sexta-feira, 22 de outubro de 2010

ESPORTE OU BUSINESS

Por Marco Aurélio Mello, DoLaDoDelá.
Quando fui trabalhar naquela que já foi a mais importante emissora de televisão do país, mas que hoje tenta espremer a realidade para contê-la dentro da cabeça de um candidato oco, estávamos diante de um império. A corte do Cosme Velho tinha tentáculos por toda a parte e um de seus órgãos vitais plantado na Avenida São João, centro de São Paulo.
Naquela ocasião, anos 90 do século passado, diziam que quem pagava nossos salários era o esporte. O jornalismo da emissora era bancado pelo futebol e a fórmula 1. Isso era até razão de certo mal-estar entre os colegas. Afinal, jornalistas do esporte nunca gostaram de se submeter às idiossincrasias dos editores-chefes dos telejornais, pouco habituados à rotina de treinos, concentrações, rodadas à noite, nos fins de semana, tudo o que faz da editoria do esporte um "universo paralelo".
Mas às vezes as rusgas não terminavam aí. Era comum o jornalismo dar peso excessivo à determinada informação que para o pessoal do esporte não tinha tanta relevância, e vice-versa. Nessas horas, uma figura emblemática sempre lançava mão de um clichê, que ficou bem conhecido nos corredores: esporte não é jornalismo, é business.
Se a receita do negócio esporte continua tendo impacto tão relevante no departamento, não deve ser boa a notícia de que o Cade, O Conselho Administrativo de Defesa Econômica decidiu extinguir a preferência da Rede Globo na negociação dos direitos de TV do Campeonato Brasileiro. O acordo para por fim ao Cartel foi costurado pelo órgão com a emissora e o Clube dos 13 esta semana e vale já para a negociação das edições de 2012 a 2014.
Antes da decisão funcionava assim: a Globo tinha direito de cobrir qualquer proposta concorrente, mesmo que ela viesse em envelope fechado. Agora, a emissora irá concorrer igualmente com suas rivais, mas pode manter a sua exclusividade, caso vença novamente a disputa.
Os direitos de transmissão agora serão separados: TV aberta, TV por assinatura, pay-per-view, internet e celular. No entanto, os contratos não excluem a possibilidade de que uma empresa adquira todos em conjunto. Nem a Globo, nem o Clube dos 13 quiseram falar sobre o assunto.
Minha interpretação é que pode estar em curso o desmonte da preferência da Corte pela exclusividade e, melhor, todos ganham: a concorrência, que terá que se qualificar, caso queira entrar na disputa, o Clube dos 13, que pode aumentar sua receita e importância, os clubes fortes em seus estados mas que não gozam de privilégios de transmissão e o melhor de tudo: futebol às oito da noite. Este é o sonho de 10 em cada 10 torcedores.
Onde tem mais torcedor, maior é o espetáculo, mais cobrança, mais fiscalização e mais disputa. Todo futebol ganha com isso.

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