Especulação não traz riqueza, tira
Editorial, Jornal do Brasil.
O anúncio de que o os investidores estrangeiros mudaram o perfil de seus negócios no Brasil pela primeira vez em sete anos é preocupante. O país, nesse período, atravessou com comportamento exemplar crises de graves proporções no cenário econômico internacional. Deu-se ao luxo até de emprestar dinheiro ao Fundo Monetário Internacional como reafirmação de seu status de bom pagador e, sobretudo, de uma economia em ascensão, organizada e modernizada. Sucessivas levas de indicadores sociais reforçaram o papel de destaque no bloco dos Brics – países emergentes com grande potencial. Sendo assim, o que teria levado à fuga do capital mais interessante, que é aquele aplicado em produção e geração de riquezas?
O diagnóstico é claro e antigo. Ainda que tenha conseguido ganhar corpo e crescer de uma forma geral, a economia brasileira é movida não pela filosofia desenvolvimentista mas pela filosofia monetarista. O governo trabalha com a moeda de forma a financiar seu próprio déficit. Quando as economias da Europa começaram a baquear, as primeiras a mostrarem os sintomas de doença foram justamente aquelas mais vinculadas a esse tipo de tratamento econômico. Só sobrevivemos ao impacto da crise iniciada com a Grécia e com a Espanha por termos um mercado interno pujante e capaz de sustentar o crescimento. Mesmo com tantos exemplos, não se pensou na possibilidade de mexer nos conceitos básicos em prol de uma maior estabilidade.
Para os analistas, a fuga do capital estrangeiro dos investimentos nas empresas nacionais tem uma relação direta com a incapacidade do Estado de tornar cada vez mais atraente esse mesmo tipo de aposta. Quem já tentou instalar um escritório de uma empresa multinacional no país certamente sabe da quantidade de obrigações e exigências que enfrenta. Além da burocracia paquidérmica e desnecessária em centros de negócio como Rio e São Paulo, a carga tributária continua tornando cada dólar trazido para o Brasil caro demais. Há, ainda, a questão da supervalorização do real, que deixa os produtos brasileiros menos competitivos no mercado internacional, desestimulando investimentos em ampliação da capacidade industrial. Olhando por esse aspecto, é natural que um investidor se sinta atraído pelo jogo da Bolsa de Valores, com seus índices batendo sucessivos recordes ao longo dos últimos meses.
O problema todo é que esse volume de dinheiro aplicado em mercados de risco é um bem ilusório. Não traz segurança alguma em casos de um soluço sistêmico que deixe hematomas na confiança dos investidores na economia. Ao menor sinal de problema, o apertar de uma tecla no computador pode fazer com que toda essa montanha dourada se desvaneça como uma miragem. Está na hora de o poder público prestar atenção nesse tipo de cenário. E preparar-se para relativizá-lo.
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