sábado, 2 de outubro de 2010

A DIREITONA, COESA E PERSISTENTE

Por Luiz Carlos Azenha.
Como contei a vocês, recentemente estive com João Pedro Stédile, do MST. Durante uma hora e meia de entrevista, ele deu uma verdadeira aula sobre o que imagina ser o futuro do movimento: uma parceria com a sociedade em reação aos abusos do agronegócio: concentração de terras, venenos nos alimentos, ameaça à biodiversidade. Nada a ver com o “verdismo” e a “sustentabilidade”, palavras recentemente incorporadas ao discurso da classe média que anda de jipe 4×4 e aceita que boa parte do esgoto paulistano seja jogado no rio Tietê sem tratamento (quando as enchentes acontecem, afinal, o esgoto nunca invade as casas de classe média). Nada me irrita mais que esse “verdismo” promovido na Oscar Freire, em revistas que torram papel e tintas altamente poluentes. Curiosamente, o candidato verde ao governo paulista, Fabio Feldman, fala continuamente sobre a má qualidade do diesel produzido pela Petrobras, mas nem uma palavrinha, sequer, sobre os dejetos que são despejados no rio Tietê e que ameaçam, com doenças, principalmente os mais pobres. Questão de classe, talvez!
Mas eu falava com Stédile sobre um futuro governo Dilma e ele disse que considerava a eleição dela importante por garantir aos movimentos sociais espaço para promover suas plataformas de luta social, sem repressão policial ou espionagem do aparato do Estado. Em outras palavras, ele acredita que um eventual governo Dilma manterá intactos os direitos de reunião e de manifestação, essenciais para qualquer pessoa que tenha como objetivo de vida aprofundar a democracia brasileira.
Infelizmente, no entanto, Stélide me parece ser a exceção.
O sonho da direitona brasileira não é apenas derrotar Lula em 2010 e, em seguida, esmigalhar o legado político dele, salgando a terra como se tentou fazer com Getúlio Vargas. O sonho da direitona é aprofundar o neoliberalismo no Brasil, com a submissão crescente do interesse público a interesses privados. Se para isso for necessário reprimir os movimentos reinvindicatórios, que assim seja.
A direitona age de forma coesa e consistente: abraçou a candidatura do tucano José Serra, um homem que pelo menos ostentava biografia de esquerda. E, igualmente, abraçou a candidatura de Marina Silva, uma ex-petista. Para a direitona, pouco importam os rótulos, desde que seus interesses essenciais sejam preservados. Ela é pragmática, mira seus interesses concretos e não se preocupa com os rótulos.
É importante notar que essa direitona não conta apenas com seus próprios quadros e com boa parte da classe média. Conta com nosso verdismo, o que não é exatamente uma surpresa, já que os “verdes” brasileiros, embora derivados de uma vertente nacional do ambientalismo, hoje se transformaram em veículo (submisso) das grandes ONGs internacionais — atacam a Petrobras, como faz Feldman, mas e a British Petroleum? O que surpreende de fato é que, para fins eleitorais, a direitona brasileira pode contar com uma fatia considerável da própria esquerda, cujo objetivo de longo prazo parece ser o de apanhar dos que criminalizam os movimentos sociais para “aguçar a luta de classes”. E isso lá é plataforma? A direitona agradece.

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