RODRIGO MATTOS
Escalado para enfrentar a Grécia, hoje, o atacante Agüero diz, em tom monótono, que tanto faz pegar México ou Uruguai nas oitavas de final -a Argentina está quase classificada. "Acho o mesmo", concorda Otamendi, outro titular de ocasião.
A concordância entre os dois se repete cinco vezes. Um responde, e o outro afirma pensar do mesmo jeito.
O discurso ensaiado virou uma regra da seleção argentina. Faz parte de um "teatro maradoniano" que deixa só o técnico como responsável por formatar a imagem de seu time durante o Mundial.
Os atletas argentinos evitam opinar sobre times adversários, sobre qual a melhor função para atuar ou sobre suas chances de título.
É Maradona que diz que a Itália é uma "confusão", a França, uma "desilusão", e o Brasil, o grande favorito.
Como o técnico insiste em dizer que tem 23 titulares, todos os jogadores exaltam o fato de que cada um deles tem condição de jogar.
Já que o treinador exalta o estilo ofensivo da seleção -"Nosso objetivo é jogar como gostamos e nos divertir"-, todos repetem que o jogo de ataque é a prioridade.
Porque o comandante reclama de faltas adversárias e juízes, todos jogadores protestam pela falta de cartões nas trombadas em Messi.
DISCURSO UNÍSSONO
Com falas no mesmo tom, os atletas também não se expõem em treinos. Usando o limite que a Fifa lhe permite, o técnico só concede aos jornalistas 15 minutos de exibição. Quando as câmeras entram no campo, só práticas rotineiras, como chutes a gol.
Maradona não mostra seus jogadores em treinos coletivos, em que se podem observar táticas da equipe.
Muitas vezes os titulares já deixaram o campo. "Se é para vê-los de costas, por que me deixam entrar?", questiona um fotógrafo argentino.
O centro de treinamento, na Universidade de Pretória, é dos mais reclusos, com quilômetros entre atletas e fãs.
Só ontem, quando tiveram de ir a Polokwane para a partida, os jogadores foram para hotel aberto ao público. Mas a segurança isola a área.
Sob as câmeras, é Maradona quem brilha, com gritos de incentivo ou com óculos escuros dados pelo neto.
No máximo, é dada a palavra a Mascherano. O capitão do time pode se arriscar e dizer que é um Mundial em que a tática prevalece sobre o talento. Questionado sobre o mesmo assunto, Agüero concorda. "Fico com as palavras de meu capitão." Cai o pano.
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