quarta-feira, 28 de julho de 2010

A INTERNET

CLAUDIA LEITTE
Internet, liberdade e responsabilidade
Precisamos de uma legislação célere como a própria internet, capaz de responsabilizar e punir com o rigor da Justiça os que dela fazem mau uso.
Passo o ano inteiro viajando e, por meio da internet, consigo me manter atualizada e ter domínio da minha vida, ainda que eu esteja distante. Acesso as câmeras de segurança da minha casa em Salvador pelo notebook, leio livros, jornais e faço pesquisas.
Até onde fama seja sinônimo de reputação, conceito, renome, celebridade, sou uma mulher famosa, mas também sou esposa e mãe, e a internet me ajuda nessa conciliação. É admissível que "preconceituem" minha carreira, muito embora não faça mistério algum em torno da minha vida pessoal, pois sou uma pessoa pública.
Acho graça da criatividade alheia quando afirmam que eu fiz abdominoplastia minutos depois de uma cesárea e por ouvir alguém dizer que pensou que eu havia tomado morfina para aguentar cantar no Carnaval 29 dias depois de dar à luz Davi.
E tudo isso se propaga pela internet como se verdade fosse, sem critérios, sem me darem ouvidos. Eu entendo que é mais difícil aceitar que eu lutei com o corpo e com a mente para estar lá em cima porque tenho amor ao que faço e respeito pelos que precisam do meu trabalho. Mas é justo querer fazer de uma ilação uma verdade?
Conceituar sobre teses sem qualquer fundamento, expondo a vida alheia a tamanho escárnio?
Quantos crimes contra a honra, a história, a família ou a memória, de anônimos ou não, são cometidos todos os dias na internet?
Quantos se valem de uma rede tão valiosa para nossos dias para arquitetar o mal e por meio dela disseminar todo tipo de leviandade, abrigados no perigoso manto da impunidade?
Se o que aconteceu comigo mereceu alguma repercussão por eu ser uma figura pública, quantos anônimos e menos afortunados passam pelo mesmo drama sem ter a quem recorrer? Ou encontram caminhos tão tortuosos a percorrer que desistem pelo meio, deixando mais um crime impune?
Presumo que esse conceito antecipado sobre o "fantástico mundo da fama", associado à ociosidade e ao desrespeito, tenha levado alguém a colocar fotografias minhas num site que financia descaradamente o tráfico de mulheres.
Alguém que não acha que sou gente, que não se lembra que, apesar da suas liberdades de expressão e de escolha, sou filha, esposa e mãe de alguém.
Leis existem, ao menos no papel, mas precisamos de uma legislação célere como a própria internet, capaz de responsabilizar e punir com o rigor da Justiça aqueles que dela fazem mau uso.
E por ser mãe e também cidadã, eu desejo que no mundo virtual existam filtros o mais rápido possível. Enquanto isso não acontece, vou educar meu filho ensinando-lhe que "somos todos iguais, braços dados ou não" e que isso se estende à internet, essa terra de cegos, sem nomes ou imagens.
Também vou aconselhá-lo a ler Saramago: "Dói-me o mundo, não me conformo com o que os homens fazem aos homens".
CLAUDIA CRISTINA LEITE INÁCIO PEDREIRA, ou Claudia Leitte, 30, é cantora.
Twitter: twitter.com/ClaudiaLeitte .

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