Inflação de serviços é a maior em 14 anos
MARIANA SCHREIBER
MARIANA CARNEIRO
Com mais dinheiro no bolso e sem medo de perder o emprego, o brasileiro está viajando mais, aumentou o investimento em educação e os gastos com saúde e beleza. O lado ruim da história é que os preços de serviços são os que mais sobem e têm pressionado a inflação.
A alta de preços no setor acumulada em 12 meses chegou a 8,75% em junho. É o maior patamar desde 1997 e está acima da inflação média do país, de 6,71%.
Nem em 2003, quando o custo de vida no Brasil subiu 17%, os serviços aumentaram tanto. Na época, a principal pressão inflacionária veio da desvalorização do real, devido à desconfiança dos investidores com os rumos da economia no governo Lula.
Agora, segundo diagnóstico do Banco Central, boa parte da remarcação de preços é reflexo do aumento da renda e da lenta expansão da oferta de serviços. Desde 2007, a demanda tem subido a uma taxa de 2,5% por trimestre até dezembro do ano passado. A oferta cresceu 0,8%, diz o BC.
O professor da Universidade de Brasília Jorge Arbache explica que o aumento do consumo em educação, saúde e lazer estão ligados a urbanização, envelhecimento da população e sofisticação do consumo na sociedade.
Mas, se a procura cresce, a oferta fica limitada pela baixa produtividade no setor --conceito que define o quanto é produzido por custo de hora trabalhada.
O vice-presidente do Banco Mundial Otaviano Canuto explica que a atividade tem pouca exposição às inovações no exterior: "O que foi feito [ganho de competitividade] na indústria, com o processo de abertura comercial nos anos 90, nunca aconteceu nos serviços".
Importar serviços é coisa rara, pois depende da aproximação entre consumidor e fornecedor.
Mas, segundo Canuto, é possível atrair estrangeiros que queiram investir em áreas como construção civil, seguros e grandes obras de infraestrutura do governo.
INVESTIMENTOS
Outro empecilho ao aumento da oferta é a reduzida capacidade de investimento. A professora da FGV-SP Anita Kon lembra que, nos serviços prestados às famílias, a informalidade é alta. E a qualificação, em geral, é baixa: "Isso dificulta o acesso ao crédito para investimento".
Além disso, segundo o pesquisador do Ipea Alexandre Messa, o setor tem mais dificuldades em substituir mão de obra por máquinas.
"Um garçom, por exemplo, tem um máximo de mesas que pode atender ao mesmo tempo. Ele não consegue aumentar isso de ano para ano. O mesmo acontece com um médico, um professor."
O economista-chefe do Bradesco, Octávio de Barros, afirma que os investimentos em serviços cresceram 28% no primeiro semestre e a oferta está reagindo. "A inflação dos serviços deve ceder lentamente", prevê.
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