Editorial, Jornal do Brasil
Efeito colateral bom de 2014.
O novo estatuto do torcedor, sancionado esta semana pelo presidente Lula é mais um presente à sociedade trazido pela Copa do Mundo de 2014. É fato que a rigidez trazida por essa lei é até tardia, não precisávamos organizar uma Copa do Mundo para poder organizar a convivência civilizada entre brasileiros nos estádios de futebol. Mas, como dizem as ruas, antes tarde do que nunca.
É bom que o Comitê Organizador da Copa – bem como toda a comunidade envolvida nesse evento, incluindo quem pretende ir aos jogos – saiba que essa é uma lei que precisa pegar, caso contrário, ou a Copa do Mundo não sai, ou pagaremos um mico fenomenal diante da comunidade mundial.
Talvez o ponto mais importante do Estatuto seja a repressão a atos de vandalismo, não apenas no interior das arenas mas num raio de cinco quilômetros no entorno. Pode-se tomar como exemplo o Rio de Janeiro: aqui, a Polícia Militar conseguiu domesticar os arruaceiros, e não se ouve mais falar em brigas na arquibancada. O drama passou a ser nos arredores do Engenhão e do Maracanã, onde marginais se digladiam – especialmente na Leopoldina, na Praça Saens Peña e em várias ruas do Meier. Agora, quem fizer isso e for detido poderá ser proibido de ver os jogos ou até ficar preso por dois anos.
Outro aspecto importante é com relação aos cambistas. Esse é um problema mundial, sobre o qual não podemos nos iludir e achar que no Brasil será totalmente eliminado. Mas é evidente que se pode melhorar muito a situação caótica provocada pelos contraventores a cada rodada.
A pressão sobre as famosas torcidas organizadas também é digna de aplauso, quando a lei as responsabiliza judicialmente por danos causados por seus associados – e elas já ficam quase feridas de morte quando a venda de ingressos passa a ser eletrônica e os lugares na arquibancada são numerados.
Como em quase toda a lei criada, há exageros, ainda não nasceu o legislador perfeito. Nesta, é preciso cuidado para não tolher a criatividade dos torcedores quando inventam cânticos sobre os adversários. Reprimir a torcida que incita a violência, como prevê o Estatuto, é mais do que necessário. Mas é também importante definir melhor o que seria um “cântico discriminatório”. Qualquer música cantada por uma torcida contém uma provocação ao time rival, tem nela um dado “discriminatório”. Se a polícia começar também a enxergar cabelo em ovo, acabará por atingir a beleza, a originalidade, a alegria, que devem imperar em todas as arquibancadas em estádios de futebol.
Tornar seguro, sério, profissional o espetáculo mais popular do país até justifica algum tipo de exagero inicial – com o tempo, a lei vai se moldando à realidade. Sermos campeões no campo, dependerá de Mano Menezes e seus comandados. Brilhar fora dele na Copa de 2014 – e em todos os jogos de futebol no Brasil, depende de nós.
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