fase da nossa história política.
Discordo, pois, de tais opiniões. Onde é que a novela esclarece alguma coisa sobre a luta de classes, por exemplo, quando é disso que trata a quartelada apoiada por empresários brasileiros e a Embaixada dos EUA? Ou sobre a geopolítica que dividia o mundo entre dois sistemas políticos e econômicos opostos e que provocaram crises, levantes e guerras de independência no terceiro mundo? Ou sobre o que se chamava de Guerra Fria? Ou sobre os objetivos das reformas de base defendidas pelos progressistas e pelo programa do próprio governo de João Goulart? Ao contrário: o mote é sempre o mesmo: evitar que o Brasil se transformasse numa União Soviética, China ou Cuba.
A reunião de estudantes na UNE, incendiada no dia 1º de abril de 64, foi uma piada de mau gosto. O grupo de teatro que se reúne para falar do golpe de estado e se propõe a montar uma peça de protesto que nunca se sabe qual é, quase resvala para a debilidade mental. A família de militares que passa o tempo todo dentro de casa, com os homens fardados em seus uniformes de gala como se fossem a uma parada do dia 7 de setembro, sessões de tortura onde a forma de torturar esconde o conteúdo do próprio interrogatório, tudo isso configura um painel caricato – no pior sentido – daquilo que se viveu no Brasil nos difíceis anos da ditadura civil militar. E essa caricatura medíocre se dá à esquerda e à direita, é bom que se diga, num exercício maniqueísta dos mais rudimentares.
Tomemos o exemplo das cenas de tortura, tão comentadas a ponto de serem criticadas pelo próprio Sr. Sílvio Santos, dono da emissora. Para começar, é provável que a maior violência da tortura não seja a física, mas a moral. A humilhação de se colocar alguém nu (não sendo aqui o caso, pois a censura não permitiria, com certeza), completamente desprotegido e à mercê de algozes animalizados, não esclarece absolutamente nada, pois, além de não haver qualquer comentário sobre essa prática irracional de se interrogar um ser humano, ela é apresentada de maneira caricata, inconseqüente. A tortura, é bom que se lembre, continua a ser exercida nos dias de hoje em delegacias, presídios e reformatórios brasileiros, sem que a sociedade, como um todo, se importe com isso.
Sociedade, aliás, que não manifesta concretamente a sua indignação e a sua revolta, como nossos vizinhos argentinos, bolivianos e equatorianos, para ficarmos apenas nesses três exemplos. Seria a tortura mais violenta, intolerável e desumana só quando empregada contra presos políticos, por exemplo? Não quero acreditar em tamanha hipocrisia, mas...
Durante o período ditatorial, repito, a sociedade brasileira se calou contra a tortura, as prisões, os desaparecimentos de cidadãos, como hoje ainda se cala diante dos flagrantes casos de tortura a prisioneiros ditos comuns, ou bandidos, como a eles costumamos nos referir. Ainda é comum se ouvir entre nós que “bandido bom é bandido morto”. Sociedade que se cala também contra a prática dos crimes chamados de “colarinho branco”; como acredita nas mentiras inventadas ou criadas por certo tipo de imprensa para denegrir o passado de muitos daqueles que sofreram durante a ditadura. A última campanha presidencial deu inúmeros exemplos dessa afronta e de intolerável desrespeito para com a presidenta eleita.
“Amor e Revolução” pode até ser uma tentativa bem intencionada, não duvido, mas inteiramente defasada entre a intenção e a realização. E defendê-la, como obra teledramatúrgica, só porque pode esclarecer alguma coisa aos nossos jovens ou porque a televisão nunca falou sobre a tortura ou a mostrou, por exemplo, revela certo grau de ingenuidade de muitos brasileiros, cujo idealismo sincero, também não duvido, sucumbe diante das armadilhas de uma televisão que mistura no mesmo saco (eu diria quase que no mesmo horário) o programa do Ratinho, a Praça da Alegria e outras bobagens do gênero.
