LAMBIDO DA FOLHA DE SÃO PAULO.
Peso de máquinas eleitorais explica alianças polêmicas de Serra e Dilma.
Quando Collor chegou ao Palácio do Planalto com vitória sobre Lula, votação em grotões e periferias foi decisiva.
O mapa das últimas cinco eleições presidenciais mostra que é impossível chegar ao Planalto sem as máquinas que controlam os votos dos grotões e das periferias das grandes metrópoles.
A conclusão está em estudo coordenado pelo cientista político Cesar Romero, da PUC-Rio. Ele constatou semelhanças geográficas na votação de todos os vencedores, de Fernando Collor, em 1989, a Lula, em 2006.
"Cada eleição tem sua história, mas as estratégias vitoriosas são sempre parecidas. Ganharam os que foram mais pragmáticos", afirma.
A análise dos resultados por microrregião brasileira mostra que todos os eleitos conseguiram conquistar os grotões, dominados por oligarquias locais, e as periferias urbanas, com forte presença de líderes populistas e pastores pentecostais.
Para Romero, a constatação obriga os candidatos Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) a abraçar o pragmatismo e buscar aliados malvistos pela opinião pública e por seus próprios partidos.
"Por saber disso, os dois têm adotado a mesma tática", analisa. "Esta será uma disputa sem ideologia, de máquina contra máquina."
Como exemplos, ele cita a aproximação de Serra com o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB) e a de Dilma com os senadores José Sarney e Renan Calheiros (PMDB), além do esforço dos dois candidatos para fechar alianças no mundo evangélico.
Os mapas eleitorais de Lula mostram a importância dessas alianças. Após três derrotas, ele se elegeu em 2002 ao se aliar a ex-adversários e aumentar sua votação em grotões e periferias.
Com o peso das máquinas, a discussão programática fica restrita ao eleitorado de classe média das grandes cidades. É apenas lá, segundo o estudo, que o debate ideológico terá alguma relevância na campanha.
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