SOCIALISMO EUROPEU TENTA RENASCER NA ESPANHA - "Há quem duvide que os votos sejam mais importantes que os mercados. Gente que acredita que a política perdeu a batalha. É preciso retomar o discurso por aí. É preciso dizer que os problemas atuais tem sua origem em decisões que foram tomadas na política e devem ser corrigidos por meio da ação política. Os problemas do mundo são políticos. E é a política que deve romper a lógica de privilégios para poucos e perdas para todos". As palavras de Alfredo Rubalcaba, ex-ministro do Interior de José Luis Zapatero, no lançamento de sua candidatura às eleições de março de 2012 pelo PSOE marcam um divisor no esfarelamento da socialdemocracia européia diante da crise que bate forte na UE, mas sobretudo na Espanha, Portugal, Grécia, Irlanda. Desgastado por decisões econômicas e sociais que mergulharam seu governo na indiferenciação do receituário neoliberal e acossado pelas maiores taxas de desemprego da Europa, motivo de forte descrédito junto à juventude 'indignada', o primeiro-ministro Zapatero tenta a volta por cima numa sucessão ameaçada pela desilusão da esquerda e pelos avanços regionais da direita. O nome de Rubalcaba foi consagrado na reunião do PSOE deste sábado montada para sinalizar uma espécie de retorno aos princípios dos socialistas espanhóis: Estado, democracia e desenvolvimento social foram os eixos norteadores dos compromissos resgatados. "A banca pode esperar, a juventude não"."Devemos destinar uma parte dos lucros dos bancos para a criação de empregos". "Recuperar as finanças públicas com imposto sobre a herança". "Não ceder às privatizações, sobretudo a privatização do sistema de saúde" . "Criar um imposto sobre transações financeiras". Essas foram algumas das bandeiras da tradição socialdemocrata européia ressuscitadas no pontapé pela sucessão de Zapatero. A guinada à esquerda do PSOE tonou-se o assunto do dia da agenda política espanhola. Ela contrasta vivamente com decisões e discursos de outros partidos socialistas, casos da Grécia e de Portugal, mas do próprio governo Zapatero diante da crise. A 'virada' do PSOE pode sinalizar um ponto de inflexão na hegemonia da agenda conservadora na UE, refletida na desilusão crescente dos 'indignados' com a esquerda e em sucessivas vitórias eleitorais da direita. A União Européia tornou-se o epicentro da crise mundial. A rendição socialdemocrata tranformou o continente no principal laboratório de ressurgências mórbidas de práticas e princípios que origiram o maior desastre capitalista desde 1929. A disputa pela sucessão de Zapatero pode mudar esse roteiro de submissão aos mercados. (Carta Maior; Domingo, 10/07/ 2011)
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