Diante da “violência” das torturas dos capítulos iniciais, (como se a televisão não escancarasse inúmeras outras violências no seu dia a dia), resolveu-se que o amor homossexual seria uma guinada fantástica na trama, pois até a frágil tentativa de se fazer um “Romeu e Julieta” dos anos de chumbo não sensibilizou os espectadores. E o golpe de 64 é reduzido a um beijo gay, numa tentativa desesperada em busca de audiência para quem pretendia apresentar com realismo o tal Brasil que as novas gerações não conheceram.
Cabe aqui um comentário sobre o depoimento de ex-presos políticos da ditadura no final dos capítulos. Homens e mulheres que deram uma parte da sua vida por um ideal, por uma luta de transformação da sociedade brasileira e que devem ser respeitados. A novela, entretanto, procura nesses depoimentos a verdade ou o grau de veracidade para conflitos que não consegue mostrar nas cenas e nos capítulos que vai construindo. Ao contrário do que supõem seus autores, torna-se um apêndice com vida própria, pois falam de suas dolorosas experiências com a emoção que falta aos personagens da trama novelesca. Se não fossem esses depoimentos, e estou sendo generoso, tudo indica que estaríamos diante de um folhetim banal sobre como brincar de guerrilheiros e militares, de bandidos e de mocinhos. E isso é muito pouco, quase nada, para quem não viveu os tais “anos de chumbo”.
A novela prova à exaustão que, antes de esclarecer as novas gerações, é preciso antes de tudo que os autores entendam sobre aquilo que estão falando.
A preocupação com os fatos e situações apresentadas, pois não se trata aqui de pura ficção e sim de trabalhar em cima de uma realidade histórica contemporânea, em si mesmo complexa, confere a boa parte dos diálogos um didatismo primário, onde a ação é substituída e explicada pela fala, num erro dramatúrgico, no caso de cinema e televisão, dos mais primários. Dou um exemplo simplista: na redação do jornal, uma senhora vestida mais à maneira dos anos 50 diz para a proprietária, qualquer coisa como: “Hoje, dia primeiro de abril começou o golpe militar no Brasil”. Como a ação, a narrativa dramática e seus conflitos, sequer mostraram uma cena que ilustrasse o golpe de estado, como a presença de tropas nas ruas, por exemplo, ou coisa parecida, optou-se por uma personagem que falasse (anunciasse) a outra a barbaridade acima. Tosco... Os letreiros do cinema mudo eram mais eficientes.
Contudo, tive a oportunidade de ouvir e mesmo de ler, apesar da fraca qualidade da novela e de seus erros primários, que ainda assim era louvável a sua presença na televisão, pois mostraria às novas gerações uma fase da história brasileira que elas desconhecem. Bobagem. Do jeito como é apresentada a novela, as novas gerações continuarão desconhecendo essa fase da nossa história política.
Discordo, pois, de tais opiniões. Onde é que a novela esclarece alguma coisa sobre a luta de classes, por exemplo, quando é disso que trata a quartelada apoiada por empresários brasileiros e a Embaixada dos EUA? Ou sobre a geopolítica que dividia o mundo entre dois sistemas políticos e econômicos opostos e que provocaram crises, levantes e guerras de independência no terceiro mundo? Ou sobre o que se chamava de Guerra Fria? Ou sobre os objetivos das reformas de base defendidas pelos progressistas e pelo programa do próprio governo de João Goulart? Ao contrário: o mote é sempre o mesmo: evitar que o Brasil se transformasse numa União Soviética, China ou Cuba.
A reunião de estudantes na UNE, incendiada no dia 1º de abril de 64, foi uma piada de mau gosto. O grupo de teatro que se reúne para falar do golpe de estado e se propõe a montar uma peça de protesto que nunca se sabe qual é, quase resvala para a debilidade mental. A família de militares que passa o tempo todo dentro de casa, com os homens fardados em seus uniformes de gala como se fossem a uma parada do dia 7 de setembro, sessões de tortura onde a forma de torturar esconde o conteúdo do próprio interrogatório, tudo isso configura um painel caricato – no pior sentido – daquilo que se viveu no Brasil nos difíceis anos da ditadura civil militar. E essa caricatura medíocre se dá à esquerda e à direita, é bom que se diga, num exercício maniqueísta dos mais rudimentares.
