JOSÉ GERALDO COUTO.
A moda é imitara seleção campeã, mas esta é uma versão piorada do nosso melhor futebol.
DO PONTO DE VISTA estritamente futebolístico (esquecendo portanto a festa, os negócios, a overdose midiática), o que ficou de herança da Copa do Mundo na África do Sul foi o que podemos chamar de "efeito Espanha".
Só se fala em copiar o modelo espanhol, posse de bola, troca de passes, blá-blá-blá. Ora, para começar, nada disso é novidade. Em seus melhores momentos, os times brasileiros, bem como a seleção nacional, praticaram muito bem esse tipo de jogo.
Além disso, sinto dizer, a Espanha não está com essa bola toda. Sei que soa antipático falar isso de uma seleção que se sagrou campeã mundial com todos os méritos, batendo em campo, de modo limpo e incontestável, oponentes fortes como a Alemanha e a Holanda.
Mas o fato é que, por alguma química insondável, a equipe de Vicente del Bosque não foi na África o time que brilhou dois anos antes, na Eurocopa.
O que faltou? Os pragmáticos dirão que não faltou nada, já que a Espanha foi campeã. Mas não estamos falando de futebol de resultados, e sim de futebol, simplesmente.
Portanto, o que faltou? Diz-se que a seleção espanhola é "o Barcelona sem Messi" e talvez aí esteja uma pista para entender o ponto em que os campeões do mundo deixam em muita gente uma sensação de frustração.
O que faltou à Espanha, a meu ver, foi aquilo que o craque argentino encarna como ninguém (além da imensa destreza técnica): o tesão do gol, a gana de vencer, a ousadia de "partir para cima".
A Espanha tem um belo toque de bola e jogadores do mais alto nível, como Xavi e Iniesta. Mas essa troca constante de passes, essas inversões de jogadas, esse "futebol envolvente", em suma, precisa de momentos agudos de quando em quando para não se tornar monótono.
Em outras palavras, faltou fúria à Fúria, time que fez escassos oito gols em sete jogos. A Alemanha, por contraste, marcou oito em apenas dois, contra dois ex-campeões mundiais (Inglaterra e Argentina) tidos como favoritos na África.
Mas a Espanha venceu não apenas a Alemanha mas também a Copa do Mundo. Isso abafa, de certo modo, a minha voz dissonante. O mundo é dos vencedores.
Encerro com uma fala de Eduardo Knapp, fotógrafo da Folha. "Ah, é futebol de resultados?", pergunta ele. "Então, no dia do jogo vou ao cinema. No dia seguinte, abro o jornal e vejo se meu time ganhou (que bom!) ou se perdeu (que pena!)."
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