Dunga é um personagem chato, é verdade, mas hoje é a figura mais falada do país. Assim, o que ele diz faz eco. Mesmo que não tenha muita importância ou conteúdo.
Então, para quem não sabe, o técnico brasileiro deu entrevista hoje em Durban. Pediu desculpas “ao torcedor brasileiro” pelo episódio da última entrevista. Disse que o torcedor brasileiro não tem nada a ver com seus problemas pessoais. Entenda-se por “problemas pessoais” a total ojeriza que, sabe-se lá por quê, tem da imprensa. Ele trabalhou de comentarista da Bandeirantes em uma Copa, não trabalhou? Já esteve entre nós.
Bem, que fique com seus problemas pessoais.
Dunga também adotou, certamente de forma involuntária, frase que é atribuída ao presidente Lula e virou slogan informal de seu governo. “Só quero que me deixem trabalhar”, pediu o treineiro. Que se saiba, ninguém o está impedindo.
Continuo achando Dunga um bocó. Que faz bom trabalho como técnico, até surpreendente, porque nunca foi técnico de nada e tem uma concepção do jogo que não é propriamente a mais bela e divertida — que é como deve ser o futebol, belo e divertido, essa coisa de “futebol de resultados” é pobreza de espírito; dá para ter resultados com beleza e diversão. Seu time se classificou fácil para a Copa, ganhou dois títulos, toma poucos gols, faz o que tem de fazer.
Mas é uma figura que nunca despertou grandes emoções, duvido que alguém tenha tido em Dunga seu ídolo como jogador, e a única forma que encontrou para se impor, chamar a atenção, foi a antipatia, essa postura de gaúcho macho dos pampas que faz churrasco no chão, apaga a brasa com cuspe, monta cavalo sem sela e toma chimarrão fervendo sem queimar o céu da boca.
Não é privilégio dos gaúchos esse tipo de comportamento que procura afirmar virilidade. Em São Paulo, por exemplo, expressa-se a macheza comportando-se como “mano” nos postos de gasolina nas noites de sábado; no Rio, adotando a riquíssima postura “funkeira”; no Nordeste, ostenta-se a peixeira que lava a honra, e por aí vai. Dunga se comporta como machão gaúcho apenas porque é gaúcho. Se fosse cearense, comportar-se-ia como machão cearense. Se fosse paulista, enfiaria uma meia-calça na cabeça com buraquinhos para os olhos e sairia dizendo “perdeu preibói, tá ligado?”.
Bocós e machões não escolhem onde nascer. Simplesmente nascem.
Hoje, no entanto, Dunga se esforçou para — e de novo é impossível não mencionar o presidente Lula — mostrar uma face paz & amor. Não deu nenhum coice e pediu desculpas ao torcedor brasileiro. Ainda falou da família, por conta de uma pergunta sobre a saúde de seu pai.
Uma boa edição dessa entrevista, com os trechos em que fala da mãe e do pai, de como lhe ensinaram as coisas da vida, como lhe incutiram valores morais e religiosos etc e tal, transforma Dunga em herói. Brasileiro adora esse discurso fácil. Que, no fundo, é vazio e cheio de lugares comuns. Mas pega.
Só que duvido que a Globo, responsável pela formação do caráter nacional e pelas lágrimas que devemos ou não derramar vá ser muito generosa com Dunguinha Paz & Amor no “Jornal Nacional”. Aposto em algo mais neutro. A esta altura, ter Dunga como redentor de nossas mazelas não é algo que interesse demais à emissora
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