Antes de 31/10 o Brasil espera respostas para 15 questões pontuais.
Se a imprensa quisesse teria muito trabalho por realizar. Bastaria ver as muitas matérias interrompidas abruptamente, as notícias sem continuidade, as manchetes anunciando que ontem pela manhã, por volta das 5h45m o mundo acabou.
Washington Araújo, Carta Maior
Pois bem, se a imprensa quisesse... não precisaria ficar se exercitando qual hamster passeando em sua roda-gigante dentro de sua minúscula gaiola... E também não teria que ficar repetido à exaustão que “tudo está indefinido”, que somente com “a abertura das urnas” saberemos alguma coisa (?), que “as pesquisas mostram números ligeiramente alteradíssimos”, que “os votos do PV não são do PV, são de Marina” ou outra variante afirmando que “os votos de Marina não são de Marina são do PV”.
É um festival de coisa morna, que longe de queimar a língua, no máximo lhe fa sentir quão desagradável é a coisa morna, seja leite morno, seja escândalo morno, seja opinião morna, seja notícia morna. A cobertura da imprensa destas eleições presidenciais se alterna entre o frio e o morno e qualquer calorzinho existente parece nascer do lado partidário da imprensa, aquela que mais se autoproclama isenta, independente, acima das ideologias, acima das eternas rusgas entre governo e oposição.
Mas, se a imprensa quisesse teria muito trabalho por realizar. Bastaria ver as muitas matérias interrompidas abruptamente, as notícias sem continuidade, as manchetes anunciando que ontem pela manhã, por volta das 5h45m o mundo acabou. Seria preciso, tão somente, responder, se possível ainda antes do dia 31 de outubro, a questões como as que enuncio a seguir:
1. Porque o avanço do tema aborto cruzava o Brasil como se planasse em céu de brigadeiro e, logo após “a publicação do relato de uma ex-aluna da mulher de Serra dando conta de que ela (Monica), em sala de aula, revelou já ter praticado um aborto” eis que o tema desaparece do noticiário com tal velocidade que até falar da construção da Transamazônica, nos momentos mais dolorosos do governo Médici pareceria notícia com muito mais cheiro de novidade para este segundo turno que a tal difundida questão do aborto?
2. Tendo o tema descriminalização do aborto se levantado como onda de 11 metros, com a informação de que Monica Serra, mulher do candidato a presidência José Serra (PSDB), teria feito um aborto durante o período em que o tucano viveu exilado no Chile e... procedendo de “gente com ficha limpa”: da bailarina e ex-aluna de Monica Serra na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Sheila Canevacci Ribeiro... fica a interrogação: cadê o jornalismo investigativo buscando ouvir ao menos mais 5 ou 6 alunas da professora Mõnica, ex-colegas de Sheila Ribeiro sobre o assunto?
3. Porque uma simples nota da Assessoria do PSDB negando o aborto da mulher de seu presidenciável ao invés de deixar a onda se acabar na praia não produziu o que se esperaria de um jornalismo minimamente independente: aumentar o esforço investigativo em torno do caso? Afinal, não era ela que há algumas semanas panfletava em Nova Iguaçu (RJ) bradando que Dilma Rousseff (PT) “é a favor de matar criancinhas”?
4. Porque partiu de um líder católico, Dom Luiz Gonzaga Bergonzini, bispo da antes pacata Guarulhos (SP) a encomenda de impressionantes 20 milhões de panfletos, com assinatura de sua entidade-mor, a CNBB, com ataques claros e diretos à candidata da continuidade governista Dilma Rousseff?
5. E se em nota a própria CNBB afasta dos lábios sacerdotais o cálice amargo encontrado em Guarulhos... quem teria autorizado a impressão de sua chancela?
6. Como Dom Bergonzini conseguiu levantar tanto dinheiro para ação tão meritória e tão distante de ser considerada alinhada com as mensagens que há 2.000 anos sopram dos Evangelhos de Lucas, João, Mateus e Marcos?
