Por Eduardo Guimarães.
As campanhas eleitorais em todos os níveis estão a (praticamente) uma semana daquele momento único da democracia em que o povo dá o seu veredicto final sobre tudo o que foi dito pelos protagonistas da disputa política – sobre si e sobre os adversários. E, claro, do que disse a imprensa sobre esses contendores.
Apesar de ser praticamente impossível encontrar um eleitor de Dilma, de Serra, de Marina ou de algum candidato nanico – ou até de ninguém – que tenha a mínima dúvida de que a revista Veja, a Folha de São Paulo, a Globo ou até o Estado de São Paulo lançarão um último “escândalo” contra Dilma no undécimo momento da campanha eleitoral, tenho lá minhas dúvidas de que isso ocorrerá.
Mesmo que nos últimos sete anos e tanto a mídia de direita e o grupo político comandado por Serra e pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tenham se recusado a entender que através de acusações ao PT não induzirão o voto no PSDB ao ponto de levá-lo de volta ao poder, não acredito que essa grande mídia seja totalmente estúpida, como pensam muitos.
Já escrevi aqui que “Eles não rasgam dinheiro”, ou seja, que não são loucos ou idiotas completos. Pelo contrário: contam com cabeças bem mais frias do que as suas para analisarem estratégias políticas sob prismas bem mais racionais do que os usados pelos Otavinhos da imprensa golpista.
Como todos sabem, sempre mantive – e sempre manterei – interlocução com expoentes dessa “grande” imprensa que se interessem por dialogar comigo. Bem sei, portanto, a razão pela qual essa gente não desiste da estratégia de escandalizar o nada. Acham que, se não fizessem isso, seria “pior”, pois Lula teria hoje 100% de aprovação, por mais que seja uma hipótese descabida.
Desta maneira, direi a vocês uma conclusão à qual acredito que os aparatos oficial e extra-oficial de comunicação de Serra estão chegando. Seguramente, ele está sendo alertado pelos especialistas de que sua estratégia de acusar a adversária através desse seu aparato midiático foi um rotundo fracasso.
Após cerca de um mês e meio de artilharia pesada contra Dilma, de condenações peremptórias dela, do PT e do presidente Lula por grandes meios de comunicação que, concomitantemente, fizeram de tudo para transformar o belicoso Serra em vítima, a montanha pariu um rato.
Todas as pesquisas de opinião mostram o que digo. Apesar de a mídia ter abolido o princípio da margem de erro nas pesquisas, dando manchetes que dizem que Dilma teria perdido pontos sobre a soma dos adversários sem considerar que tudo se dá no âmbito da imprecisão estatística provável, foi isso o que aconteceu.
Trocando em miúdos: como as tais diminuições de vantagem de Dilma captadas pelos indefectíveis Datafolha e Ibope ficaram dentro da margem de erro estatística, é possível dizer tanto que houve essa diminuição quanto que não houve qualquer diminuição das intenções de voto da candidata do PT.
Com efeito, o noticiário vem tentando induzir a sensação de que finalmente Dilma teria sentido o golpe do
bombardeio tucano-midiático mesmo que tudo não passe de especulação baseada em pesquisas que são desmentidas pelo instituto que mais tem acertado, o Vox Populi, que não detectou perda de vantagem da petista nem dentro da margem de erro.
Não foi por outra razão que o polêmico diretor do Ibope, Carlos Augusto Montenegro, deu recente declaração de que o eleitorado está tendo a “impressão”, de que as acusações tucano-midiáticas contra Dilma não passam de “jogo eleitoral”.
Desta maneira, penso que o uso da surrada tática de fazer alguma acusação pesada contra Dilma quando não houver mais tempo para ela se defender na tevê e no rádio será repensada pelo candidato tucano e pelos seus Otavinhos.
Lembremo-nos, neste ponto, da teoria que embasou o prolongamento do bombardeio midiático da mídia contra Dilma, a teoria da pedra no lago, segundo a qual as denúncias levariam algum tempo para se propagar do centro “esclarecido” da opinião pública para as suas margens ignaras. Por essa teoria, deixar o ataque para a última hora seria ineficaz.
Ocorre que essa teoria foi desmoralizada (de novo), nesta campanha eleitoral. As ondas no lago, que propagariam as denúncias tucano-midiáticas, não passaram de marolinhas. O fato é que, com uma comunicação veloz como a de hoje, há dezenas e dezenas de milhões de pessoas que tomariam conhecimento, rapidamente, de qualquer acusação.
A reação indiferente do eleitorado a uma das maiores campanhas difamatórias que já se viu durante um processo eleitoral se deveu a provas que inexistiram. É justamente o setor mais informado da sociedade que logo se deu conta de que essa campanha tinha objetivos eleitoreiros exatamente como nas eleições passadas.
Foram acusações grosseiras, produto de uma crença inexplicável dos autores em uma burrice popular que este blogueiro sempre disse que inexistia.
O caso da quebra de sigilo de tucanos e da filha de Serra foi solucionado – tinha relação com o tráfico de informações que sempre existiu na Receita – e o PT não tinha nada que ver com o peixe, ainda que a mídia se recuse a admitir.
Sobre o caso Erenice, apesar de ter sido dito que o afastamento de membros do governo – inclusive da própria Erenice – provaria alguma coisa, ao mesmo tempo em que essa coalizão tucano-midiática dizia isso também dizia que a atitude correta do governo seria a de afastar os envolvidos. Só que a direita pensa que o povo é burro demais para perceber.
Se vier mais alguma bala de prata contra Dilma, portanto, terá que ser alguma coisa muito bombástica. Nas últimas semanas, aliás, surgiram diversos balões de ensaio do PSDB sobre que tipo de denúncia poderia ser feita para abalar uma decisão do eleitorado que parece cada vez mais cristalizada.
Enumeremos, pois, essas possibilidades acusatórias:
1 – Denúncia de crime, provavelmente de roubo ou de morte.
2 – Denúncia envolvendo orientação sexual e má conduta com algum parceiro
3 – Denúncia envolvendo o caráter, como um vídeo em que Dilma humilharia subalternos.
Seria muita burrice virem com apenas mais um pseudo escândalo de corrupção. A menos que tenham alguma prova irrefutável de que Dilma corrompeu ou foi corrompida. Mas será que fariam aposta em ataques desse nível sabendo que todos estão esperando por eles?
Dirão que meu conceito sobre o irrefutável é menos elástico do que o da imprensa golpista e do seu lunático candidato a presidente. Concordo. Mas Serra, de quem fatalmente será a decisão sobre a bala de prata final, parece-me um disciplinado seguidor de marqueteiros e estes já devem estar pensando em lhe dizer a verdade.
Que verdade? Essa que já disse, de que todos estão esperando pela última denúncia contra Dilma e de que ir ao pleito sem ter tentado um último golpe sujo pode ser bom para a biografia de Serra e para os votos da oposição, que a mídia já reconhece que sofrerá um duro revés na representação parlamentar.
Um governo Serra, vale dizer, seria praticamente inviável. Ele teria muita dificuldade para governar com um parlamento posto em pé-de-guerra por uma campanha eleitoral suja ao impensável. Sendo assim, declaro que o disparo de uma última bala de prata contra Dilma não está confirmado, mas tampouco está descartado.
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