sábado, 26 de junho de 2010

PRIMOS, PERO NO MUCHO

PASQUALE CIPRO NETO
Ontem, o Brasil queria, mas não queria muito, e Portugal queria, mas queria menos ainda.
DEPOIS DE ASSISTIR no estádio ao chocho empate entre Brasil e Portugal, saí da tribuna da imprensa e, a caminho da sala em que ocorre a entrevista coletiva dos técnicos, decidi que o título do texto de hoje seria "Se o regulamento fosse outro...".
Eu pretendia voltar ao tema que abordei terça- -feira, quando sugeri um regulamento que evitaria marmeladas ou pouco caso na última rodada da fase de grupos. Pela fórmula que sugeri, o jogo de ontem teria sido disputado para valer, sem as frescuras e o futebol zero que se viram em Durban.
Como o leitor deve ter visto, o título do texto é outro. E de onde surgiu? Vamos lá. Entrei na sala de imprensa e, ao acaso, sentei-me ao lado de um colega de "A Bola", jornal esportivo português. Trocamos duas palavras sobre o jogo, e ele me deu, de bandeja, o mote para o título da coluna. "Em português nos entendemos", disse-me, concisíssimo.
Com o proverbial laconismo lusitano, o colega definiu bem com sua frase o que foi para ele (e para nós também, não?) a trama toda do "jogo". O Brasil queria, mas não queria muito, e Portugal queria, mas queria menos ainda.
Bem que, na quinta-feira, no embarque para Durban, colegas portugueses nos disseram que Portugal não faria muita questão de ganhar, para não ter de alterar sua logística de transporte, concentração etc.
Aí vieram as entrevistas coletivas dos treinadores. Primeiro o de Portugal, Carlos Queiroz, que, quando indagado sobre a violência na partida, disse que a pergunta deveria ser feita "à equipa brasileira" (entenda-se "equipa" por Dunga, creio). Depois foi a vez de Dunga, que, ao ser abordado sobre o tema, disse que devolvia a pergunta ao colega lusitano.
Esse "embate" me trouxe à mente um episódio. Certa vez, participei da bancada do "Roda Viva", tradicional programa de entrevistas da TV Cultura.
O entrevistado era o então embaixador de Portugal no Brasil, Francisco Seixas da Costa. A certa altura, perguntei-lhe qual é, hoje, a relação entre Brasil e Portugal. "Somos irmãos ou a relação ainda é de pai e filho, de filho que um dia se rebelou e não foi mais aceito pelo pai ou de filho que se rebelou, mas foi acolhido pelo pai?"
Também lacônico, o simpático embaixador foi taxativo: "Somos primos". Gargalhada geral na bancada. As jogadas violentas que se viram sobretudo no primeiro tempo de ontem lembram bem a relação que há entre certos "primos". É isso.

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