Por Carlos Chagas
Com direito à presença de Lula e Dilma, começa amanhã o Quarto Congresso do PT. Há quem suponha mais do que serpentinas, confetes e lantejoulas. Cresce entre os companheiros, ou parte deles, a necessidade de uma volta ao passado, com o renascer de propostas de reformas sociais profundas. Uma espécie de mea-culpa pelo fato de o partido se ter transformado em abrigo para novos burguêses e funcionários públicos, preocupados com nomeações, benesses oficiais e até contratos de ONGs fajutas.
Petistas mais jovens, em especial os de primeiro mandato, defendem que depois de oito anos do Lula, e agora pelo menos quatro de Dilma, a oportunidade é para mudanças de rumo. Estreitar o espaço neoliberal mantido pelo antecessor e reconhecido pela sucessora. Combater a miséria é louvável, mas precisa ser com direitos sociais ampliados, acima e além do assistencialismo. Desde que assumiu o poder, o PT acomodou-se ao figurino que combateu quando de sua fundação.
Lembram os inconformados com o atual perfil do partido que no Primeiro Congresso, um ano após a fundação do PT, o Lula pregou a posse dos meios de produção para os trabalhadores, bem como o aproveitamento, por eles, dos frutos de seu trabalho. Hoje, prevalece a acomodação diante do modelo perverso imposto pelas elites, sem que se ouça o governo pregar a participação dos empregados no lucro das empresas, a cogestão, o imposto sobre grandes fortunas e a taxação do capital especulativo. Dos sindicatos até os bancos, a trajetória petista nega suas origens. Resta saber se esse esforço levará a algum lugar.
TIRO PELA CULATRANoticia-se que o encontro de caciques e índios do PT servirá para desagravar José Dirceu, objeto de dura reportagem publicada pela Veja, que o aponta como eminência parda do partido e até do governo. A sorte do ex-chefe da Casa Civil é que as acusações perderam densidade diante da denúncia de que um repórter da revista teria tentato invadir seu apartamento num hotel de Brasília. Logo as atenções voltaram-se para esse episódio ainda a ser esclarecido. No que os companheiros precisam atentar é para a necessidade de não iluminarem demais o ex-deputado, respondendo a processo do Supremo Tribunal Federal. Quanto mais ele permaneça no centro do palco, mesmo ovacionado, mais seus adversários de dentro e de fora do partido acumularão munição para alvejá-lo pelas costas.
QUEM MANDA É ELABastou a presidente Dilma Rousseff comentar que os juros precisavam baixar, mesmo gradativamente, para o Banco Central perceber que quem manda é ela. Quarta-feira o Copom reduziu a taxa em meio ponto percentual e nenhuma hecatombe aconteceu. Contrariados, mesmo, ficaram os especuladores.
Ainda que lenta, a redução dos juros poderá constituir-se em fator de equilíbrio econômico e social. Felizmente o Banco Central não é mais presidido por um banqueiro internacional, mas por um técnico sensível aos ventos que podem estar começando a soprar.
NÃO CONTEM COM ELENo ministério, a poeira começou a assentar, depois de semanas de denúncias de corrupção em muitos setores. Só por milagre será constituída a CPI mista, no Congresso, para apurar as acusações. Na Justiça, porém, os processos seguem seu curso, bastantes para assustar alguns ministros hoje um pouco mais equilibrados do que antes. Permanece, apesar disso, a impressão de que pelo menos oito serão substituídos no fim do ano. E não vai adiantar procurarem refúgio no guarda-chuva do Lula. Em nenhuma hipótese o ex-presidente assumirá a função de patrono para evitar a queda até daqueles que indicou. Essa postura ficou clara quando a presidente Dilma aceitou e até estimulou a demissão de Antònio Palocci, Alfredo Nascimento, Nelson Jobim e Wagner Rossi.
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