7. E se não era dinheiro resultante de dízimos e doações de sua própria diocese, de onde viria tão elevada quantia – cerca de algo entre R$ 600 mil a R$ 800 mil - de que casa bancária e de que 'conta partidária' teria sido debitada?
8. E na outra ponta: em que conta da diocese de Guarulhos teria ido parar a dinheirama?
9. Paulo Preto, personagem de outro escândalo levemente noticiado no principal telejornal da tevê brasileira, estaria envolvido com a gráfica demandada por Dom Bergonzini?
10. Quais as ações tanto da Justiça Eleitoral quanto de sua mais operosa agente do Direito, esta que parece trabalhar em três turnos sem qualquer
intervalo, - a Procuradora Eleitoral Dra. Sandra Cureau - referentes à impressão desses 20 milhões de folhetos?
11. Porque o governador José Serra considerou “irrelevante” o fato de a dona da gráfica de Guarulhos ser, segundo o jornal Folha de S.Paulo, além de filiada ao PSDB desde 1991 irmã do coordenador de infraestrutura de sua campanha, Sérgio Kobayashi? Não seria o caso de buscar do PSDB "algo mais sólido e consistente" que o banal "irrelevante"?
12. Porque um dos lados, sempre que acusa o outro de grossas inverdades, campanhas subterrâneas de desqualificação, e quando apresenta a ficha corrida de elementos gestores de uma ou de outra campanha, recebe como resposta padrão adjetivos ou frases curtas como “Irrelevante”, “Factóide”, “Não vai dar em nada (sic)” e fica por isso mesmo, dando-se por saciado o interesse jornalístico?
13. Porque outro lado, por mais que refute as acusações, apresente dados, relatos circunstanciados, nome e sobrenomes de meliantes, passa a ser visto pela grande imprensa como “informação não confiável”, “ não publicável” ou daquelas que abastecem o extenso rol das “informações jornalísticas a serem sonegadas”?
14. Porque chefes da editoria de Economia & Finanças dos principais jornais e revistas do país não produzem estudos jornalísticos sobre as conseqüências para o Brasil de um salário mínimo que venha a ser rapidamente catapultado para R$ 600,00 ? Quais as implicações para as contas públicas? Como tal aumento impactaria as contas da sempre combalida e deficitária Previdência?
15. Porque a grande imprensa não convoca economistas de renome e lhes oferece espaço adequado em seus veículos para publicar suas análises sobre o impacto de um aumento de 10% a todos os aposentados do Brasil, logo no primeiro trimestre de 2011? Estaria dentro dos princípios que norteiam a celebrada Lei da Responsabilidade Fiscal?
São pautas para professor de jornalismo algum colocar defeito. Quem, em sã consciência, não teria interesse de ver a equação da informação fechar de forma redonda e completa? Se 5% do louvável esforço da grande imprensa para divulgar o chamado Erenicegate fosse aplicado a responder ao menos 5 das questões acima poderíamos considerar que temos no Brasil uma cobertura eleitoral com nota média acima de 5. Portanto, avaliação regular.
E olha que deixei completamente ao relento a esquizofrênica pauta brandida por presidenciável desejoso de asfaltar formidáveis 4.000 quilômetros da rodovia Transamazônica ligando o Estado da Paraíba ao Estado do Amazonas.
E nem mencionei o surto de amnésia midiática para a missa realizafa em Canindé (CE) quando o celebrante praticamente foi desacatado pelo futuro ex-parlamentar Tasso Jereissati aos brados de "padre petista". E tudo isso na presença do ex-governador José Serra. O evento cearense tinha ineditismo, raridade, relevância, importância e senso de oportunidade. Mesmo assim deixou de existir para "os senhores telespectadores" e para o decrescente número de leitores da imprensa escrita.
Deixo também às vicissitudes do tempo, chova ou faça sol, a idéia de se construir uma ponte unindo Recife a Fernando de Noronha (545km) ou a opção mais em conta e não menos exótica e espalhafatosa que a construção dessa mesma ponte agora ligando Fernando de Noronha a Natal (340km). Promessas assim só servem para uma coisa: engrossar o folclore político e populista do Brasil.
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