sábado, 17 de julho de 2010

A NOVELA DE LeBron

RITA SIZA
No fundo, ninguém está a pensar em esporte. Já é tudo só uma questão de dinheiro.
NUM DOS jogos dos playoffs da NBA, contra os Boston Celtics, a performance da superestrela dos Cleveland Cavaliers, LeBron James, não foi espetacular. Ele não jogou bem, e o time perdeu. Agora, o dono da equipa, Dan Gilbert, ressabiado porque o LeBron decidiu mudar-se para Miami, veio dizer que foi de propósito. Que ele tinha "desistido" do time. Mas que acusação idiota -será que alguém crê que um jogador profissional desista de ser campeão?
Pensei que o comentário tinha desculpa, afinal o senhor devia estar transtornado por ter perdido o seu jogador mais valioso. Mas, se calhar, não. Ele também acusou o LeBron de ser "narcisista", "desleal", "cobarde", "fútil". Na verdade, ele parece tão mau carácter que o tal do Gilbert só deve estar aliviado por se ter visto livre dele.
Nos EUA, quando um atleta termina o contrato, passa a ser um "agente livre", com o direito de negociar termos e condições com qualquer equipa. No caso do LeBron, ele pôde escolher ir para Nova York, Nova Jersey, Los Angeles, Chicago ou ficar em Cleveland, onde era idolatrado. A América inteira deu palpites -inclusive Barack Obama, que queria que ele escolhesse os Bulls-, tornando o processo de transferência um verdadeiro folhetim.
Sou fã do LeBron e confesso que segui com inusitada atenção essa telenovela. Infelizmente, como estou fora da América, perdi "A Decisão", o programa especial de uma hora na ESPN feito para que o craque pudesse desvendar qual time iria contar com seus préstimos. Disseram os críticos que o show foi fraco e anticlimático -mas eu desconfio, tendo em conta o gabarito deste enredo.
Maior drama, tensão e intriga era impossível. Em Cleveland, LeBron passou de herói a vilão, sofrendo insultos dos seus mentores e revolta da torcida, que saiu à rua queimando camisetas com seu nome. Depois veio o reverendo Jesse Jackson, do movimento pelos direitos cívicos dos afro-americanos, meter-se ao barulho para dar uma perspectiva histórica e acusar o pessoal de preconceito, racismo e de tratar o LeBron como se estivesse à venda: "Ele não é nenhum escravo que anda fugido".
É quase sempre mau quando um time depende de um único jogador. É pior quando uma cidade fica refém de uma única fonte de renda. A franquia dos Cavaliers perdeu US$ 200 milhões do seu valor de mercado com a saída de James. Para os botecos de Cleveland, que cresceram nos anos que LeBron passou na cidade, o prejuízo é incalculável.
Entendo que as pessoas sintam pena de ver o craque ir embora. Mas, no fundo, ninguém está a pensar em esporte. Já é tudo só uma questão de dinheiro. Longe estão os tempos do amor à camisola.

Nenhum comentário: