GOVERNO REAGE AOS DRIBLES DO MERCADO E SOBRETAXA A ESPECULAÇÃO CAMBIAL - Volumes tsunâmicos de capitais continuam a ingressar na economia brasilera por todos os poros. O governo dificultou alguns, outros se abriram. Nesta 4º feira, o governo anunciou um IOF de até 25% --antes era de 6%-- nas operações especulativas sobre o valor futuro do dólar. Essa roleta reúne atualmente cerca de US$ 24 bi em apostas na queda do dólar. Exerce um poder desproporcional sobre as cotações pelas facilidades intrínsecas. O especulador só precisa depositar 8% do valor da aposta, o que lhe dá enorme poder de 'alavancagem': com menos de US$ 1 milhão, pode reunir contratos de US$ 10 milhões multiplicando por 10 os ganhos com eventual queda do dólar. Esse cassino atrai capitais especulativos que ganham ainda a diferença de juros, o 'carry trade' que consiste em tomar empréstimo a juro zero lá fora e aplicar aqui a uma taxa real de 6,8%, a maior do planeta. Outro canal em alta são as operações intercompanhias, uma forma de internalizar dólares maquiados de investimento, isentos das restrições ao dinheiro especulativo.Há, ainda, o ingresso benigno de investimento produtivo real, atraído pelas boas perspectivas do mercado brasileiro. É difícil separar o joio do trigo nesse aluvião em que especuladores e tesourarias de bancos e empresas --inclusive nacionais-- muitas vezes se confundem. O conjunto forma uma avalanche que barateia o dólar e impulsiona as importações com dois efeitos contraditórios: arrefece a inflação com o ingresso de mercadoria barata, mas transfere emprego e produção para o exterior.É um corner estratégico para o qual não existe resposta estritamente técnica. No fundo trata-se de escolher a sociedade que se quer construir no Brasil. Na 3ºfeira, o empresário Jorge Gerdau, de cujas convicções conservadoras não se deve duvidar, defendeu abertamente limites ao ingresso de capital externo. Há 15 dias, metalúrgicos do ABC fizeram uma greve inédita "contra a desindustrialização". Alguns economistas de esquerda mostram-se céticos. Acham que o país perdeu o timming para agir na medida em que permitiu uma valorização cambial tão grande. Reverter a roda agora trará custos proporcionais ao exagero registrado em sentido contrário. No fundo, explicam, a desordem cambial reflete um desarranjo mais amplo nos preços básicos da economia entre os quais a taxa de juros se sobressai como um aspirador que suga recursos ao rentismo, em detrimento de outras prioridades. Reordenar essa equação requer uma negociação política mais ampla. O antídoto ao rebote da inflação, por exemplo --ameaça embutida no caso de um controle cambial que encareça subitamente as importações-- está numa repactuação das bases do crescimento. Mantida a equação ortodoxa não tem saída: é desindustrialização ou inflação. Com a palavra, sindicatos, partidos e movimentos sociais. (Carta Maior; 4º feira, 27/07/ 2011)
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