Por Ricardo Kotscho, no Balaio Kotscho.
O governo acabou, o poder mudou de mãos, os dois saíram de cena, mas a amizade deles continua cada vez mais forte, um caso muito raro na política e na vida. O metalúrgico que virou presidente da República e o grande empresário que foi seu vice tornaram-se amigos para sempre, daqueles de verdade, que fazem uma festa quando se encontram.
O governo acabou, o poder mudou de mãos, os dois saíram de cena, mas a amizade deles continua cada vez mais forte, um caso muito raro na política e na vida. O metalúrgico que virou presidente da República e o grande empresário que foi seu vice tornaram-se amigos para sempre, daqueles de verdade, que fazem uma festa quando se encontram.
Foi que aconteceu na terça-feira, na hora do almoço, quando o ex-presidente Lula apareceu no Hospital Sírio-Libanês para fazer mais uma visita ao paciente José Alencar, que está internado desde o dia 22 de dezembro.
“Nós rimos muito, depois teve até choro, você precisava ver”, contou-me o ex-vice ao me ligar hoje de manhã para contar as novidades e falar da visita do amigo. ”Mais do que amigo, ele é um grande parceiro, uma figura extraordinária. Juntou um monte de médico aqui, minha mulher, minhas filhas, meus netos… Ficamos contando histórias, foi uma beleza…”.
O mineiro José Alencar se entusiasma e se emociona cada vez que fala do pernambucano Lula, o velho “amigo de infãncia” que conheceu na festa de comemoração dos seus 50 anos de vida empresarial, em Belo Horizonte, poucos meses antes do início da campanha eleitoral de 2002.
O que os aproximou logo de cara, embora de origens e trajetórias tão diferentes, foi o fato de serem pessoas simples, terem estudado pouco (Alencar menos que Lula), começado a trabalhar ainda meninos para ajudar a família e, principalmente, o gosto por contar casos engraçados acontecidos muitos anos atrás quando eles nem imaginavam que um dia chegariam onde chegaram.
“Encontrei meu vice. Você precisa conhecer o Alencar”, disse-me Lula poucos dias depois, na festinha de fim de ano do Instituto Cidadania, em 2001, onde o ex-presidente vai voltar a trabalhar na próxima semana.
Agora que os dois amigos voltaram à planície, Alencar acha que Lula precisa voltar logo à atividade política, lembrando os tempos de poder. “Para quem vivia no meio daquela agitação, sempre cercado por muitas pessoas, imagino que ficar isolado é um sofrimento. Ele precisa arrumar logo uma agenda”.
Assim que passou a faixa presidencial para Dilma Rousseff, no dia 1º de janeiro, ao chegar de volta a São Paulo e antes mesmo de ir à sua casa, em São Bernardo do Campo, Lula esteve no hospital para consolar e dar um abraço em Alencar, que estava muito contrariado com a decisão dos médicos, impedindo-o de ir a Brasília para que os dois descessem a rampa juntos. “Não fica chateado, não, Zé. Nós não descemos a rampa juntos, mas entregamos o país melhor do que pegamos”.
Com muito orgulho, o ex-vice conta que substituiu o presidente por 504 dias nos dois mandatos -”quase um ano e meio…” -, mais do que alguns antecessores de Lula duraram na cadeira. Neste período, Alencar registra que assinou exatos 2.139 atos presidenciais.
Os médicos não sabem ainda quando Alencar poderá deixar o hospital, mas ele sabe que Lula já esteve lá por mais de 20 vezes para visitá-lo, desde que voltaram seus problemas de saúde, provocados por um câncer no abdome que enfrenta há 15 anos, sem nunca entregar os pontos nem perder o bom humor.
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