Marcos Coimbra
Ainda é cedo para fazer um balanço definitivo sobre o desempenho das pesquisas nestas eleições. Como em muitas coisas, é bom deixar o tempo passar, pois ele ajuda a reflexão criteriosa.
Quem o fará com mais cuidado e menos paixões são os cientistas sociais nas universidades. Hoje, existem vários grupos de pesquisadores no meio acadêmico voltados para o estudo das pesquisas de opinião pública, especialmente de intenção de voto nas campanhas eleitorais.
Caberá a eles avaliar se os institutos que publicam resultados (pois há outros que se dedicam apenas ao assessoramento de candidatos, conduzindo pesquisas internas) repetiram seu desempenho de anos passados. Desde a redemocratização, os brasileiros têm sido sistematicamente melhores que os americanos e europeus em termos de capacidade preditiva (se isso for, de fato, o indicador de qualidade a considerar).
Mas, e em 2010? Será que ficaremos aquém da performance de outros anos? Será que todos os institutos tiveram desempenho parecido ou alguns destoaram da média?
Nenhuma pesquisa feita ao longo das últimas semanas havia antecipado alguns dos resultados das urnas no domingo. O mais significativo, pois foi o que terminou levando a eleição presidencial para o segundo turno, foi o tamanho do voto em Marina. Todas mostravam que ela estava crescendo, mas nenhuma (das publicadas) identificou que chegaria aonde chegou.
Em Minas Gerais, as pesquisas indicavam que Antonio Anastasia se elegeria com folga, permitindo estimar que ultrapassasse seu adversário por até 1,5 milhão de votos. Abertas as urnas, viu-se que havia quase dobrado esse número, chegando perto dos 3 milhões.
Também em outros estados, as pesquisas para os governos estaduais acertaram o nome do eleito, mas não identificaram corretamente a proporção de votos obtidos, que chegou a ficar muito distante em alguns. Em pelo menos dois, onde havia uma sinalização de vitória no primeiro turno, os candidatos terão que se enfrentar outra vez. Em muitos, as eleições para o Senado revelaram surpresas.
Voltemos às eleições presidenciais. Todas as pesquisas divulgadas na véspera concordavam que a chance de segundo turno havia crescido, mas nenhuma foi capaz de garanti-lo na proporção em que veio. Sempre se pode dizer que, na margem, acertaram todas, mas é mais que isso que a opinião pública espera dos institutos brasileiros, até por que eles a acostumaram a desempenho melhor.
A performance de Marina em alguns estados superou as expectativas. Esperava-se que ela se saísse bem no Distrito Federal, mas não que terminasse em primeiro lugar. Que fosse bem votada no Rio de Janeiro, mas não que causasse o estrago que trouxe a Dilma ou que a superasse em diversas cidades importantes do estado.
Olhando as pesquisas nos oito estados em que Serra teve mais votos que Dilma, apenas em três São Paulo, Paraná e Santa Catarina a antecipação desse resultado era possível. Nos demais, todas apontavam vitória da candidata do PT, fora da margem de erro.
O que deduzir dessa lista de desacertos? Que as pesquisas erram? Que não são capazes de fornecer ao eleitor uma informação fidedigna? Que sua divulgação deveria ser cerceada, para não induzir as pessoas a um voto de conveniência assentado em referências inexatas?
Discussões como essas são comuns no mundo inteiro e não mudam o fato de as pesquisas de intenção de voto fazerem parte intrínseca da cultura democrática moderna. Acertando e errando, elas continuarão.
O que parece certo é que houve um elemento de imprevisibilidade nas eleições de domingo. Decisões de última hora, fatores inesperados, alteraram tendências que pareciam sólidas. As pesquisas não previram determinados resultados pelo simples fato de que eram imprevisíveis.
O bom é que tudo isso mostra que o efeito da divulgação de pesquisas na opinião pública é muito menor do que temem alguns. Se dependesse delas, Marina teria tido metade da votação que obteve.
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