terça-feira, 22 de junho de 2010

A DOR DE KAKÁ

PAULO VINICIUS COELHO

Anteontem, Kaká deu uma aula de craque, mas perdeu doze vezes a bola. Não é normal.
ACABADA A Copa de 2006, frustração à flor da pele, Kaká declarou com todas as letras que jamais jogaria outra vez com dor. O joelho o incomodava naquele junho de 2006, talvez até mais do que o ambiente carregado de soberba que começou em Weggis, na Suíça, e terminou em Frankfurt, na Alemanha. Kaká começou a Copa confirmando a ideia dos que julgavam que seria ele o mais importante jogador brasileiro. Fez o gol da vitória por 1 a 0 na estreia, contra a Croácia. Depois, murchou.
Pouca gente atribuiu o Mundial médio de Kaká, há quatro anos, a problemas físicos. Ele os tinha. Ninguém leva em conta a frase de Kaká, pouco depois da Copa da Alemanha, para saber se agora ele está ou não está jogando com dor. Por mais que Kaká repita que hoje não tem problemas de púbis, que seu músculo adutor da coxa evolui dia após dia, muita gente duvida.
Na primeira folga da seleção em território sul-africano, o fisioterapeuta Luiz Rosan respondeu a uma das raras perguntas feitas a um membro da comissão técnica. Se Kaká está bem? "Fiquem tranquilos", disse Rosan.
Não ficamos, depois da estreia, contra a Coreia do Norte. Depois da Costa do Marfim...
Bem, o segundo jogo foi uma aula de craque. Aquele jogador que decide tratando a bola com carinho na hora certa, que oferece o gol ao companheiro mais bem colocado, como fez com Luis Fabiano e Elano. Não fosse a expulsão, Kaká poderia até ser eleito o melhor jogador da partida. Mas a avaliação detalhada de seus lances ainda não dá total tranquilidade.
Aos 13min, Kaká tenta a arrancada, é travado na bola e cai. Foi o terceiro erro em uma saída em velocidade. Na partida inteira, Kaká perdeu doze vezes a bola. Não é normal. Símbolo dos contra-ataques mortais da seleção brasileira, Kaká não puxou nenhum contra a Costa do Marfim. Organizou o time, mas com outro estilo.
O cartão vermelho obrigará a espera até as oitavas de final para entender se a Copa de Kaká será como seu jogo contra a Costa do Marfim ou como contra a Coreia do Norte. Atuações iguais à de anteontem indicarão que o craque e a comissão técnica sempre disseram a verdade. Mas a história do futebol é repleta de casos de jogadores que, ao encerrarem a carreira, admitiram que jogaram sentindo velhas lesões na maior parte dos jogos. Foi o caso de Marco Van Basten. Que não seja o de Kaká.

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