Paulo Vinícius Coelho - O Estado de S.Paulo.
A juventude era a maior adversária do Brasil na última disputa de Copa América na Argentina. Em 1987, a seleção tinha Careca e Carlos, titulares no Mundial de 86, mas lançava uma geração de esperanças como Raí, Ricardo Rocha e Valdo. Como hoje, estreou contra a Venezuela. Voltou para casa depois de levar 4 a 0 do Chile - o segundo jogo também era em Córdoba.
Há mais coincidências entre as campanhas de 1987 e a de 2011. Como daquela vez, Mano Menezes dirige hoje a mais jovem das candidatas ao título - média de 25,6 anos, contra 26,8 da Argentina, 26,6 do Uruguai. O time entra em campo um mês depois de a revista inglesa Four Four Two decretar a morte do futebol brasileiro, com o título R.I.P. (Descanse em paz).
Naquela época, foi a revista francesa France Football que publicou capa com o título Qual é o seu futuro, Brasil? Com foto de Josimar, a reportagem perguntava se a seleção voltaria algum dia a ser campeã mundial.
A resposta demorou sete anos e alguns vexames para aparecer. Veio em 1994, com Romário e Bebeto
Renovação não é simples e não basta ter três craques no ataque para forjar um time campeão. Especialmente se eles têm 19 anos, como Neymar, 21 anos, como Pato e Ganso.
Há números para desconstruir o processo de renovação conduzido por Mano Menezes. Dunga foi campeão da Copa América com 12 jogadores que nenhum outro treinador havia convocado antes. Mano chamou primeiro apenas sete dos que estão na Argentina.
Não importa que Pato, Lucas e Ramires tenham estreado na gestão passada. As referências da equipe mudaram, a renovação é um fato.
Fala-se em Ganso, Pato e Neymar como se escalar os três juntos fosse garantia de formar um grande time. Espera-se a entrada de Lucas como se ganhar uma Copa América com um quarteto com idade média de 19,7 anos fosse comum.
Oito vezes a Argentina foi sede do torneio, ganhou seis e perdeu duas para o Uruguai. O Brasil não está em La Plata a passeio e nunca participou de nenhum torneio sem a pretensão de vencê-lo. A ideia é ganhar, mas não perca a noção da realidade.
A revista El Gráfico diz que o envelhecimento precoce de Kaká e Ronaldinho Gaúcho forçou o rejuvenescimento do time. É verdade. Mas na entrevista coletiva de sexta-feira, uma das perguntas a Mano Menezes questionou como é dirigir a seleção com força máxima na Copa América.
A força total, sem Kaká, jogou oito vezes. A Argentina disputou 13 partidas com o técnico Sergio Batista e o Uruguai joga junto há quatro anos.
De todas as análises, a melhor é a de Mano Menezes: "Primeiro precisamos ganhar os jogos, com as vitórias conquistar confiança e então tentar jogar bonito. Não acredito em queimar etapas"".
É possível ganhar o título. Não é o mais provável.
Mudou o parâmetro. Wagner Ribeiro, empresário de Neymar, questionado nesta semana sobre o Real Madrid trazer 45 milhões de euros para pagar a multa rescisória e oferecer 4 milhões de euros de salário anual ao craque do Santos, respondeu: "Quanto ganha o Kaká? Oito, nove milhões por ano? Por que o Neymar tem de ganhar muito menos do que isso?""
O repórter Marco Ruiz, do diário AS, veio ao Brasil acompanhar as finais da Libertadores. Voltou à Espanha dizendo que será difícil um clube europeu levar Neymar agora. "A história vai se prolongar até depois da Copa América, mas percebi um jogador disposto a permanecer no Santos. Ele é muito feliz aqui"", disse.
Na Espanha, já se percebe que o futebol brasileiro ficou mais caro. Pagar 45 milhões de euros pela multa rescisória é mais do que qualquer clube pretendia, mas é possível. Mais difícil é igualar o salário.
Hoje, Thiago Silva recebe 300 mil euros mensais do Milan. Salário alto. Quando foi para o Real Madrid, em 2005, Robinho recebia 2 milhões de euros anuais. Hoje, o clube da capital espanhola acena com 4 milhões anuais a Neymar. Esse valor pode representar empate com os ganhos anuais do craque, se ficar no Santos. O caso Neymar pode ser o primeiro a colocar o futebol brasileiro na economia do futebol mundial.
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