domingo, 4 de abril de 2010

O ‘populismo’ de Jesus Cristo.
Com tantos temas políticos quentes como os que estão na praça, tais como pesquisas falsificadas ou declarações delirantes de ex-presidentes que deixaram o poder pela porta dos fundos e que agora se pretendem os salvadores não-solicitados de uma pátria que se rejubila por ver um governo chegar ao fim de forma diametralmente diferente da de oito anos atrás, alguns poderão achar que eu, como blogueiro político, não posso deixar de comentar tudo isso em momento tão preocupante da vida nacional.
Então me perguntei: como falar da mesquinhez da política no dia em que minha fé comemora a ressurreição de Jesus Cristo, o homem que mudou para sempre a face da Terra e deu início à Era Cristã? Porque, para os que compartilham esta fé que me emociona, que me norteia, que me abriga e que me sustenta, o domingo de Páscoa é um dia para dar graças por um único homem ter difundido valores que marcaram a história da humanidade.
Então me lembrei dos inúmeros estudos historiográficos e sociológicos que dão conta de que Jesus mudou o mundo através da política. Sim, porque, até então, seus conceitos não eram aceitos, ainda que continuem não sendo.
O conceito de igualdade entre os homens, por exemplo, foi uma pregação político-ideológica que gerou ao auto-proclamado Filho de Deus um tipo de oposição que, a despeito do surgimento do Cristianismo, atua até hoje da mesma forma que atuava há vinte séculos. Se Jesus surgisse hoje no cenário político, portanto, certamente lhe seria atribuída a pecha de “populista”.
Jesus enfurecia-se com a desigualdade e com os ricos capitalistas. Chegou a expulsar comerciantes de um templo a chicotadas ao se deixar tomar por um acesso de fúria e indignação contra o mercantilismo. Defendia o socialismo ao propor que todos os homens vivessem em igualdade de condições, inclusive de renda. Contestava a riqueza e a concentração de renda com o mesmo fervor que qualquer socialista de boa cepa faria nos dias de hoje ou durante a história recente da humanidade.
“Populista”, diriam Veja ou Estadão, Folha ou Globos, caso o filho de Deus vivesse nos dias de hoje e defendesse seu ideário. Sim, porque hoje não adiantaria Jesus se auto-imolar como fez há cerca de dois mil anos ao desafiar o governo de Herodes Antipas pregando contra a furiosa arrecadação de impostos por cobradores violentos que destruíam as vidas dos que se recusassem a financiar o deleite das elites dominantes, ainda que o livre mercado vigesse como defende hoje o capitalismo.
No tempo em que Jesus viveu, não existiam direitos trabalhistas exatamente como querem hoje os neoliberais. O Estado não se intrometia em atividade nenhuma, limitando-se a arrecadar. Todo o resto era privatizado para os amigos do rei. Para deixar que o povo bebesse água de um poço situado nos latifúndios da elite, havia que pagar. O Estado não se metia em uma atividade como essa ou em qualquer outra. Apenas cobrava os impostos. Era o paroxismo capitalista.
Jesus, que ousava contestar o ultra-capitalismo vigente e o Estado mínimo, foi destruído pela versão oficial, pela única versão que prevalecia nos meios de informação disponíveis, os quais pertenciam aos que tinham riqueza e estirpe como é hoje, o que lhes facultava fazerem prevalecer as versões mais mentirosas dos fatos ignorando e impedindo que se divulgasse provas em contrário exatamente como acontece hoje na grande mídia.
A tendência da opinião pública era falsificada. Apesar da enorme popularidade de Jesus, a minoria falava mais alto. Era dito ao povo que havia um clamor popular contra o “populista” Jesus Cristo, que, segundo a “mídia” de então, prometeria o impossível a um povo que estaria sendo “intoxicado” com falsas ilusões.
Nenhum deles percebeu, porém, o plano genial de Jesus. E muitos não compreendem até hoje por que o auto-proclamado filho de Deus deixar-se matar pela elite “salvaria” a humanidade, ou melhor, a parte dela que adotasse o ideário cristão. Não perceberam que a auto-imolação do dito messias, combinada com sua lendária ressurreição no terceiro dia posterior à sua morte excruciante, dividiriam a história em antes e depois de sua passagem pelo mundo (AC-DC).
Jesus Cristo pode muito bem ter sido apenas um político extraordinário que hipnotizou as massas com seu discurso então surpreendente sobre “igualdade”, que difundiu a esperança de uma vida melhor mesmo sendo do outro lado da vida. Ele sabia – e isso é o mais espantoso – que o egoísmo humano jamais seria vencido, mas também sabia que o amor sobreviveria para travar, até o fim dos tempos, a eterna luta do bem contra o mal, a luta que é a sina de todos nós. Alguns de um lado, outros do outro.
Escrito por Eduardo Guimarães.

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