terça-feira, 26 de julho de 2011

EUA: A POLITIZAÇÃO DA ECONOMIA PELA CRISE

Ao mesmo tempo em que cheira a  loucura, o impasse orçamentário norte-americano empresta --como costuma acontecer no auge das crises--  uma forte dose de  transparência à realidade ao seu redor. Condensam-se ali   escolhas  que tem dividido a disputa política ao longo de todo o ciclo neoliberal  e do qual esse episódio figura como o melhor símbolo de um crepúsculo arrastado. Uma disjuntiva resume todas as demais: cortar gastos sociais ou aumentar o imposto sobre os ricos aqueles que ganham acima de US$ 250 mil/ano? É essa decisão que paralisa Washington nesse momento.  E não terá sido essa, afinal, a disputa ordenadora dos últimos 30 anos vencida pelo cânone neoliberal em boa parte do planeta onde o martelo e o cutelo conservador  plasmaram a economia e a sociedade com base em cortes de impostos, desmonte de redes sociais e redução do papel do Estado -incluindo-se aí a desregulação financeira e as privatizações? Consumada a fragilidade fiscal decorrente dessa  lapidação, deu-se a captura dos fundos públicos pelos rentistas, através do pagamento de juros de uma dívida pública crescente. A diferença agora é que o  colapso  do modelo politizou a economia, escancarando a luta de classes que estrutura a sua engrenagem, sempre caramelada de glacê científico pelo noticiário.  O esgotamento do amortecedor  fiscal, exaurido  no socorro a banca e aos rentistas,  não deixou cartilagem pública para suavizar o atrito entre ricos e pobres. A fricção é direta. Requer uma intervenção cirúrgica. É nisso que a cordura do atual Presidente democrata, que discursou ontem à noite com belas frases, vive a sua hora da verdade.  O  Brasil está num estágio  anterior. Nossa dívida pública líquida é da ordem de 45% do PIB. Deve-se pesar meticulosamente como gastar a cartilagem e o tempo disponível,  antes que os mercados e a direita extremista, vocalizada pelos  Murdochs locais, entendam que chegou a hora de acionar também o xeque-mate testado pelos republicanos. O sinal verde que aguardam -perdida até a farisaica bandeira da corrupção--  remete ao impasse cambial. Para alguns uma fatalidade diante da liquidez internacional diluviana, a inundação de dólares e a importação que enseja, de fato, é fatal  indústria brasileira.  Numa  reversão do quadro externo a fartura poderá transmudar-se em fuga de capitais. E inverter a relação 'benigna' com a inflação, pressionando-a. Nesta 2º feira a fatalidade  forçou  mais um degrau: o dólar atingiu o menor valor desde 1999. Pergunta à Presidenta Dilma: não é melhor surpreender a fatalidade com o inesperado? Antecipar-se ao xeque-mate dotando o país de um controle cambial ancorado em negociação política -a crise politizou toda economia-- evitando-se assim o temido rebote dos preços? (Carta Maior; 3º feira, 26/07/ 2011)

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