Tomemos o exemplo das cenas de tortura, tão comentadas a ponto de serem criticadas pelo próprio Sr. Sílvio Santos, dono da emissora. Para começar, é provável que a maior violência da tortura não seja a física, mas a moral. A humilhação de se colocar alguém nu (não sendo aqui o caso, pois a censura não permitiria, com certeza), completamente desprotegido e à mercê de algozes animalizados, não esclarece absolutamente nada, pois, além de não haver qualquer comentário sobre essa prática irracional de se interrogar um ser humano, ela é apresentada de maneira caricata, inconseqüente. A tortura, é bom que se lembre, continua a ser exercida nos dias de hoje em delegacias, presídios e reformatórios brasileiros, sem que a sociedade, como um todo, se importe com isso.
Sociedade, aliás, que não manifesta concretamente a sua indignação e a sua revolta, como nossos vizinhos argentinos, bolivianos e equatorianos, para ficarmos apenas nesses três exemplos. Seria a tortura mais violenta, intolerável e desumana só quando empregada contra presos políticos, por exemplo? Não quero acreditar em tamanha hipocrisia, mas...
Durante o período ditatorial, repito, a sociedade brasileira se calou contra a tortura, as prisões, os desaparecimentos de cidadãos, como hoje ainda se cala diante dos flagrantes casos de tortura a prisioneiros ditos comuns, ou bandidos, como a eles costumamos nos referir. Ainda é comum se ouvir entre nós que “bandido bom é bandido morto”. Sociedade que se cala também contra a prática dos crimes chamados de “colarinho branco”; como acredita nas mentiras inventadas ou criadas por certo tipo de imprensa para denegrir o passado de muitos daqueles que sofreram durante a ditadura. A última campanha presidencial deu inúmeros exemplos dessa afronta e de intolerável desrespeito para com a presidenta eleita.
“Amor e Revolução” pode até ser uma tentativa bem intencionada, não duvido, mas inteiramente defasada entre a intenção e a realização. E defendê-la, como obra teledramatúrgica, só porque pode esclarecer alguma coisa aos nossos jovens ou porque a televisão nunca falou sobre a tortura ou a mostrou, por exemplo, revela certo grau de ingenuidade de muitos brasileiros, cujo idealismo sincero, também não duvido, sucumbe diante das armadilhas de uma televisão que mistura no mesmo saco (eu diria quase que no mesmo horário) o programa do Ratinho, a Praça da Alegria e outras bobagens do gênero.
Diante da “violência” das torturas dos capítulos iniciais, (como se a televisão não escancarasse inúmeras outras violências no seu dia a dia), resolveu-se que o amor homossexual seria uma guinada fantástica na trama, pois até a frágil tentativa de se fazer um “Romeu e Julieta” dos anos de chumbo não sensibilizou os espectadores. E o golpe de 64 é reduzido a um beijo gay, numa tentativa desesperada em busca de audiência para quem pretendia apresentar com realismo o tal Brasil que as novas gerações não conheceram.
Cabe aqui um comentário sobre o depoimento de ex-presos políticos da ditadura no final dos capítulos. Homens e mulheres que deram uma parte da sua vida por um ideal, por uma luta de transformação da sociedade brasileira e que devem ser respeitados. A novela, entretanto, procura nesses depoimentos a verdade ou o grau de veracidade para conflitos que não consegue mostrar nas cenas e nos capítulos que vai construindo. Ao contrário do que supõem seus autores, torna-se um apêndice com vida própria, pois falam de suas dolorosas experiências com a emoção que falta aos personagens da trama novelesca. Se não fossem esses depoimentos, e estou sendo generoso, tudo indica que estaríamos diante de um folhetim banal sobre como brincar de guerrilheiros e militares, de bandidos e de mocinhos. E isso é muito pouco, quase nada, para quem não viveu os tais “anos de chumbo”.
A novela prova à exaustão que, antes de esclarecer as novas gerações, é preciso antes de tudo que os autores entendam sobre aquilo que estão falando.
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