LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA
A nação é imperial, e não imperialista, quando sabe que o nacionalismo do país mais fraco é necessário
TODO PAÍS rico e poderoso é "imperial" em relação aos países pobres e fracos que o cercam; os EUA são necessariamente imperiais em relação aos demais países do mundo; o Brasil o é em relação aos países sul-americanos menos desenvolvidos. Ninguém escapa da influência da sociedade mais desenvolvida.
Mas isso não significa que os Estados-nação sejam sempre "imperialistas". Um país é imperialista quando supõe que os interesses do país pobre são idênticos aos seus, rejeita o nacionalismo através do qual esse país busca formar um verdadeiro Estado-nação e se desenvolver e tenta impor-lhe sua verdade superior.
É imperial ao invés de imperialista quando, não obstante seu poderio, compreende que o nacionalismo do país mais fraco é necessário para que ele realize sua revolução nacional e capitalista e, por isso, aceita que alguns interesses de curto prazo de suas empresas sejam contrariados, porque acredita que o desenvolvimento do país vizinho será a médio prazo benéfico para seu próprio desenvolvimento.
Os EUA foram imperiais ao invés de imperialistas logo após a Segunda Guerra Mundial, mas esse foi um breve instante. Já o Brasil, desde os anos 1990, aprendeu a pensar em termos do médio prazo em relação a seus vizinhos.
Isso ficou claro em sua relação com a Bolívia, o Paraguai e a Venezuela: ao primeiro reconheceu a necessidade de o país nacionalizar sua indústria do petróleo e rever alguns contratos leoninos que dirigentes anteriores do país haviam firmado; ao Paraguai fez concessões razoáveis no caso de Itaipu. Em relação à Venezuela, mantém relações amigáveis com Chávez desde que este foi eleito.
Entretanto, setores das elites brasileiras não compreendem esse fato. De repente ficam nacionalistas e querem que o governo brasileiro "defenda os interesses brasileiros" com mais determinação.
Esquecem, assim, que quem rejeitou a Alca (Área de Livre Comércio das Américas) e começou a política sul-americana do Brasil e quem primeiro soube compreender as dificuldades e as contradições que enfrenta um governante de um país pobre e dominado por séculos, como é a Venezuela, foi o presidente Fernando Henrique Cardoso. Nessa política, o presidente Lula não inovou; apenas deu um passo adiante.
O tempo do imperialismo já passou. Quase todos os países pobres sabem que para se desenvolver precisam livrar-se da dependência externa e promover sua industrialização para, assim, realizar sua revolução capitalista.
E sabem também que essa é uma tarefa nacional muito difícil, porque, além de enfrentar os grandes países e seus interesses de curto prazo, enfrentam imensos problemas internos: baixo nível de educação, elites locais alienadas que preferem se aliar às elites externas do que a seu povo, um Estado mal organizado e permanente vítima da corrupção de capitalistas, políticos e burocratas.
O Brasil, que já realizou sua revolução capitalista, compreende esse fato. Compreende que é muito mais interessante para ele que seus vizinhos sejam nacionalistas e construam sua nação, logrando, assim, ter uma competente classe empresarial, uma ampla classe média e uma classe trabalhadora organizada. Por isso o Brasil é imperial, não é imperialista.
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