Editorial, Jornal do Brasil.
É preocupante a informação de que o prazo máximo para a construção do trem-bala – que ligará as cidades do Rio de Janeiro, São Paulo e Campinas – será o ano de 2017, conforme divulgado ontem, durante o lançamento do edital de contratação das empresas. Se levado até o limite, o cronograma desconsidera a importância do projeto para a realização dos dois maiores eventos do esporte mundial que o Brasil sediará, a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos, marcados, respectivamente, para 2014 e 2016.
O trem-bala já vem sendo discutido há alguns anos, mas não na velocidade necessária e condizente com que transportará passageiros entre as duas principais cidades do país (275 km/h em média). É certo que um projeto de tal magnitude, com investimentos estimados em cerca de R$ 33 bilhões, não pode ser conduzido com pressa. É preciso um estudo aprofundado de viabilidade, que leva em conta obstáculos geográficos (como rios e montanhas), fundiários (envolvendo a complicada questão de desapropriações), políticos (o lobby de cidades que querem abrigar ou alterar os locais das estações previstas) e, claro, financeiros.
Tudo isso justifica, em parte, a demora. Outra parte deve ser creditada à já conhecida burocracia brasileira e à lentidão com que obras são tocadas no país, seja por que governo for. A construção do trem-bala para a Copa do Mundo de 2014 – que seria factível, caso o ritmo fosse o adequado – não será mais possível. Está muito perto. Que se apresse, ao máximo, então, sua inauguração para a Olimpíada de 2016.
Durante o lançamento do edital, que marca o leilão do trem-bala para 16 de dezembro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse acreditar nesta possibilidade, desde que se trabalhe em mais de um turno e até aos sábados e domingos.
O empreendimento do trem de alta velocidade, antes de mais nada, é um projeto de infraestrutura, independentemente da realização da Copa e da Olimpíada. Mas sua realização deve ser tomada como um símbolo da capacidade de organização e de planejamento do Brasil.
Lula, durante a cerimônia do edital, aproveitou para reclamar da pressão da Fifa. A entidade máxima do futebol, logo após terminada a Copa da África, no último domingo, disse estar preocupada com os prazos para o Mundial de 2014, ao cobrar os estádios, aeroportos e melhoria no sistema de transporte.
Para Lula, o tom foi excessivo, como se “nós fôssemos um bando de idiotas que não soubéssemos fazer as coisas e definir as nossas prioridades”. A resposta deve ser entendida como forma de evitar novas e futuras reprimendas que ultrapassem os limites. Mas é preciso compreender também que, se o privilégio de abrigar um evento internacional traz bônus (materiais e imateriais, econômicos ou não, como os créditos políticos que certamente serão reivindicados nas próximas eleições), ele implica igualmente ônus.
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