terça-feira, 26 de julho de 2011

OS 80 ANOS DO MESTRE


Telê Santana completaria hoje, 26 de julho de 2011, 80 anos. Sempre que escrevo ou falo sobre ele, vem a lembrança de um dos profissionais – jogador e técnico – decentes, corretos, honestos, que conheci em mais de 50 anos de jornalismo esportivo. Não só por sua própria formação moral, mas pelos exemplos que teve de seu grande mestre no futebol: Zezé Moreira, outra figura admirável.
Como jogador, Telê Santana foi sempre muito disciplinado e leal, incapaz de atingir qualquer adversário, ainda que fosse provocado. Tecnicamente, pode até não ter sido brilhante, mas foi sempre de muita utilidade, principalmente pelo desempenho tático que exercia, fiel ao cumprimento das instruções que recebia de seus técnicos, especialmente de Zezé Moreira, o primeiro e mais importante que teve.
No time campeão carioca de 1951, aos 20 anos, Telê – na época, simplesmente Telê, o sobrenome Santana veio depois que passou a ser técnico, em 69, também campeão no Fluminense - teve papel importante, inclusive na final, quando jogou de centroavante, substituindo Carlyle, e fez os gols da vitória (2 a 0) no segundo jogo da decisão com o Bangu.
Telê e Castilho - outra grande saudade, o melhor goleiro, entre tantos bons que vi – foram os únicos que disputaram os 22 jogos do título de 51, com 16 vitórias e 54 gols (23 de Carlyle, artilheiro do time e do campeonato). O time-base, no 2-3-5 da época: Castilho, Píndaro e Pinheiro; Vítor, Edson e Lafaiete; Telê, Orlando, Carlyle, Didi e Joel. Telê fez nove gols.
Telê seguiu se destacando em 52, campeão da II Copa Rio, torneio com times importantes da America do Sul e da Europa; em 57, campeão invicto do Rio-São Paulo, que o Fluminense foi o primeiro do Rio a ganhar; em 59 outra vez campeão carioca, então já atuando pelo meio – Castilho, Jair Marinho e Pinheiro; Edmilson, Clóvis e Altair; Maurinho, Paulinho, Valdo, Telê e Escurinho – e em 64 encerrou a carreira.
Convivi muito com Telê e a ele devo o prazer de ter sido apresentado à cozinha árabe, quando me levou à Saara para almoçar no Sírio e Libanês, com Nazir Nassar, diretor de futebol do Fluminense. Era começo de abril de 64, ele jogando no Madureira, eu repórter da Rádio Nacional. Quando pintou a II Volta ao Mundo do time, ele me indicou e fui o jornalista da delegação, na melhor viagem da minha carreira, primeiro jornalista esportivo das Americas a entrar em Cantão, Pequim e Xangai, na então fechada China do líder Mao-tse-tung.
Telê começou vitorioso como jogador e prolongou o sucesso como técnico, ganhando o primeiro título no primeiro ano de trabalho, em 69, no Fluminense, com apenas duas derrotas em 18 jogos dos quais ganhou 12. O primeiro time de Telê Santana campeão, no 4-2-4 da época: Félix, Oliveira, Galhardo, Assis e Marco Antonio; Denilson (Silveira) e Lulinha; Wilton, Flavio, Claudio e Lula.
O auge de Telê como técnico foi a seleção de 82, que encantou o Mundo na Espanha, mas não ganhou a Copa. Bem me lembro que depois da derrota (3 a 2) para a Itália, no estádio de Sarriá, em Barcelona, os jornalistas europeus diziam a uma só voz: “A Copa acabou hoje. A melhor seleção acabou de sair”. Eles se levantaram para aplaudir quando Telê Santana entrou na sala de imprensa.
Telê Santana não era apenas bom técnico. Sabia selecionar. Com critério, equilíbrio e inteligência, sem bairrismo, sem regionalismo, sem pressão de empresários que queriam negociar jogadores. Quando se fala da história das Copas, a seleção de Telê Santana, com Leandro, Júnior, Falcão, Cerezo, Sócrates, Zico, Éder será sempre lembrada. Encantou o mundo, mas não ganhou a Copa.
26 de julho de 2011. Saudade de Telê Santana. Um passado sempre presente no coração dos que nunca deixarão de sentir saudade do futebol-arte, bonito, elegante, limpo, sem carrinhos, sem pontapés. O futebol com a imagem que ele deixou para ser sempre lembrada. Com saudade. Muita saudade. Principalmente pelos que gostam do que é bom.

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