DEPOIS DOS ÁRABES, EUROPEUS VÃO ÀS RUAS - O longo recuo da esquerda européia culminou nesta crise com a adoção de um plataforma indistinguível do ferramental ortodoxo feito de privatizações,arrocho fiscal, expropriação de direitos e redução de salários. A tal ponto se dissolveram as fronteiras que não por acaso o candidato do socialismo francês para enfrentar Sarkozy em 2012 seria o próprio diretor-geral do FMI, Strauss-Khan, não fosse pelo tropeço do 'socialista' em um quarto de hotel nos EUA. A direita dá as cartas e se mostra mais competente quando o assunto é impor sacrifícios e eleger inimigos da 'Nação' --à falta de comunistas, os imigrantes, por exemplo. Indignada com trajetória semelhante percorrida pelo governo Zapatero, a juventude da Espanha --45% de desemprego na faixa de 18 a 25 anos-- cansou de esperar pela renovação dos partidos e foi buscar outras fontes de inspiração, adotanto estratégia equivalente a dos jovens do mundo árabe ao ocupar praças e ruas de vários pontos do país em protestos que antecedem as eleições regionais e municipais deste fim de semana. O movimento recusa a tese da 'solução única' abraçada pela esquerda, para superar uma crise cuja origem remete justamente aos paradigmas do pensamento único neoliberal. Governos progressistas com plataformas conservadoras tem sido a norma urbi et orbi. Diz-se na França que a diferença entre um governo socialista e um neoliberal é que os socialistas fazem a mesma coisa com dor no coração. A Espanha parece sugerir que o matrimônio da hipocrisia com o arrocho já não conta mais com a cumplicidade da tolerancia e da omissão. Madri hoje é a capital de uma Europa asfixiada pelas finanças e desiludida com a seus partidos, mas que resolveu dizer basta. (Leia reportagens e coluna de Paulo Kliass nesta pág). (Carta Maior; Sábado, 21/05/ 2011)
Nenhum comentário:
Postar um comentário